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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Doria se opõe a Bolsonaro com discurso pró China e ambiente para atrair investidor

Governador de São Paulo rejeita rótulo de contraponto e enfatiza gestão sanitária

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São Paulo

O embate deflagrado entre o presidente Bolsonaro e o governador de São Paulo, João Doria, nesta semana, por causa da vacina da Covid, se estende para a área econômica.

Questionado, Doria rejeita o rótulo de contraponto ao presidente, mas os argumentos que ele vem usando para tentar atrair investidores ao estado vão na contramão da orientação do Governo Federal.

Além de ver na China um potencial de parceria, o governador afirma que a ênfase na gestão da crise sanitária e da questão ambiental são argumentos capazes trazer recursos.

*

O sr. recomeçou a rodada de reuniões com investidores estrangeiros, e a China está no roteiro. O ruído de Bolsonaro contra os chineses atrapalha a atração de investimento para SP? Não. A China tem uma relação intensa e direta com o governo de São Paulo há 20 anos. E foi muito fortalecida desde o ano passado quando abrimos escritório em Xangai. Visitei autoridades chinesas, ministros, governadores de Pequim, Xangai e os líderes de cooperativas, como a do agro.

Temos uma relação fluída e constante com o embaixador da China em Brasília e com o consulado da China em São Paulo. Nós nos colocamos à parte dessa visão ideológica e politizada do presidente Bolsonaro, que acaba, infelizmente, influindo também no Itamaraty. E fortalecemos a nossa relação no
plano econômico.

Na argumentação para atrair investimento, SP pretende exaltar questões ambientais. É um contraponto com a postura do Governo Federal na área ambiental. Como o sr. trabalha isso? Nós não fazemos isso para ser o contraponto. Fazemos porque é nossa convicção. Não é possível governar sem um plano de proteção ambiental, independentemente da questão dos investidores.

Somado a este fato, São Paulo tem uma boa política ambiental, é signatário do acordo de Paris. Reafirmamos no ano passado na Cop de Madri. Eu, pessoalmente, irei à Cop em Glasgow reafirmar a
nossa posição.

Inclusive, vamos ter uma área de exposição dentro da Cop para apresentar projetos de São Paulo a investidores, projetos de proteção ambiental com investimento público e privado. Isso nos ajuda muito, primeiro, a garantir a confiança de investidores internacionais na
Europa e no Japão.

Nestes dois lugares, se você não tem uma política de controle climático muito clara de protocolos ambientais, os investidores fogem.

É determinação dos investidores porque os fundos são administradores de investimentos, que condicionam que os recursos não se destinem a nenhum país que agrida o
meio ambiente.

Outro argumento que o sr. leva aos investidores é a gestão da Covid. Bolsonaro opta por mitigar o risco sanitário e exaltar o econômico. Como essa imagem afeta a atração do investimento? Infelizmente, é uma situação que prejudica o Brasil enquanto o país não tiver políticas claras no plano ambiental, e agora mais recentemente no sanitário. É preciso que também no plano de atratividade ao investidor internacional, isso seja manifestado de outra maneira. Não essa que o governo tem praticado.

Pelo que está acontecendo [entre Bolsonaro e Doria] nos últimos dias, se essa escalada retórica continuar desse jeito, qual vai ser o nível da campanha de 2022? Muito baixo? Eu, pessoalmente, espero que não. No tuíte que eu fiz, eu disse que o presidente precisa governar, fazer a gestão do Brasil. Ele não faz. Ele só pensa em sucessão, em questões de ordem ideológica e não foca o Brasil.

Ele deveria focar primeiro a saúde do povo brasileiro, depois, a saúde econômica do Brasil e depois em pacificar o Brasil.

O país está conflagrado, há um negacionismo em relação à pandemia, a economia não apresenta bons resultados, a confusão se consolida.

De manhã é ‘vamos privatizar o SUS’. À tarde é ‘não vamos mais mais privatizar’. É falta de planejamento, de interação entre os membros do governo. É errático e conflagrado dentro do próprio governo. Um acusa o outro, diz que patrocina o fura-teto, outro chama de Nhonho.

O pacote de ajuste fiscal do sr. gerou muitas queixas de diversos setores, que reclamam de aumento de imposto. O governo de São Paulo não aumentou nem vai aumentar a impostos. A reforma administrativa reduz alguns benefícios fiscais temporariamente, pelo prazo limite de 24 meses.

É necessário para que o governo de São Paulo mantenha o seu equilíbrio fiscal. Se não o fizer, correrá o risco de entrar em um processo de inadimplência como, infelizmente, já aconteceu com Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro em gestões passadas, mas que estão sofrendo até hoje por causa disso.

Há algumas isenções, e parciais, por prazo determinado. Além disso, a reforma administrativa em São Paulo propôs venda de empresas, redução de estruturas e melhoria da eficiência geral do governo. Foi aprovada pela Assembleia Legislativa.

Como está vendo a segunda onda na Europa com lockdown, que tem um impacto econômico? São Paulo teve um fechamento que gerou muita reclamação de vários setores. Como vislumbra uma segunda onda aqui? O Plano São Paulo, que é o plano de quarentena do Governo de São Paulo, é exitoso.
Fez o que tinha de fazer em um programa de quarentena para chegar ao bom resultado que tem neste momento, com 15 semanas de queda no número de óbitos, de infecções e de ocupação de leitos de UTI.

Graças ao que fizemos, não temos nenhuma perspectiva de lockdown. Estamos falando no dia de hoje. Ainda não sou capaz de prever daqui a dois ou três meses.

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