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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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MRV lança trainee para pessoas negras inspirado no exemplo do Magalu

Construtora vai abrir inscrições para seleção de 12 candidatos nesta semana

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São Paulo

A construtora MRV anuncia nos próximos dias a abertura de um programa de trainees exclusivo para profissionais negros. Segundo Eduardo Fischer, presidente da empresa, a meta é tentar assemelhar o perfil dos executivos à estatística da população, e a ação foi inspirada no exemplo dado em 2020 pelo Magalu, que neste ano repetiu o formato.

"Tivemos influência de outras companhias que vieram primeiro, especialmente o Magalu, que nos colocou para pensar. Esse processo todo de ESG, diversidade, é uma jornada de amadurecimento, seja meu, das pessoas, da corporação", afirma Fischer.

Presidente da construtora MRV, Eduardo Fischer - Danilo Verpa - 02.jul.2021/Folhapress

Os critérios de seleção também seguem o modelo adotado pela varejista para eliminar barreiras excludentes. Serão aceitos candidatos de todo o país, formados entre janeiro de 2015 e dezembro de 2021, independentemente da idade.

As inscrições abrem no dia 16 de novembro e vão até 12 de dezembro para 12 vagas com remuneração de R$ 6.500.

Como decidiram fazer o processo? 
Tivemos influência de outras companhias que vieram primeiro, especialmente o Magalu, que nos colocou para pensar. Esse processo todo de ESG, diversidade, é uma jornada de amadurecimento, seja meu, das pessoas, da corporação. E esses inputs externos são importantes. Talvez, se eles não tivessem feito, nem tivéssemos pensado.

De fato, agora, baseado nesses inputs externos, vimos que é um programa que faz todo o sentido do mundo. Olhando para os nossos quadros e nossos clientes, não bate com o mix de executivos da empresa.

Temos um conselho de clientes formado pelos nossos executivos e por alguns clientes para nos ajudar a melhorar. Quando vai fazer reuniões com eles, muitas vezes, desenhamos coisas pensando que são a melhor solução para eles. Mas quando chega lá no usuário final, não interessa.

Eventualmente, você tem ideias achando que são espetaculares para o cliente, mas não é nada disso. Então, acho que esse caminho de aproximar mais o Brasil, os clientes e os colaboradores, com o corpo executivo da companhia, passa a ser algo muito mais estratégico. Acho que esse é um passo nessa direção.

O Magalu tomou medidas como retirar a exigência do inglês ou das faculdades elitizadas nos critérios de seleção. E vocês? 
É a mesma lógica. As dificuldades são iguais. Esse público carrega os mesmos desafios aqui ou no Magalu ou na Bayer, que também fez. Usamos a mesma mecânica em relação a inglês, tempo de formatura.

Estou citando tanto o Magalu porque temos uma conselheira em comum, membro do conselho de administração, que é a Betania Tanure. Ela conta que o resultado foi muito positivo. Quando você dá oportunidade para as pessoas, elas crescem. Você dá os desafios, elas crescem.

Estou muito animado. Essas companhias abriram um caminho que temos orgulho de seguir. Olhando para a MRV, tem um perfil parecido com o do brasileiro. E você olha nos canteiros de obra, e mesmo nas áreas de venda, mas não bate com o corpo executivo. Acho que isso é uma característica, talvez, de todas as companhias no Brasil. É um erro que temos de corrigir.

Eu era contra cota no passado. Quando você começa a olhar, sua vida vai passando. Eu tenho filhos. Eu vejo que a vida deles, na prática, tem muito mais facilidades do que a enorme maioria da população brasileira. Tiveram uma formação que a enorme maioria não teve, têm uma família por trás, eu e minha esposa, que empurramos na direção que achamos certa, desafiamos eles o tempo inteiro. Eles têm vantagens.

Voltando aqui para a indústria, temos um projeto de formação de adultos, e quando eu vou lá na ponta, vejo jovens adultos que estão entrando no sistema, alguns analfabetos. E estou falando de São Paulo. Está errado isso. Temos um desafio monstruoso no Brasil para resolver na educação. O país não muda de patamar se não resolvermos isso. E tem a questão da meritocracia.

Isso mostra que o conceito de meritocracia, usado como um mantra nas empresas, é mal colocado, desgastado?
Ele muda. Vamos chamar assim, de meritocracia amadurecida. Ela só vai até a página dois. Não queremos ter alguém incompetente, sendo bem ou mal formado. Para a enorme maioria das pessoas, é como eu falei, quando você dá a oportunidade, abre um universo na frente dela, que ela não teria, e ela cresce.

Lá na ponta, hoje, um quarto dos nossos engenheiros são mulheres. E recentemente, eu estava em uma obra em Botucatu (SP), em que toda equipe era formada por mulheres. Você vê que a gestão é diferente e, muitas vezes, melhor. O benefício é enorme. É a mesma coisa que eu acredito que vai acontecer aqui.

Teve barulho quando o Magalu lançou o primeiro programa deles em 2020. O que o sr. achou daquela confusão toda, com gente chegando a falar que isso seria barrado na Justiça?

Eu acho que passou. De novo, mérito deles. De fato, abriram o caminho. Sofreram isso, foram corajosos. Não se pode tirar esse mérito do Magalu. Venceram o primeiro desafio porque tiveram de responder, de se posicionar.

Não sei se estava no radar deles que ia ter essa reação negativa de uma parte da sociedade. Só uma parte da sociedade. Então, eles ajudaram as demais companhias a vencer esse obstáculo, porque eu acho que, hoje, essa discussão está vencida. Não espero que terá a mesma reação que eles tiveram. Está consolidado.


Eduardo Fischer
É formado em engenharia civil pela Fumec (Fundação Mineira de Educação e Cultura) e tem MBA em finanças pelo Ibmec. Fischer começou na MRV em 1993 como estagiário. Também atuou como coordenador de obras e diretor-executivo regional da construtora. É presidente da MRV desde 2014

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