A cratera aberta na marginal Tietê, em São Paulo, pelo desmoronamento de um trecho da obra da linha-6 Laranja do Metrô, se transformou em uma discussão sobre a representatividade feminina no setor de infraestrutura.
A Infra Women Brasil, grupo de mulheres fundado em 2020 para defender a diversidade de gênero no setor, se reuniu para manifestar solidariedade às profissionais que foram pessoalmente ofendidas por um vídeo que circulou em rede social nos últimos dias culpando mulheres engenheiras e auxiliares pela cratera aberta nesta terça (1º) na marginal Tietê.
O vídeo que circulou na internet usava trechos recortados de um outro vídeo original produzido pela própria Acciona —companhia responsável pela obra— com depoimentos de profissionais elogiando a presença feminina no trabalho da linha-6. As imagens das mulheres são expostas com legendas que apontam nomes e cargos, e o vídeo fake traz mensagens que ironizam a fala delas como se fossem responsáveis pelo desmoronamento. O deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, foi uma das pessoas que divulgou o vídeo em suas redes sociais.
Ainda não há informações definitivas sobre as causas do acidente. O presidente da Acciona é homem.
Isadora Chansky Cohen, presidente do Infra Women, afirma que o vídeo zomba das profissionais e as expõe.
"Não podemos silenciar diante disso. Somos uma associação que justamente dá visibilidade para mulheres atuantes em infraestrutura. O Infra Women nasceu de algumas mulheres que se encontravam nos seminários do setor. E sempre éramos as únicas na mesa entre 20 e 30 homens. Começamos uma busca para conversar sobre como promover essa representatividade. E hoje somos 700", afirma.
Cohen diz que o grupo de mulheres defende que a diversidade no setor contribui para melhorar a construção das políticas públicas. "Diversidade é pluralidade e é uma entrega de melhores serviços para uma população que é diversa. Se a população é diversa, os tomadores de decisão também precisam ser. É um desserviço um vídeo como este, que associa essa tragédia ao fato de haver mulheres envolvidas na construção da obra. É calunioso, difamatório, é um retrocesso", diz Cohen.
O Sindicato dos Engenheiros da Bahia também manifestou seu repúdio ao vídeo, assim como o Instituto de Engenharia que disse ser" inadmissível que esse tipo de mensagem seja compartilhada por qualquer pessoa".
"É um desserviço à sociedade, à evolução e um verdadeiro desrespeito e discriminação às profissionais envolvidas, quer engenheiras ou não", diz o instituto, em nota.
Após a repercussão do vídeo, a Acciona também publicou uma nota de repúdio. "A empresa considera o conteúdo misógino e extremamente desrespeitoso com nossas colaboradoras."
com Andressa Motter e Ana Paula Branco
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