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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Hotel de luxo que teve evento de Bolsonaro com mulheres atravessa pandemia com mini casamento

Diretor do Palácio Tangará diz que a demanda de hóspedes paulistanos cresceu no período

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São Paulo

O luxuoso hotel Palácio Tangará, onde aconteceu o almoço de Bolsonaro com as executivas e empresárias mulheres na sexta (30), em SP, está atravessando a pandemia com alta na demanda de hóspedes da própria capital paulista e os chamados mini weddings, festas de casamento para 15 pessoas.

Diferentemente do clima de tensão em que vivem os restaurantes por causa do fechamento no jantar, determinados pelo governo Doria, o Tangará abriu um novo espaço de alta gastronomia ao ar livre e lucra com o café da manhã. "A gente não pode se queixar", diz Celso Valle, diretor do hotel.

O evento para Bolsonaro, em que se serviram ravioli de burrata, tartalette de limão e café com petit four, deu visibilidade, mas não gera outros negócios necessariamente, segundo Valle. O executivo diz que o espaço recebeu cerca de 80 pessoas, mas tem capacidade para mais de 700. Já a resistência de Bolsonaro ao uso de máscara foge do controle.

Celso Valle, diretor geral do Palácio Tangará
Celso Valle, diretor geral do Palácio Tangará - Divulgação

O almoço das mulheres com Bolsonaro no Tangará fez barulho no momento em que o seu setor sofre com o fechamento da pandemia. Como foi? Ficamos fechados de março a setembro de 2020. Reabrimos pisando em ovos e tivemos a grata surpresa de um crescimento expressivo do segmento de lazer individual de brasileiros, especificamente de São Paulo, com 40% acima do pré-pandemia.

Perdemos obviamente os eventos corporativos, uma lacuna grande de demanda que foi parcialmente suprida pelo lazer do público doméstico. Nos beneficiamos das características arquitetônicas do hotel, de espaço ao ar livre.

As pessoas estão ávidas por sair de casa. O segmento que depende de decisão individual dos clientes teve crescimento expressivo, a ponto de limitarmos a venda para não lotar sextas e sábados. Os eventos sociais também tiveram retração enorme, sumiram. Eventos marcados para 2020 foram transferidos para 2021, e já para o segundo semestre, ou alguns para 2022.

Essa incerteza de fase vermelha, limite de pessoas, gera insegurança no contratante. Em janeiro, tivemos casamentos menores, para 150 pessoas, e mini weddings [mini casamentos] para 15 pessoas, que virou tendência. Mas a gente não pode se queixar. Quando reabrimos em setembro, nós inauguramos um novo espaço gastronômico todo ao ar livre.

Esse novo restaurante ao ar livre foi projeto pós-pandemia? Era um desejo que começou a ser discutido antes, um projeto de fazer melhor uso do espaço, mas na pandemia acelerou. Nós não queríamos apagar a luz em março de 2020 e voltar igual em setembro. Tinha que ter coisa nova e algo com peso no momento de retorno.

Um restaurante com 85 lugares ao livre, com três metros entre mesas, caiu como uma luva no perfil de demanda.

Em dez dias o restaurante estava bombando a ponto de limitarmos a venda também. Seguimos o plano SP, contratamos consultoria do Einstein para os protocolos.

Quando fecharam os restaurantes teve reflexo na ocupação dos quartos? Em março, quando veio a fase mais restritiva, em que só quarto podia funcionar, aí é um caos, porque sua ocupação de fim de semana cai de 85% para 18%. Reflexo monstruoso, porque você não sai de casa confinado e vem se confinar no hotel com piscina fechada, restaurante e bar fechados. Você só pode ficar no quarto. Fica sem sentido.

Agora teve essa leve flexibilização com reabertura dos restaurantes no horário limitado. Não é a situação dos nossos sonhos, mas muda da água para o vinho.

Muitos restaurantes reclamaram jantar porque o jantar segue fechado. O carro-chefe dos restaurantes de rua, na maioria, é o jantar. Mas nós temos vários produtos como café da manhã, almoço e chá da tarde.

Voltando ao evento de Bolsonaro, ele não gosta de máscara. Isso deu trabalho para vocês? Nós podemos, entre aspas, interferir, até certo ponto. A partir daí, o espaço é dele. Fechado. Não temos controle sobre o seguimento ou não do protocolo. Mas tem termômetro no acesso. A própria equipe dele tem termômetro.

A sala Cristal, onde eles fizeram o evento, é um espaço com 500 m², pé direito de 9,6 metros de altura e terraços. E a gente respeita a ocupação do espaço.

No pré-pandemia, já fizemos casamento nessa sala, por exemplo, para 450 pessoas. Usando sala e terraço, para 700. O almoço [de Bolsonaro] tinha umas 70 a 80 nessa sala. Somos radicais com as normas, senão facilita a disseminação não só entre hóspedes, mas entre colaboradores. Não tem ganhador nessa história. Ganharemos quando conseguirmos debelar o vírus com vacina e todos os recursos ao nosso alcance.

E o cardápio? Um bufê com funcionário nosso servindo, até para não ter pessoas dividindo talher. Normal, nada demais. Uns almoçaram, outros, não. O ponto alto não era o almoço, era a reunião.

Essa visibilidade gera expectativa de demanda? Toda exposição é positiva, especialmente levando em conta o momento que a gente vive. Mas esse evento em si não gera outros. É pontual. Óbvio que são oportunidades de apresentar o hotel para potenciais futuros consumidores, seja como pessoa jurídica para evento de empresa ou usuário final de final de semana.

Ia ser na casa de um empresário, mas ele está no inquérito das fake news. E mudou para o Tangará?

A demanda desse evento não veio com grande antecedência. Foi uns três dias antes. Não sei detalhe de onde seria. Sei que não seria no Palácio Tangará, aí precisaram de um espaço maior.

Vocês abrem o valor do evento? Parte comercial a gente não abre.

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