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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Descrição de chapéu petrobras

Auxílio emergencial sem corte de gasto é suicídio hiperinflacionário, diz empresário

Para Alexandre Ostrowiecki, dono da Multilaser, nova rodada do programa pode evitar colapso econômico

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São Paulo

Alexandre Ostrowiecki, dono da Multilaser, vê demagogia no debate da PEC Emergencial. Para ele o Orçamento deveria ser flexível. “Saúde e educação devem ser pautas prioritárias? Sem dúvida. O valor exato precisa estar incrustado na Constituição? Talvez não”, diz.

Defensor da agenda liberal, avalia que um novo auxílio emergencial pode evitar colapso econômico, desde que acompanhado ​de cortes.

Após a repercussão do ato de Bolsonaro na Petrobras, o empresário (que também é fundador do site Ranking dos Políticos e publicou um vídeo crítico ao gesto do presidente) diz que ainda há otimismo por fatos como a autonomia do Banco Central, mas o tempo está se esgotando.

Alexandre Ostrowiecki, presidente da Multilaser - Adriano Vizoni/Folhapress

A semana teve forte repercussão da ação de Bolsonaro na Petrobras. Você mesmo, pelo Ranking dos Políticos, falou do assunto. Que a lição desse episódio tenha sido aprendida e que o governo se afaste cada vez mais de desastrosas ingerências populistas. Trocar apressadamente o comando da maior estatal brasileira, sinalizando redução de preços na base da canetada, pode soar positivo para o sofrido povo brasileiro que vê o preço da gasolina subir nas bombas.

O verdadeiro problema, porém, não está na Petrobras e sim na carga tributária, que ultrapassa 44% do preço final da gasolina, além do deficit público, que deprecia nosso câmbio, aumenta a inflação e força preços a subirem ainda mais. Sem falar da grande destruição de valor acionário, que prejudica o próprio governo, acionista controlador, e corrói a confiança do mercado de que o Brasil ainda é um lugar sério para se investir.

A médio prazo, esse tipo de medida do presidente só irá piorar a situação, a exemplo do que ocorreu na vizinha Venezuela e aqui no Brasil durante o governo Dilma Rousseff.

E a discussão sobre a extinção do gasto mínimo para saúde e educação no relatório da PEC Emergencial? O que acha? É preciso remover muita da demagogia por trás dessa questão. Saúde e educação devem ser pautas prioritárias? Sem dúvidas. O valor exato a ser investido em cada uma dessas rubricas precisa estar necessariamente incrustado na Constituição? Talvez não.

O orçamento deveria ser bastante flexível e com margem para adaptação por parte dos governos que forem eleitos, sejam de qual linha ideológica forem, de acordo com as prioridades do país para cada momento.

Nossa população está envelhecendo rápido, em linha com o resto do mundo. E se, daqui a alguns anos, precisarmos migrar parte do dinheiro de escolas cada vez mais vazias para o SUS? Por que isso deveria ser impedido pela Constituição? É fácil esbravejar slogans como: educação é o futuro, precisamos investir nos nossos jovens.

Mais difícil é explicarmos por que o Brasil já investe em educação um percentual do PIB maior do que o dos países ricos e, mesmo assim, ficamos na lanterna dos rankings mundiais.

Como avalia a nova rodada do auxílio emergencial? Infelizmente, com a pandemia devorando mais de mil vidas por dia e o desemprego, o nível de sofrimento do povo é insuportável. Isso faz com que uma nova rodada do auxílio emergencial seja essencial para evitar uma espiral de completo colapso econômico.
Por outro lado, o pouco espaço fiscal, que havia um ano atrás, agora se extinguiu e a inflação está rugindo. Qualquer auxílio emergencial desacompanhado de fortes cortes na gordurosa carne estatal brasileira implicará em suicídio hiperinflacionário.

É preciso sim fazer o auxílio agora e obrigatoriamente amarrá-lo a fortes cortes de gastos públicos, privatizações, concessões, reforma administrativa e outras medidas urgentes para que o peso da máquina pública não arraste a economia inteira para o abismo.

Falou-se muito essa semana que o setor privado se desanimou com a agenda liberal. Qual é a sua impressão? Apesar do deslize na Petrobras, acredito que, neste momento, o mercado esteja em modo pagando para ver. É verdade que a agenda liberal avançou pouco até agora, mas a explicação oficial sempre foi a de que seria impossível ultrapassar a barreira de um Congresso ‘hostil’, sob comando de um presidente da Câmara ‘hostil’.

Essa explicação já não se aplica mais, pois o novo presidente, Arthur Lira, foi a escolha apoiada pelo próprio Executivo. Os primeiros sinais são animadores. Pelo menos no campo da retórica e das movimentações, sente-se um novo ritmo vindo do poder público.

Assuntos como autonomia do Banco Central, venda de ações da Vale, privatização de Eletrobras e Correios são exemplos de pautas que podem gerar otimismo. O clima é que agora chegou o momento de o governo se provar digno de cumprir o que prometeu na campanha, pois o tempo para desculpas está se esgotando.

Como o seu setor tem lidado com a pandemia? Temos muita sorte de estar em um ramo, o de eletroeletrônicos, pouco afetado. São produtos essenciais para o mundo do home office, como notebooks, tablets, acessórios e equipamentos de conexão à internet. A demanda continuou. Podia ser muito pior. Só tenho a agradecer.

E a falta de insumos? Ainda está crítica. Alguns componentes chave, como por exemplo memórias e telas de LCD, estão com fila de espera de meses na Ásia e aumento de custo acima de 40% em dólar.

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