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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Para atender procura por barcos de luxo, elevamos estoque e turno, diz fabricante

Roberta Ramalho, presidente da Intermarine, afirma que a demanda continua alta

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São Paulo

Para atender a demanda por barcos de luxo que explodiu na pandemia, a Intermarine contratou um segundo turno e se preparou com um nível inédito de estoque de insumos de alto valor agregado. São mais de 30 motores em estoque.

Com dezenas de itens de diferentes fornecedores, a escassez de matéria-prima que atinge muitos setores é uma questão sensível na produção dos barcos, segundo Roberta Ramalho, presidente da empresa. Além de vidro e aço, até espuma faltou.

"Até a compra de motores nós antecipamos e estamos com um estoque de bens extremamente caros para atender as datas de entrega. Essa compra antecipada de tanta coisa nos dá a segurança de implantar um segundo turno, porque não adianta eu estar com o pessoal aqui esperando para poder trabalhar. O objetivo é acelerar", afirma.

Roberta Ramalho, presidente da Intermarine
Roberta Ramalho, presidente da Intermarine - Divulgação

O que aconteceu com o mercado de barcos de luxo na pandemia? Acelerou muito o amadurecimento do mercado náutico, mas trouxe vários problemas, além das questões intrínsecas da pandemia. Nos obrigou a criar um estoque. A Intermarine fez uma compra enorme de motores para garantir as entregas. A gente se adaptou muito rápido. Temos seis fábricas. Produzimos de forma vertical as embarcações, o que nos permite uma agilidade maior e menor dependência de terceiros. Mas o mundo inteiro está com dificuldade em insumos.

Como a quebra na cadeia de suprimentos na pandemia impactou o negócio de vocês? O barco tem de 30 mil a 50 mil itens. Influencia. Nosso fornecimento é global, desde inteligência até insumos. E sofremos desde a matéria prima-básica até os produtos finais. Muita coisa absorvemos na produção, mas tem aço, vidro. Até espuma, foi tudo para colchão de hospital.

Juntou um aumento de demanda de outros mercados com a dificuldade de produzir. Antes, colocávamos um número de pessoas para montar a cabine de um barco. Hoje, tem restrição por ambiente, com protocolo.

Para nós, fazer estoque é sempre caro. Nossos insumos e bens de produção têm valor agregado alto. Como quando começamos a investir em um estoque de motor, por exemplo. Como tomamos decisões pensando no cliente, até a compra de motores nós antecipamos e estamos com estoque de bens extremamente caros para atender a data de entrega.

Essa compra antecipada de tanta coisa nos dá a segurança de implantar um segundo turno, porque não adianta eu estar com o pessoal aqui esperando para poder trabalhar. O objetivo é acelerar.

Há quanto tempo vocês não sentiam essa alta demanda? O setor deve ter vindo de uma sequência de baques em 2009 e em 2014?  O aumento da demanda é geral nesse mercado. Mas a Intermarine está em um segmento específico, de esporte e lazer, e em um nicho restrito. O nosso menor barco é de 45 pés, que é um barco grande. Uma Intermarine hoje pode custar de R$ 5 milhões a R$ 55 milhões, depende muito.

Não dá para categorizar, mas é um cliente que sofre muito mais pela crise de confiança do que a financeira.

Acho que tem uma questão que não tem a ver com mercado. Aprendemos a nos permitir, a valorizar mais a vida, o lazer. Se tem uma coisa que o barco proporciona para quem tem o privilégio de ter um barco é esse vínculo com a vida, com a família, ter uma qualidade de tempo. Juntou três coisas: o privilégio da nossa costa, a restrição de estar no Brasil com esse clique de que a vida precisa ser vivida.

Além disso tem algum outro aspecto que pode ter favorecido, como o patamar dos juros? Com certeza. Se for comparar em dólar, virou um barco barato em relação a outros barcos do mundo para o brasileiro. Com o dinheiro não rendendo tanto no banco e você querendo viver, não viajando, estimula. Mas para o nicho da Intermarine, de um preço alto, a vontade incentiva mais do que a questão financeira.

Você mencionou as incertezas. Como o seu cliente vê esse momento que estamos vivendo agora, com a dificuldade do país na pandemia? Pela primeira vez, eu acho que ele está olhando mais para a família e para ele mesmo, para o tempo, para a vida, do que se preocupando com essas periferias na tomada de decisão do lazer. Dessa vez, não é o que está influenciando. Muitas vezes, eleição, crises políticas, interferiram muito. Dessa vez, não.

A demanda começou a subir em 2020. Continua neste ano? Continua. Não teve nenhuma desaceleração.

Qual é a quantidade de encomendas? Não falamos em números e barcos, mas estou com os dois anos do programa de produção sold out [esgotados]. Para este ano e para o próximo já não consigo absorver. Começamos, neste mês, o segundo turno. Ainda dependemos do insumo para conseguir aumentar a velocidade. Se tivermos fornecimento de material, nosso plano realmente é acelerar e crescer.

Abrir uma nova planta está no radar? Não precisamos abrir uma nova. Temos uma estrutura. O maior pátio náutico da América Latina é da Intermarine. Temos 50 mil m² aqui e ainda um pedaço do estaleiro fica no Guarujá (SP), que é onde fazemos a montagem final, perto da água, e as entregas. Mas para velocidade de produção e tempo, sim, havendo possibilidade e material. Já começamos um segundo turno e temos toda a competência para acrescentar um terceiro.

E o número de contratação? Estamos com mais de 700 colaboradores. No segundo turno, tivemos a contratação de mais de 100 pessoas. ​


Roberta Ramalho
É formada em economia pela PUC-Campinas (Pontifícia Universidade Católica de Campinas). Tem 27 anos e comanda a Intermarine desde 2013

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