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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Descrição de chapéu inflação juros

Governantes são maduros para digerir recado das ruas e ter inteligência emocional, diz executivo

Marcos Maluf, presidente da Necton, diz que espera diálogo entre Poderes

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São Paulo

Apesar da tensão dos últimos dias com os protestos bolsonaristas e o​ ensaio de uma greve de caminhoneiros, Marcos Maluf, presidente da Necton, afirma que a visão a longo prazo é a de que o Brasil ainda é um país com oportunidades.

"Mas é sempre melhor que tenhamos uma pacificação entre os Poderes para que o curto prazo seja menos volátil", afirma ele. Na visão de Maluf, a situação deve se acomodar e os Poderes devem ter mais parcimônia no diálogo.

"Os fundamentos de longo prazo permanecem inalterados e, de certa forma, até melhoraram um pouco. E, no curto prazo, o diálogo entre os Poderes é o melhor que podemos esperar. Acho que os governantes são maduros para digerirem o recado que as ruas entregaram no dia 7 de Setembro e entregarão no dia 12, e representar a população com parcimônia e inteligência emocional", diz.

Ele avalia que a paralisação dos caminhoneiros não estava na conta do mercado financeiro, que viu a Bolsa ter o pior pregão desde março na quarta (8) antes de se recuperar na quinta (9), mas diz que Bolsonaro e o ministro da Infraestrutura, Tarcisio Freitas, conseguiram desarmar a situação.

Para Maluf, a alta na taxa de juros, que a Necton prevê alcançar 8% no final do ano, vai abrir um novo leque de produtos de renda fixa para pessoa física na corretora, e não deve assustar novos investidores que foram atraídos para a corretora com os juros em baixa.

“Às vezes, nos pegamos em uma zona cinzenta de entender que a pessoa que investe em uma corretora é um cliente arrojado, mas não é verdade. Ele pode investir em tesouro direto, em vários outros títulos”, diz.

Marcos Maluf, presidente da Necton
Marcos Maluf, presidente da Necton - Raphael Santiago/Divulgação

Sobre o que aconteceu no 7 de Setembro, o discurso do presidente, as respostas dos outros Poderes e os desdobramentos de lá até aqui, qual vai ser o tamanho do estrago? Eu sou otimista, eu acho que as coisas vão se acomodar e os Poderes vão ter mais parcimônia para se falar. Essas manifestações no dia 7, e agora as marcadas para o dia 12, são democráticas, em que a vontade da população, se for expressada de forma pacífica e sem violência como no dia 7, faz sentido.

Torcemos e esperamos que os Poderes tenham um diálogo fluido entre eles. A fala do Arthur Lira [presidente da Câmara dos Deputados] vai nesse sentido, de que os Poderes possam se comunicar e estar mais perto. Que fique disso uma lição, de que a população pode estar nas ruas em 7 de setembro, ou agora no dia 12, por causas que a interessem.

De tudo o que o mercado já precificava nas turbulências causadas pela crise institucional, tinha um soluço de caminhoneiros na conta? Acho que esse soluço não estava na conta. Talvez tenha sido a piora do mercado no final da quarta (8), mas o ministro Tarcisio de Freitas [Infraestrutura] é razoavelmente hábil, e, com o presidente Bolsonaro, conseguiu desarmar essa situação e os mercados tiveram um cenário positivo nesta quinta (9).

É um cenário [as paralisações dos caminhoneiros] que agora não seria positivo, assim foi visto pelo governo, e os caminhoneiros tiveram muita sabedoria de entender o pleito que o ministro Tarcisio e o presidente Bolsonaro fizeram.

Mesmo com a situação mais controlada, a economia sofre? Qual é o custo desse soluço de greve caminhoneira para o país? Primeiro, eu acho que todo mundo tem o direito de reivindicar seus interesses, sejam os caminhoneiros ou qualquer classe e categoria. O que se assistia não era exatamente uma greve dos caminhoneiros, era uma continuação, pela classe dos caminhoneiros, dos protestos de 7 de Setembro. E foi estancado.

Isso é bom para a população em geral, porque se você tem algum tipo de desabastecimento, você poderia ter outras pressões inflacionárias que vêm tentando ser controladas pelo governo e pelo Banco Central em uma política de alta de juros. Caso essa greve e o desabastecimento ocorressem, o que não ocorreu, geraria impacto.

A visão que temos a longo prazo é que o Brasil segue sendo um país com oportunidades, mas é sempre melhor que tenhamos uma pacificação entre os Poderes para que o curto prazo seja menos volátil.

Os fundamentos de longo prazo permanecem inalterados e, de certa forma, até melhoraram um pouco. E, no curto prazo, o diálogo entre os Poderes é o melhor que podemos esperar. Acho que os governantes são maduros para digerirem o recado que as ruas entregaram no dia 7 de Setembro e entregarão no dia 12, e representar a população com parcimônia e inteligência emocional.​

A Necton disse que iria manter independência depois da compra pelo BTG, como tem sido? Tudo que eles falaram comigo à época, eles cumpriram e enxergaram que os valores da Necton estão alinhados com o que o banco espera para os próximos anos.

Quando fomos comprados pelo BTG, com mais de R$ 16 bilhões sob administração de custódia, foram R$ 16 bilhões que conheciam a gente e os concorrentes, e optaram por ficar na Necton. Hoje, esse número já é maior, passa de R$ 20 bilhões.

Como avalia a concorrência e o movimento de entrada dos escritórios autônomos no mercado de corretoras? O mercado é bastante cíclico. Quando criamos a Necton, tínhamos muitos concorrentes. Se não acreditássemos que o nosso modelo de negócios e o nosso nicho de atuação pudessem ser diferenciais, estaríamos sempre preocupados que o mercado não tivesse espaço para novos entrantes.

Fico feliz com a ideia de grandes agentes autônomos virarem corretores. Sou entusiasta. Acho que o mercado brasileiro está em viés de alta.

O mercado financeiro acordou, esse fenômeno mundial das taxas de juros baixas deve continuar. Não acho que deve ser um problema as taxas de juros terminarem o ano perto de 7%, 8%. Acho que vai continuar essa onda de ter mais oportunidades no mercado financeiro e os agentes autônomos vêm com força, têm o seu diferencial. Eles vão buscar ainda mais um espaço como corretora e é uma concorrência saudável em um mercado que cresce.

Como estão olhando para a alta na taxa de juros? Pode espantar as pessoas físicas que começaram a investir recentemente? A alta da taxa de juros vai abrir um leque de produtos para pessoa física, principalmente para quem tem um perfil mais conservador, mais moderado, que vai ser bem relevante. As projeções tanto do banco como da Necton estão próximas de 8%.

Então, o tesouro direto volta ser um atrativo, outros produtos de renda fixa e de crédito privado, produtos atrelados à inflação. Vai fazer o investidor entender que o lugar de investir é fora da poupança. A parte positiva da poupança, o próprio nome diz, é poupar, mas lá não é o lugar para investir.

Com a taxa de juros mais alta, é papel das corretoras explicar como investir no mercado financeiro pode ser descomplicado. A taxa de juros a 8% fará o seu papel para os brasileiros que querem sair da poupança e ir para a renda fixa, é um ótimo começo para ele se tornar um investidor.

As corretoras estão se preparando para mudar a recomendação de produtos? Já um tempo atrás o André Perfeito [economista-chefe da Necton] tem falado sobre a alta da taxa de juros, e o nosso comitê tem ficado muito atento ao leque de oportunidades que isso traz.

Nossa recomendação para a Bolsa continua lá. No nosso entendimento, existe um upside [potencial de valorização] para o final do ano. Isso não quer dizer que não recomendamos produtos de renda fixa. Não necessariamente agora será só ou Bolsa ou só renda fixa, depende do perfil do cliente. Temos que estar com o leque aberto.

Tem uma lacuna enorme de produtos entre poupança e ações que tem de ser melhor explorada.

Às vezes, nos pegamos em uma zona cinzenta de entender que a pessoa que investe em uma corretora é um cliente arrojado, mas não é verdade. Ele pode investir em tesouro direto, em vários outros títulos.

com Marina Grazini e Andressa Motter

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