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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Fundador da Petz vê aberração em índices de inflação

Para Sergio Zimerman, IGP-M é absurdo e caso de polícia

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São Paulo

Sergio Zimerman, presidente da Petz, diz que está preocupado com o peso da inflação na composição de custos, como as embalagens, e nos materiais para a construção de novas lojas.

Ele reclama dos índices de inflação, diz que a alta do IGP-M é "absurdo, caso de polícia", que tem desgastado as relações entre as partes nos contratos de aluguel e que em breve alguns locatários podem acabar com seus imóveis desocupados.

Para manter o plano de expansão das lojas da Petz, todas elas instaladas em imóveis alugados, ele afirma que a rede contratou consultoria para revisar acabamentos em busca de soluções acessíveis.

Sérgio Zimerman, fundador e presidente da Petz, diz que companhia pretende crescer organicamente, mas está olhando para pequenas redes espalhadas pelo país e startups - Divulgação

Uma loja de 1.000 metros quadrados, pode se feita em 900, e o uso de vidros pode ser substituído por materiais mais em conta, por exemplo.

"Vejo com preocupação o cenário de inflação. Alguma coisa vai ter que acontecer", diz.

Em um mercado tão pulverizado como o de animais de estimação, Zimerman vê muito espaço para consolidação, mas afirma que não vai inviabilizar os pequenos negócios de bairro.

"Existe uma distorção do pequeno negócio no Brasil neste segmento hoje. Ele tem 51% de participação do mercado total. Nos próximos dez anos, deve cair para algo em torno de 25%. Ainda é um quarto do mercado. Mas metade é muito mais uma sinalização de um mercado ainda não profissionalizado com baixíssima concentração das grandes redes", afirma.

Zimerman diz que a Petz pretende crescer organicamente, mas tem uma área olhando para pequenas redes espalhadas pelo país e startups.

O auxílio emergencial provoca algum incremento no seu negócio? Sentiram efeito quando estava alto e depois a queda dele?

Se estivéssemos só em bairros nobres, poderíamos dizer que o auxílio emergencial não tinha nenhum tipo de correlação com o nosso negócio. Mas temos diversas lojas em lugares periféricos de São Paulo. Ficamos atentos para ver se tinha correlação. Não percebemos nenhum aumento importante no faturamento dessas lojas que destoasse do aumento geral.

Mas sempre surgiu uma dúvida, será que elas estavam acompanhando por conta do auxílio emergencial e o que aconteceria com o fim do auxílio? E o que a gente verificou foi que não aconteceu absolutamente nada com o fim dele. No nosso caso e com as nossas lojas, não houve nenhuma evidência de que tivesse favorecido ou prejudicado o consumo.


E a inflação impacta seu negócio?

Vou falar sobre inflação, mas antes vou falar sobre índices de inflação. Teoricamente, era para ser a mesma coisa, mas, infelizmente, estamos em uma excepcionalidade com realidades distintas, em que o IPCA e o IGP-M não refletem a inflação.

O IPCA está descolado da realidade porque tem peso muito forte de serviços, que foi um dos mais prejudicados na pandemia. Não vejo evidência de que, quando as coisas normalizarem, não vai ter repasse e, portanto, uma pressão importante.

No IGP-M, a aberração é maior ainda. É um verdadeiro absurdo, caso de polícia, ter o principal indicador referência para contrato de reajuste de aluguéis em 37%. Tem provocado distorção e desgaste entre proprietários e locatários.

Na nossa percepção, a inflação real não é nem um nem outro. Estimamos algo em torno de 10% a 12%. No caso específico da Petz, a gente mede na rede, a inflação acumulada de 12 meses está em 14%.

Sentimos uma inflação em produtos e na construção civil. A gente reforma e constrói lojas. Tem aumento forte de cimento e aço. Pressionou muito o custo de construção de uma loja. Tem aumentos na área de embalagem, que subiu 3 a 4 vezes de preço. É uma pressão gigante na composição de custo. Vejo com preocupação o cenário de inflação. Alguma coisa vai ter que acontecer.


As lojas de vocês são imóveis próprios ou alugados? Tiveram algum ruído com eles?

São 100% locação. Tem todos os perfis de locadores. Aquele que tem visão de longo prazo, entende que o índice seria absurdo e o IPCA seria mais justo para o reajuste. Tem aquele que pede um pouco a mais que o IPCA. E tem o locador que, na minha opinião, equivocadamente, está se valendo do benefício que o contrato confere e está exigindo a aplicação dos 37%. Não acho que seja sustentável no longo prazo. Amanhã, esse tipo de locador que pensa dessa forma pode ficar com o imóvel desocupado.


O custo para construção de lojas mexe com o plano de expansão de vocês? O plano está mantido desde o começo da pandemia?

O plano de expansão está mantido. A gente pensa muito no longo prazo. Esperamos que essa questão do aumento do custo de construção seja muito mais uma questão pontual.

De qualquer maneira, estamos revisitando todo o processo de padrão de lojas e vendo onde temos oportunidades para eventualmente compensar de alguma forma esse efeito inflacionário no custo da construção. Por exemplo, se hoje vocês faz uma loja com 1.000 metros quadrados, será que dá para fazer com 900 e oferecer a mesma coisa? Pode abrir mão em acabamentos com vidro e fazer outro que diminua o custo. Estamos, exatamente neste instante contratando esse tipo de consultoria para revisitar esses processos.

Mas não queremos nenhum impacto no nosso plano de expansão. Continua sendo muito importante espalhar a marca pelo Brasil todo. Já estamos presentes em 17 das 27 unidades federativas e esperamos chegar nas 27 até 2025.


E a consolidação do setor? É um mercado muito pulverizado. Até onde dá para crescer? Vai inviabilizar os pequenos negócios de bairro e ficarão só os grandes competidores?

De forma alguma eu acho que o pequeno negócio será inviabilizado. Por outro lado, existe uma distorção do pequeno negócio no Brasil neste segmento hoje. Ele tem 51% de participação do mercado total. Nos próximos dez anos, esses 51% devem cair para algo em torno 25%. Ainda é um quatro do mercado. Mas metade é muito mais uma sinalização de um mercado ainda não madura, não profissionalizado, com baixíssima concentração das grandes redes. Se você pegar as três principais redes, duas e mais um online, na parte de produtos não tem mais do que 12% de participação. Para qualquer outro segmento, e uma concentração muito baixa.

Como vocês estão olhando para isso?

Todo o nosso trabalho até hoje foi em crescimento orgânico. O nosso plano base de negócios é crescimento orgânico. O que não significa que nós não estejamos olhando todas as oportunidades do mercado. Não só as que estejam sendo ofertadas, mas de forma proativa o que não está sendo ofertado, mas que a gente entenda que poderia complementar o nosso ecossistema. Temos uma área comandada pelo nosso CFO [diretor-financeiro], Diogo Bassi, olhando ativamente todas essas oportunidades.

Há três grandes frentes no mercado: as transformacionais, que são as três empresas mais relevantes que a gente entende que tem no mercado hoje, que são a Cobasi, a Petlove e a Zee.Dog.

Teria de olhar quem seriam aquisições táticas, pequenas redes de lojas espalhadas pelo Brasil, com quatro ou cinco lojas que potencialmente poderiam nos interessar. Então, a gente analisa isso pontualmente, se o preço fizer sentido.

E tem um bloco muito grande, que é o de startups ou de empresas pequenas, que complementem o nosso ecossistema.

É oferecer tudo o que a gente já faz mas especialmente o que a gente ainda não tem, como dog walker [passeador], dog sitter [cudador], hotel etc. Alguns players de mercado entendem que é só montar uma plataforma tecnológica, como se fosse um marketplace de serviços e ir incorporando. Se fosse para fazer isso, já teríamos feito faz tempo. Mas tem um desafio. Digamos que você vai viajar, deixa seu pet em um hotel e, quando volta, teve um acidente. O marketplace vai te passar o contato do terceirizado como responsável.


Esse é um desafio dos marketplaces em geral?

A lei ampara o marketplace. Mas nós não aceitamos porque não é só uma questão de legalidade. É uma questão de moralidade. É respeito ao consumidor. Se o cliente confia na marca e, quando tem um problema, é jogado para o prestador de serviço, acontece uma profunda frustração. Nós não vamos agir dessa forma. Queremos preparar o nosso ecossistema.

Não é só oferecer. O que queremos é credenciar, descredenciar, fazer acompanhamento para garantir que a chance de você ter problema em um parceiro ou afiliado do nosso ecossistema seja estatisticamente menor do que em qualquer outro lugar. Se houver um problema, quem vai responder vai ser a Petz. Não vai precisar ficar se indispondo, processando terceiro. O consumidor é nosso e a gente vai tratar.

A gente ainda não tem hotel, adestramento, no aplicativo, mas no dia que tiver, pode contratar, porque, se tiver problema, fique tranquilo que a Petz vai responder. A gente não tem pressa no sentido de fazer mal feito.

Estamos tranquilos com os movimentos feitos no mercado porque eles não refletem a forma como queremos fazer. Podemos entrar depois, mas se entrarmos do jeito certo, vamos liderar. Como aconteceu no digital, em que entramos depois e temos posição de liderança hoje no que tange a clientes novos.

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