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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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'Nossa intenção é parar de vender cigarros', diz presidente da Philip Morris no Brasil

Fabricante aguarda a aprovação da Anvisa para lançar seu produto sem combustão

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São Paulo

A Philip Morris, que no ano passado anunciou a meta de extinguir a venda de seus cigarros ​Marlboro no Reino Unido, aguarda a aprovação da Anvisa para lançar no Brasil o seu novo produto de tabaco sem combustão.

Com um dispositivo eletrônico usado para aquecer o refil de tabaco sem fazer fumaça, o produto é parte do projeto para eliminar o consumo do cigarro tradicional no mundo e vender alternativas menos nocivas, segundo a Philip Morris, que também adquiriu em 2021 uma empresa de remédio para asma.

Nossa intenção é parar de vender cigarros

Manuel Chinchilla

presidente da Philip Morris no Brasil

Manuel Chinchilla, presidente da Philip Morris Brasil desde 2018 - Divulgação

Como vai a transformação na Philip Morris? Nossa empresa, globalmente, está fazendo uma transformação da indústria. Sem dúvida, o cigarro mata. É um produto que gera impacto negativo.

Estamos com um propósito muito claro de parar de vender cigarro tradicional. Essa é a transformação que estamos acelerando. Temos uma meta para 2025, que é: 50% da nossa receita vai ser da categoria que chamamos de sem fumaça, que não tem combustão.

Começamos neste processo há cinco anos. O problema principal no fumar é o fato de ser queimado. E um dos produtos que temos agora é aquecido, não é queimado.

A queima gera combustão e libera substâncias nocivas para a saúde. Com esse processo, conseguimos desenvolver produtos que evitam a combustão. Minimiza o impacto negativo. Estamos em mais de 70 países com a nova categoria. Estamos fortes na Europa Ocidental, no Japão. Já começamos nos Estados Unidos, em países da América Latina, Colômbia, México. Hoje, 30% da nossa receita global vem dessa nova categoria.

A meta é outra para o Reino Unido? Nossa intenção é parar de vender cigarro. No Reino Unido, fizemos uma declaração muito clara: queremos parar de vender Marlboro lá. O processo lá está acontecendo muito rápido. É importante estar engajado, isso ajuda a fazer essa mudança de uma categoria para outra.

E o Brasil? É um mercado muito importante. É um país influente na região e no mundo. Começamos esse processo aqui também. Fizemos pedido do registro específico do Heets, que tem o tabaco, e o dispositivo eletrônico, chamado Iqos, que evita a combustão. Ele só aquece o tabaco. Já começamos conversas com a Anvisa, fizemos o pedido do registro formal. Estamos otimistas.

Por que o Reino Unido deve atingir a meta antes? Começamos essa jornada há cinco anos. O primeiro passo foi Japão, Itália e Suíça. Basicamente era um modelo para tentar ver o impacto, a aceitação do consumidor. Estou falando do fumante. Nosso foco é converter o fumante a essa nova categoria. O Reino Unido entrou na segunda onda de lançamentos, mas está mais adiantado.

Qual é a previsão para o Brasil? Em que ano vão deixar de vender? É difícil falar isso. Tem mercado que, nos próximos dez anos, não vamos mais vender cigarros. E tem mercados, como o Japão, em que já estamos com 50% a 60% da receita na nova categoria. Está acelerado.

Nós gostaríamos de ter o Brasil nessa jornada e acelerar. Temos aqui no Brasil mais de 20 milhões de fumantes. Seria um impacto positivo. Mas acho que pensar em uma década é um bom desafio.

Obviamente, não podemos fazer isso sozinhos. Temos que ter aprovação do regulador e entendimento da sociedade para poder acelerar e fazer essa conversão dos fumantes para essa nova categoria.

Isso é do ponto de vista do consumo, mas, nessa transição, como ficam as plantas da Philip Morris no Brasil? Reduziria o porte do ponto de vista da produção? A produção de fumo do Brasil já está sendo usada para essa nova categoria no mundo. Hoje, já estamos exportando tabaco brasileiro para o Heets.

Usa mais tabaco ou menos? Usa menos em quantidade, mas não é o mesmo tabaco. Precisa trabalhar especificações. Tem mudanças no processo. Gera maior valor no tempo para o produtor do Brasil. No Sul, temos mais de 50 mil famílias de produtores independentes. Isso gera um impacto social importante. Esse processo traria benefícios para a cadeia de valor.

Recentemente vocês anunciaram a aquisição de uma empresa de produto para asma. Qual é a perspectiva disso? Como nos últimos anos a gente começou essa transformação, precisou de muito investimento em pesquisa e desenvolvimento, muito trabalho sobre produtos de terapia de inalação. Nesse caso, um aerossol e não fumaça. Isso nos levou a aprender muito dos mecanismos de inalação. Surgiram outras oportunidades. Tem uma linha muito interessante de terapia de inalação que não seja de nicotina.

Estamos muito ativos nessa área porque acreditamos que isso vai fazer parte da estratégia de longo prazo. Temos meta pública para essa categoria na nossa receita além da nicotina. Também fizemos investimento em uma empresa no Canadá para usar a planta de tabaco para outros fins, inclusive terapêuticos. Estamos explorando outras áreas.

Como os movimentos antitabagistas avaliam o novo produto? Não é fácil, mas sou otimista. Tem reações misturadas. Depende do país e do grupo. Alguns acolheram positivamente a evolução. O problema negativo de fumar é tão grande que requer várias soluções. Não simplesmente parar de fumar, que é a melhor solução, obviamente. Tem alternativas que podem ajudar a gerar esse impacto.

Raio-x
Presidente da Philip Morris Brasil desde 2018, com passagens por venda e marketing. O executivo é doutor em administração pela IE Business School, com mestrado pelo IMD (Instituto Internacional para o Desenvolvimento Gerencial) e tem diploma de direito da Universidade de San Pedro Sula, em Honduras

Joana Cunha com Andressa Motter e Ana Paula Branco

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