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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Comprovante de vacina contra a Covid-19 é tendência em escritório, diz empresário

Segundo Eduardo Migliano, fundador da 99jobs, funcionários também exigem ambiente seguro

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São Paulo

Diante das marcas alcançadas nos últimos dias, de 150 milhões de pessoas imunizadas com a primeira dose e 100 milhões com o esquema vacinal completo, empregadores e seus funcionários se posicionam sobre quem se recusou a tomar a vacina contra a Covid.

Para Eduardo Migliano, fundador da plataforma de recrutamento 99jobs, há uma tendência. Algumas empresas têm pedido comprovante da imunização para receber fornecedores em reuniões. E os trabalhadores vêm exigindo ambiente seguro.

“Quando a maioria está se vacinando, eu não consigo imaginar uma pessoa que não é vacinada entrar dentro de um espaço de trabalho sem que as outras pessoas não se sintam inseguras. As empresas estão se tornando espaços mais políticos, as pessoas estão mais empoderadas”, diz.

Palestrante Eduardo Migliano, com expressão sorridente em frente a uma parede colorida
Eduardo Migliano, fundador da 99jobs - Arquivo Pessoal

As empresas estão preocupadas em pedir comprovante de vacina nas novas contratações? Isso é tendência? Algumas empresas já têm pedido. Outras têm feito vista grossa no sentido de que quem não foi vacinado é colocado dentro de um grupo de risco. Algumas pequenas e médias empresas de tecnologia demitiram pessoas que se colocaram contra a vacina. Ainda é um número irrelevante, mas é uma tendência. Nós, por exemplo, fazemos fotos e vídeos com clientes e a maioria deles está demandando carteira de vacinação como o RG para entrar nos prédios deles. Se você é de fora, se é um fornecedor, eles pedem.

Aqui na empresa, eu criei um grupo interno chamado Todo Mundo Vacinado, incentivando que todos postassem suas fotos de vacina. Foi mais um processo de empoderamento do que de controle. E um posicionamento da empresa a favor de todo mundo vacinado. E eu tenho uma reunião geral em que vou mostrando quando vamos ter 100% da empresa vacinada.

Em novembro, já é esperado que 90% do nosso time já tenha a vacina completa. Já ouvi bastante empresa falando que começou a abrir o escritório a partir de 70% do time vacinado. E há algumas mais rígidas, e eu me incluo nelas, com 90%, no mínimo.

Tem gente perdendo vaga porque não quis ser vacinado? Não conheço ninguém que perdeu uma posição. Mas conheço muitos que se vacinaram porque o negócio estava demandando. Quando a maioria está se vacinando, eu não consigo imaginar uma pessoa que não é vacinada entrar no espaço de trabalho sem que as outras pessoas não se sintam inseguras. As empresas estão se tornando espaços mais políticos, as pessoas estão mais empoderadas, o turnover [rotatividade] está maior por conta da pandemia.

As empresas estão com mais receio e tentam manter seus colaboradores dentro de um espaço mais seguro, depois de tanto que foi falado sobre a saúde global. Muitos perderam seus entes queridos. Essas pessoas vêm com um discurso mais incisivo.

O que acha da ideia de colocar o status de vacinado no currículo? São raras as empresas que têm um posicionamento contra a vacina ou que não querem que as pessoas sejam vacinadas. Existe um entendimento de que, se o profissional estiver colocando isso no currículo, ele quer estar em um espaço onde as pessoa estejam vacinadas. É como se fosse um processo de empoderamento, que tem, obviamente, um viés ideológico, mas que tem a saúde pública.

Ainda não vi isso em números, mas é um assunto polêmico. E as pessoas que se posicionam sobre sua vacina no próprio currículo estão também se posicionando a respeito do que esperam da organização.

O que muda no mercado de trabalho com a pandemia daqui para a frente? Passa a ser um pouco mais empático. Avançamos tecnologicamente, os processos passaram a ser feitos online. Muitas pessoas nunca foram fisicamente ao escritório, nunca viram seus colegas e, mesmo assim, estão contratadas.

Outra coisa que mudou é um cuidado, na seleção, com a saúde mental. É entender se a pessoa está bem, por que ela saiu do outro emprego, se foi por exaustão. O fato de a saúde mental ser um dos tópicos principais da pandemia está ligado a estarmos fazendo multitarefas em demasia. E as pessoas não têm espaço de trabalho em casa. A empresa invadiu a casa.

E essa fenômeno recente, que os EUA identificaram antes, da dificuldade de encontrar mão de obra apesar do desemprego? Temos um apagão de profissionais de tecnologia no mercado. Muitos fazem faculdade de direito e administração, mas não trabalham com isso. São faculdades baratas, que podem ser feitas online, e foram disseminadas. Mas o mercado está precisando?

Todas as empresas estão se tornando empresas de tecnologia. Demanda programador, designer, profissionais de venda de produtos online. São salários que começam em R$ 4.400 e vão a R$ 12.000 com 5 ou 6 anos de trabalho. Essas vagas existem, e o Brasil não consegue fechar.

Além desse apagão, existe um analfabetismo tecnológico. Mesmo que o profissional tenha um celular ou use o iFood, para dentro da indústria e do varejo é mais complexo do que saber ver um mapa e aceitar uma corrida.

Como o turnover é alto, as empresas não melhoram as condições de trabalho e isso faz com que as pessoas não queiram trabalhar nelas. Abri, neste ano, 55 mil vagas para posições mais de operação, e fechei menos de 50 mil. Esse gap se dá por questões estruturais de educação e condições de trabalho.


Eduardo Migliano
É formado em publicidade e propaganda pela Escola Superior de Propaganda e Marketing de SP, com especialização pela Libera Univesitá di Milano na Itália. Atualmente, faz mestrado em inteligência tecnológica e design digital pela PUC-SP. Tem passagem pelo banco ABN AMRO

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