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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Se leilão do 5G atrasar mais, Brasil vai ficar em situação complicada, diz presidente da Ericsson

Para Eduardo Ricotta, país precisa de um plano para o 5G

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São Paulo

Eduardo Ricotta, presidente da fabricante de equipamentos de telecomunicações Ericsson no Brasil, considera preocupante um atraso do leilão do 5G no ano que vem. Se ficar para 2022, a situação do país em inovação se complica, afirma ele.

O executivo da multinacional sueca evita falar da pressão política contra a participação da Huawei no Brasil. Segundo Ricotta, o país precisa de um plano do 5G que inclua questões tributárias e confiança tecnológica, além da proteção de dados.

Apesar da decisão anunciada pela Suécia na terça (20) de banir os chineses Huawei e ZTE das redes do país, o executivo diz é preciso focar os negócios porque o mercado continua competitivo.

Retrato de Eduardo Ricotta, presidente da Ericsson
Eduardo Ricotta, presidente da Ericsson - Divulgação

*

Como o sr. vê a pressão para deixar a Huawei fora do 5G no Brasil? Eu posso falar da Ericsson, não dos concorrentes. Para ter o 5G no Brasil, primeiro, temos de concluir a questão das regras do leilão. Isso é fundamental para sabermos como vai funcionar cobertura, obrigações, etc.

Temos que saber se vai ser arrecadatório ou de infraestrutura. O leilão com viés de infraestrutura ajuda a população porque possibilita uma cobertura melhor. Precisamos de um plano do 5G no Brasil, com aspectos como a inovação, a disponibilidade de espectro, a cadeia de impostos. Hoje, em telecom, a carga tributária é comparável a tabaco, bebida e joia.

Temos de ter confiança tecnológica, porque são redes críticas. Isso pode parar um sistema de transporte e energia. Tem de ter confiança que não vai ter ciberataque e que vai ter proteção de dados. No 4G, uma gama de serviços foi criada. Acredito que no 5G vai ter inovação com diversos setores da economia. São esses os pontos que temos que olhar.

Mas o viés arrecadatório ganhou importância neste momento? Não, porque no leilão de infraestrutura, o governo consegue arrecadar mais do que no arrecadatório. Temos de olhar a cadeia inteira de impostos. Nós olhamos quanto a frequência vai trazer para o governo.

Em vez de olharmos isso, vamos perceber que, se colocamos o 5G no país, vem um número maior de pessoas falando nessa rede. Tem novos produtos e serviços que geram uma arrecadação maior do que a do leilão.

Estamos falando de coisa de R$ 20 bilhões a mais de arrecadação para o governo em cinco anos. Em vez de olhar só o custo da frequência, temos de ver todo o ecossistema.

E esse leilão sai quando? Vocês ficam frustrados? Eu acho que vai sair no meio do ano que vem, que é o que está programado. A preocupação é ficarmos para trás em inovação. No ranking dos dez maiores países em inovação, tem uma correlação com a tecnologia. Nesses países, a Ericsson tem 17 redes 5G já funcionando.

Acho que ainda dá tempo. Não está nada perdido. Está começando o 5G no mundo, mas não pode passar do ano que vem. Se passar para 2022, aí sim a gente fica em uma situação mais complicada.

Em 2019, vocês anunciaram aporte de R$ 1 bilhão em São José dos Campos. Já está produzindo? Está quase. Não mudamos os planos. Continuamos com o investimento de R$ 1 bilhão nos próximos cinco anos para pesquisa e desenvolvimento e fabricação de 5G no Brasil. A fábrica está praticamente pronta. A princípio, provavelmente, eu vou produzir o 5G aqui para exportar e depois para o mercado local.

A pandemia não atrasou? Atrasou pouco. Tivemos muito problema de componente, de testes. Atrasou importação. Mas a gente quer, até o fim do ano, terminar toda a instalação da linha e começar a produção no inicio do ano que vem.

Nem foi por causa da pandemia. Se a gente quisesse antecipar, até conseguiria. Mas vamos olhando o leilão também e vai fazendo um sincronismo nas datas. Está de acordo com o planejado. A gente sempre deixa seis meses, mais ou menos, de janela. É difícil ter uma precisão.

A Ericsson produz para a China? Não. Nós instalamos equipamentos na China. A Ericsson tem uma participação de mercado importante. Nós somos uma das empresas que detêm a tecnologia 5G e também vendemos para a China.

A Ericsson é uma empresa sueca, que trabalha com a China. Mas a Suécia decidiu banir as chinesas Huawei e ZTE no país. Como vocês receberam isso? Não entramos na questão geopolítica. Está fora da nossa esfera. O que a gente quer é continuar trabalhando e prover a tecnologia com foco nos nossos clientes.
Sempre tivemos um mercado muito competitivo. Vai continuar, independentemente de onde estivermos brigando, inclusive nos Estados Unidos, que são um mercado bem competitivo. Queremos ficar fora dessa discussão geopolítica. Tem muita tensão hoje no mundo inteiro e nós temos que focar os negócios.

Como foi a pressão da demanda no começo da pandemia e como está agora? E o home office? A internet explodiu no Brasil. Tivemos um incremento no tráfego por volta de 30% durante a pandemia. A infraestrutura de telecomunicações nunca foi tão crítica. O tempo de tela aumentou.

Telecom subiu nas prioridades das famílias. Sobre o home office, em dois dias, nós colocamos 82% da empresa em casa em cinco países. Só que a volta é bem mais complexa porque cada país tem uma regra.

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