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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Descrição de chapéu inflação

Inflação restringe compra de coleira para pets, mas ração premium é mantida, diz Cobasi

Segundo Paulo Nassar, presidente da rede, segmento é resiliente porque lida com afeto

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São Paulo

Depois da alta na adoção de animais na pandemia, uma tendência que já se acomodou, a inflação atingiu o mercado pet.

Segundo Paulo Nassar, um dos fundadores da Cobasi, o consumidor restringiu a compra de brinquedos e outros supérfluos para os bichos, mas não trocou a ração premium por mais barata.

Imagem mostra Paulo Nassar, um homem branco, usando camisa azul e calça cinza. Ele está sentado em um sofá, com as mãos entrelaçadas.
Paulo Nassar, presidente da Cobasi - Arquivo pessoal

O atual cenário de inflação e juros não tem sido bom para o mercado pet. Como estão lidando? Falando especificamente do nosso setor, a inflação tem impactado, desde o ano passado, a correção de custos de mercadorias revendidas pela Cobasi, basicamente, pet food [ração], farmácia veterinária, acessórios. Também como importadora, a Cobasi teve impacto de alta de dólar no ano passado.

A Cobasi está em um cabo de guerra constante com fornecedores desde o ano passado, evitando repassar isso para os consumidores. Tem impactos de aumento de commodities agrícolas, principalmente insumos de pet food, que não tem como segurar.

É aumento de milho, soja, farelo de carne, de arroz, que são insumos na fabricação de rações. A indústria ficou muito pressionada e, por consequência, teve que repassar esses aumentos. Tivemos aumento de energia também, que é muito considerável como insumo da indústria.

Mas a inflação dos produtos revendidos pela Cobasi está mais ou menos com o IPCA. Poderia ser maior, não fosse a nossa eterna briga com fornecedores para conter esses aumentos. A gente calcula que seria da base de 15% a 18% e conseguimos reduzir isso entre 6% e 7%. Lá na ponta, o consumidor tem pressão inflacionária no bolso e isso reduz o poder de compra dele.

Como é a sensibilidade desse consumidor à inflação? O mercado pet é bastante resiliente. Estamos lidando com afeto, com nossos animais de estimação e plantas. Quando envolve afeto, as pessoas, às vezes, deixam de comprar algo no orçamento da família para manter o do pet.

Mas a gente sente, neste ano e no ano passado, uma mudança de comportamento do que é prioritário. Os clientes focando em alimentação, em manter pet food. Não vimos cliente trocando de ração premium e super premium para rações mais básicas. Acho que isso está mantido e é muito bom, mesmo por que a Cobasi, na grande maioria das lojas, trabalha com público A, B e B menos.

Esse público, apesar de ter uma restrição de orçamento, focou em fazer compra de pet food, higiene e beleza e farmácia veterinária, antipulga e outros medicamentos, mas na parte de supérfluos, coleiras, brinquedos, houve uma restrição de vendas. Os clientes estão deixando de comprar ou comprando em menor quantidade esses produtos e priorizando aquilo que é essencial.

E a euforia da época da quarentena, das pessoas que não tinham pet e acabaram adotando. Isso se acomodou? A pandemia trouxe isolamento, que trouxe necessidade de afeto enorme. Quem nunca teve um pet pensou em ter. E a gente inclui nisso as flores e plantas. Esse boom já aconteceu. Ele mudou. Estávamos todos isolados em casa, a proximidade dos animais foi muito grande.

Hoje, temos ONGs que são nossas parceiras na colocação de animais abandonados nos lares. As pessoas continuam adotando, mas em menor número.

Recentemente vocês fizeram parceria com setor imobiliário para parque de pet? Tem espaço para isso em condomínio? Com a verticalização de grandes cidades como São Paulo e a criação de condomínios com várias torres, criou-se a necessidade de uma área de lazer para os pets nesses condomínios.

A Cobasi fechou parceria com a Trisul. Em um empreendimento deles na zona oeste, nós vamos estar junto da construção criando um pet park para esse condomínio.

Hoje, alguns condomínios já são construídos com uma área de banho self-service, para as pessoas que moram lá descerem com seus cães e gatos. É uma tendência que está se consolidando. Algumas construtoras já perceberam. Está virando padrão de mercado na implementação de novos condomínios.

Como está o plano de expansão de vocês? A disparada do aluguel na pandemia impactou o planejamento de novas unidades? A maioria dos contratos de locação de novas áreas, novos pontos comerciais, sempre foi regida pelo IGP-M. Quando disparou, nós renegociamos com os proprietários a troca do índice por IPCA. Houve uma adesão grande. A média de correção aqui deu entre 10% e 12%.

Nosso plano de expansão está mantido, apesar do ano desafiador, de inflação e juros altos. A Cobasi sempre cresceu via caixa próprio, com dívida zero, e continua. Ano passado, a gente tinha um plano de abrir entre 35 e 40 lojas, abrimos 38. Em 2022, estamos com plano para 40 novas lojas. Está sendo entregue, e o segundo semestre é mais positivo para nós. Tem uma venda sazonal interessante.

Tem aquisição no horizonte? Tem análises, a gente tem um comitê de M&A [fusões e aquisições]. Ele se reúne a cada 15 dias. Vem muita oferta e a gente analisa. Mas poucas fazem sentido, ou quase nenhuma.

Adquirir empresas para tentar agregar o ecossistema é o desejo de todo varejista. Muitas vezes, não faz sentido. A gente não pode perder o nosso core [negócio principal], que é ser varejista e especialista. Para nós, não faz sentido adquirir indústria, nós somos varejistas.


Raio-X

Presidente e cofundador da Cobasi, o empresário trabalha na varejista de produtos e serviços para animais de estimação desde meados dos anos 1980 ao lado de seus irmãos João e Ricardo Nassar. Economista formado pela FEA USP, ele também estudou na Califórnia

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