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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Descrição de chapéu mercado de trabalho natura

Avon quer fazer letramento racial com mais de 1 milhão de representantes

Empresa lança projeto para acelerar movimento de diversidade racial

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São Paulo

O trabalho de letramento racial do programa de diversidade e inclusão da Avon, que começou a ser feito internamente com os profissionais da empresa, deve chegar à força de vendas, formada por mais de 1 milhão de pessoas, segundo Daniel Silveira, presidente da companhia. Agora, a Avon lança o projeto Diva para acelerar o processo, como parte da nova etapa do movimento EssaéMinhaCor, iniciado em 2020.

Daniel Silveira, presidente da Avon Brasil
Daniel Silveira, presidente da Avon Brasil - Divulgação

Como a Avon tem tratado a diversidade racial? Quando olhamos a população negra na Avon, temos muito para alcançar. Mas começamos a acelerar esse processo de atração na base da pirâmide trazendo jovens talentos para a companhia. Nas posições de liderança também evoluímos bastante. Estamos avançando, percebemos cada vez mais que esse é um tema que, sim, precisa vir da alta liderança. Mas ele é um tema de todos. Tem que convocar a organização inteira. Não basta só a alta liderança.

Aprendemos que uma coisa é trazer essas pessoas para a organização. Mas depois que a pessoa está dentro, esse ambiente é inclusivo? Fala-se muito da quantidade de pessoas contratadas, mas elas estão felizes aqui dentro? Se sentem potentes, empoderadas, têm espaço para serem quem são? Essa é outra parte da história e que precisa de todo mundo.

Nesse acelerar, em termos práticos, o que vai acontecer? Como esse é um tema urgente e estamos devendo muito, é tudo ao mesmo tempo. Não dá para escolher. Temos que fazer tudo junto. Não tem fases. De um lado, aumentando a inclusão de pessoas e trazendo mais gente para a organização. Depois tem a inclusão, a preparação, a liderança.

O projeto Diva traz a estruturação de um banco de talentos. Eu descobri uma coisa que me chocou: mulheres negras capacitadas que viam uma vaga abrir com título de gerente, em qualquer empresa, não se candidatavam porque pensavam que não iam passar. Ouvi isso de várias mulheres negras, inclusive em processo seletivo.

Por isso, estamos formando um banco de talentos. Na primeira semana, já teve mais de 300 pessoas que se inscreveram. Estamos convocando as pessoas no LinkedIn para elas se autodeclararem, para facilitar a busca de talentos. Vamos trabalhar o letramento racial dos times.

No ano passado, já fizemos com a gerência um primeiro aprofundamento nesse tema e, neste ano, vamos mais, com várias turmas a partir de novembro para letramento racial de todos os públicos,
inclusive da força de vendas.

Vocês vão fazer letramento racial com a força de vendas? Qual é o tamanho disso? 
A força de vendas de colaboradores, que é a nossa primeira etapa da jornada, tem cerca de 700 pessoas, que são funcionários. Não adianta nada eu ir para a ponta sem que as lideranças aqui
estejam bem formadas.

Em uma próxima etapa, começamos a trabalhar com essa rede de mais de 1,2 milhão de representantes. Se tem um lugar em que a diversidade da Avon está representada é nessa rede. Imagine o poder de impacto social que podemos ter convidando essas pessoas a olharem de novo para si mesmas e encontrarem a potência que têm na sua negritude. Trabalhar diversidade na rede é o próximo estágio.

E como vai ser isso? Não é ambicioso esse projeto de comunicação com mais de 1 milhão de pessoas? É ambicioso. Mas imagine o seguinte: temos a capacidade de, a cada duas semanas, de alguma maneira, nos conectarmos com elas para falar de temas de lançamento de produtos, das nossas causas. Estamos nos desafiando a dar esse passo. Não sabemos exatamente como ainda.

Sabemos que essa liderança de 700 pessoas tem um papel fundamental porque são elas que estão no dia a dia com esse 1,2 milhão. E ainda temos as nossas empresárias que também são autônomas, mas cuidam de um grupo de pessoas de 200 a 250 pessoas. Então, é a próxima camada dessa estrutura.

As empresas de beleza têm a particularidade dos produtos, como os rótulos que indicam cabelo normal ou falta de maquiagem para pele negra. Como vocês tratam isso? Isso esteve muito conectado com o nosso movimento do ano passado e virou parte do nosso dia a dia. Trouxemos a nossa pesquisadora dos Estados Unidos, que fez uma pesquisa sobre a pele da brasileira. Entre os tons e sobretons, tem um gradiente que não é encontrado em lugar nenhum do mundo, e os produtos não atendem.

Passamos quase dois anos pesquisando como chegar a esses tons e lançamos no ano passado uma coleção inteira. No ano que vem, vamos para além da maquiagem. Tem produtos para cabelo e outros. Já somos líder em maquiagem para a pele negra, temos quatro vezes mais participação de mercado do que o próximo colocado, e esse mercado ainda é pequeno. Só 10% do mercado de maquiagem está nesses tons para a pele negra.

Isso tudo se acelerou desde 2020 com as mortes de George Floyd e João Alberto, do Carrefour. Veio para ficar? Não tenho a menor dúvida de que veio para ficar. Acelerou demais, mas ainda está lento. E temos o compromisso de acelerar mais. Por isso, mesmo na loucura de aumento de insumo, crise no Brasil, crise política, não vamos parar de falar nisso. Temos desafios de negócios absurdos, mas não vamos parar de falar. Não vamos largar a mão desse tema mesmo no ambiente hostil de hoje.


Daniel Silveira
Graduado em engenharia elétrica, pós-graduado em marketing e mestre em administração, está há 20 anos na Natura. Na empresa, ocupou cargos de alto escalão, incluindo diretor de negócios. Desde fevereiro de 2020, é presidente da Avon Brasil

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