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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Empresários viram rombo no PIB sem surpresa, mas com preocupação no futuro

Auxílio emergencial e quarentena mal respeitada são vistos como fatores que seguraram consumo

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São Paulo

O rombo de 9,7% no PIB do segundo trimestre divulgado nesta terça (1º) foi recebido com resignação entre empresários, e a ressalva de que teria sido pior, não fosse o auxílio emergencial de R$ 600, mas com preocupação para o futuro. Era esperado, disse Rubens Ometto (Cosan), endossando a declaração do ministro Paulo Guedes de que o resultado é o barulho de um raio que caiu no passado. "A velocidade da luz é muito maior do que a velocidade do som", disse Ometto. ​

Para Horacio Lafer Piva (Klabin), não houve grande surpresa e poderia ser pior. "PIB é fluxo. Tivemos algum consumo pela quarentena mal respeitada, demanda chinesa, mas gradualismo da reabertura ainda sem impacto neste indicador. Indústria e serviços foram sofríveis", disse.

A questão agora, segundo o empresário, é como manter a economia, mas também enfrentar o desequilíbrio fiscal, com reflexos sobre a percepção de riscos futuros e decisões de investimentos. "Volatilidade assim do PIB e 13 anos sucessivos de deficit fiscal são medidas inacreditáveis, coisa de exterminadores do futuro profissionais", afirma Lafer Piva.

Alexandre Ostrowiecki (Multilaser) diz que vê o cenário positivo, de modo geral, mas com alguns sérios pontos de preocupação.

"Por um lado, o governo entrou acertadamente com o auxílio emergencial e as políticas de proteção ao emprego. Isso gerou um certo colchão de amortecimento para o impacto econômico, aliviou em parte o sofrimento dos mais vulneráveis e permitiu às engrenagens econômicas seguirem rodando. Foram medidas inéditas e louváveis. O resultado é que nosso PIB, ainda que em queda, deverá sofrer menos que os da América Latina, União Europeia e outros", afirma.

Para ele, o Brasil conseguiu limitar o aumento do desemprego, mas o país tem uma "absoluta incapacidade" de cortar significativamente qualquer despesa, levando ao estouro das contas públicas.

"Já sentimos a inflação rugindo à distância, o câmbio sofrendo e a percepção internacional sobre o Brasil se deteriorando. Precisamos de um esforço político, apoiado pela sociedade, para desmantelar a camisa de força do orçamento público, que já compromete mais de 93% da arrecadação com despesas obrigatórias. Esse esforço irá inevitavelmente mexer em queijos de grupinhos corporativistas, e só a união de forças amplas terá chance de mover nosso estado paquidérmico para alguns dos cortes vitais de que precisamos", afirma Ostrowiecki.

O investidor Lawrence Pih é mais pessimista. Ele concorda que a transferência de recursos amenizou o rombo, mas acredita que a recuperação vai ser muito lenta e projeta uma queda em torno de 5% do PIB de 2020. Pih, no entanto, considera que a restrição da atividade econômica foi muito menor do que seria aconselhável por epidemiologistas e virologistas.​

"O custo são quase 4 milhões de infectados, o que, certamente, tem uma subnotificação, e mais de 120 mil óbitos. Estes números irão continuar aumentando e isso poderá impactar o ritmo de abertura da economia", diz o investidor. ​

José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Abiplast (associação da indústria do plástico), também avalia que o efeito do auxílio de R$ 600 atenuou o baque da pandemia, mas o pior está por vir. "Agora vem a parte mais importante porque o governo está muito endividado. A dívida no ano que vem vai chegar a quase 100% do PIB, as famílias também estão endividadas pelo grande número de desempregados", afirma.

Passados os primeiros meses da pandemia, Roriz Coelho diz que as cadeias produtivas estão desorganizadas pela mudança no patamar do câmbio, outro sinal a ser acompanhado, segundo ele. "Hoje está faltando matérias primas e as empresas estão com dívidas que foram contraídas nesse período e a juros altos", diz.​

Laércio Cosentino, presidente do conselho da Totvs, diz que o PIB divulgado não capta o que acontece agora nem sinaliza a velocidade de retorno da economia. O empresário afirma que o país deverá ter uma retomada em ritmo razoável, impulsionada pela manutenção do auxílio emergencial.

Por outro lado, Cosentino diz que há um descolamento entre varejo, já mais aquecido, e a indústria, com dificuldade de retomar patamares de antes da crise.

"O varejo, quando a economia reage, tem estoque e entrega. A indústria precisa produzir. Isso requer reativar as fábricas e fazer novas encomendas de insumos". O desafio, diz o empresário, é projetar a demanda futura no meio da crise e obter matéria-prima em momento em que muitos produtos estão em falta no mercado externo.

Para Frank Geyer (Unipar), o país precisa agora destravar projetos como os do Marco do Saneamento e da Lei do Gás. "Isso é priorizar a competitividade, inclusive eticamente, gerando empregos e permitindo um consumo mais justo e saudável”, afirma.

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