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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Descrição de chapéu Pix open banking

Plataforma será aberta para quem quiser oferecer produtos e serviços, diz fundador do PicPay

Aplicativo criado por Anderson Chamon multiplicou base de usuários durante a pandemia

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São Paulo

A pandemia do coronavírus fez bem ao PicPay, aplicativo que ostenta a maior carteira digital de pagamentos do país. A procura por serviços financeiros digitais cresceu na quarentena, criando oportunidades para que ele multiplicasse sua base de usuários e se preparasse para movimentos mais ambiciosos.

Fundador e diretor de produtos e tecnologia da empresa, Anderson Chamon diz que seu objetivo é transformar o PicPay numa plataforma aberta, onde qualquer empresa poderá oferecer serviços financeiros e outros produtos, competindo pela atenção e pelo bolso das pessoas que instalarem o aplicativo.

A empresa viu sua clientela crescer neste ano de 12 milhões para 35 milhões de pessoas. Cerca de 13 milhões são considerados usuários ativos, que interagem com a plataforma pelo menos uma vez por mês, fazendo operações ou conversando com outras pessoas. O volume de transações processadas pelo aplicativo atingiu R$ 2 bilhões por mês.

O empresário Anderson Chamon, co-fundador e diretor de produtos e tecnologia do PicPay. - Divulgação

Como vê o aumento da competição no sistema financeiro? Sempre houve grande concentração no Brasil, mas uma série de ações do Banco Central tem criado condições para aumentar muito a competição no mercado. Quando criamos o PicPay, não havia sequer previsão nas normas do BC para contas de pagamento como as que oferecemos.

Houve grande evolução, e isso permitiu o aparecimento de diversos competidores, com grande oferta de produtos. Criou-se um terreno fértil para a inovação, e surgiram serviços que não faziam parte do dia a dia das pessoas antes.

Como vocês pretendem se diferenciar? Depende do valor que a gente conseguir construir em cima da infraestrutura, da nossa base de clientes e das suas interações sociais no aplicativo. Queremos atrair para a plataforma outros provedores de serviços financeiros e fornecedores de outros tipos de produto, construindo um grande marketplace.

O nosso jogo é desenvolver um aplicativo que atenda a outras necessidades que as pessoas tenham em suas vidas, que elas usem para tudo, não só para serviços financeiros. O plano é criar uma plataforma aberta para quem quiser oferecer produtos e serviços para os nossos clientes.

Pretendemos abrir a plataforma até o início do ano que vem. Não haverá contratos de exclusividade, porque achamos que isso acaba prejudicando o usuário. Nossa plataforma será agnóstica.

A pandemia foi boa para o seu negócio? Ela acelerou transformações que se iniciaram antes. As pessoas já estavam deixando de usar dinheiro de papel e adotando hábitos como o de fazer pagamentos pelo celular. Mudanças desse tipo costumam levar tempo, mas o isolamento acelerou muita coisa porque levou as pessoas a buscar alternativas.

Nosso ritmo de aquisição de novos usuários aumentou muito. O comércio informal, os mercadinhos de bairro, pequenos estabelecimentos buscaram a plataforma. Transações sem fins comerciais também cresceram, como doações durante a pandemia.

Quando as lives surgiram como uma fonte de entretenimento, percebemos que era uma oportunidade para alavancar doações e fazer crescer nossa base de usuários. Ganhamos pouquíssimo dinheiro com essas transações, mas elas nos trouxeram um valor muito grande ao acelerar a aquisição de clientes. Nosso futuro depende de um relacionamento de longo prazo com essas pessoas.

Ações de marketing e promoções têm elevado os custos para aquisição de clientes?  É um desafio grande. Não queremos queimar dinheiro. Quanto mais gente embarca no nosso aplicativo, melhor ele fica, por causa do efeito de rede, das interações entre os usuários. Nosso objetivo com esses investimentos é aumentar a base de clientes e amplificar esse efeito.

Houve no passado especulações sobre a abertura de capital da empresa e a entrada de novos sócios. Continuam pensando nisso? A gente se preparou para dar solidez à empresa e ganhar maturidade, para sustentar nossa estratégia. Temos tido conversas, e pode haver alguma novidade em breve nesse sentido.

Que resultados alcançaram até agora com a oferta de crédito no aplicativo? Estamos numa fase de testes, restrita para 50 mil clientes da nossa base. Nossa intenção é oferecer para todos, mas precisamos fazer isso com maturidade. Estamos avaliando os riscos e a experiência dos nossos usuários com o produto.

Oferecemos crédito pessoal tradicional, sem exigência de garantia. Queremos oferecer produtos de outros parceiros depois e estamos discutindo possibilidades de integração com outros bancos. Queremos outros agentes do mercado brigando para oferecer crédito na nossa plataforma.

Os bancos vão ficar assistindo? Acho que no futuro os bancos se concentrarão no desenvolvimento da infraestrutura do mercado, e outros atores serão mais relevantes para a experiência dos clientes e a prestação de serviços. Como acontece na relação entre as operadoras de celular e os aplicativos que as pessoas usam nos seus telefones.

As alavancas de crescimento que fizeram os grandes bancos chegar à posição dominante que têm hoje no mercado não existem mais. Há mais opções fora dos bancos tradicionais, e eles têm agora o grande desafio de se reinventar. Não digo que não vão conseguir, mas o jogo mudou.

Anderson Chamon, 38

Criou a empresa numa incubadora em Vitória (ES) em 2012 com dois sócios, Dárcio Stehling e Diogo Roberte. O grupo J&F, dono do frigorífico JBS e do banco Original, adquiriu o controle da empresa em 2015. Roberte deixou o PicPay neste ano para investir em outros negócios.

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