Painel S.A.

Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Painel S.A.

Participar da Parada LGBT ajuda a ter ambiente de trabalho mais igualitário, diz multinacional

Fabio Costa, que comanda Salesforce no Brasil, vai a evento com funcionários neste domingo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Fabio Costa, o executivo que comanda a operação brasileira da empresa de software Salesforce, se reúne com funcionários e parceiros da companhia na manhã deste domingo (19) e depois segue com o grupo para a Parada do Orgulho LGBT, na avenida Paulista.

A presença da empresa no evento, segundo ele, contribui para o esforço em elevar a diversidade no escritório e o debate na sociedade.

Fabio Costa, general manager da Salesforce Brasil - Divulgação

Por que é importante o mundo corporativo marcar presença em um evento como esse? Isso tem a ver com representar a sociedade em que estamos inseridos. Se você tem diversidade que represente a sociedade na organização, você cria produtos melhores e tem condição de atender melhor essa sociedade. Sem diversidade, não tem inovação.


Se você quiser uma sociedade que evolua e empresas que progridam, é fundamental ter o debate aberto. E ele só vem com perspectivas distintas, algo que se consegue com diversidade. Não é só para a empresa. É a sociedade como um todo. No debate aberto, todos têm voz.

Quando foi a primeira vez que a Salesforce se colocou na parada e o que mudou de lá para cá? Temos um grupo que trata do tema na Salesforce desde 2014. Participamos da parada em 2019. Foi importante, mudou a capacidade de escuta dentro da empresa.


Questões de viés no ambiente de trabalho acabaram sendo reduzidos. Você aumenta a possibilidade de as pessoas se posicionarem da forma como elas são e, principalmente, avançarem na carreira dentro da organização. Gera uma população mais educada sobre o tema internamente. Se pensarmos que esse é um fator para se enxergar o outro e ter escuta, acho que foi um passo gigantesco para a gente.

A consequência disso é que, se há maior consciência dos vieses que acontecem na organização e na sociedade, e você internaliza um ambiente mais igualitário, a justiça para as promoções fica muito maior. Você cria uma organização mais transparente e mais justa nas oportunidades.

Outra coisa: se você tem isso acontecendo dentro da organização, as pessoas passam a ser mutiplicadoras fora dela, na sociedade. O objetivo não é só educar na organização. É fazer de cada funcionário um multiplicador.

Esse movimento é puxado pelo exterior? O Brasil tem condição de ser motor disso? Os exemplos do Brasil são muito interessantes. Ainda tem no Brasil um resto do estereótipo de ser uma sociedade inclusiva, sem polarizações raciais, de orientação sexual etc. E isso é falso.


Por outro lado, quando a gente olha como a abordagem do tema tem sido feita dentro das organizações que dão mais atenção para isso, tem sido uma abordagem construtiva, o que ainda não acontece tanto em outros países onde ainda tem polarização. Nos Estados Unidos, por exemplo, tem uma tensão com o tema, eu diria, maior do que no Brasil, apesar do momento que a gente está vivendo hoje.

No Brasil, tem uma capacidade de diálogo enorme dentro das organizações.

Algumas indústrias estão muito atrasadas nesse debate. Há setores mais atentos? O setor de tecnologia é um deles? Não tenho dúvida de que o segmento de tecnologia, até em função da origem na costa oeste americana, tem esse tema muito avançado se comparado a outros. Mas não tem nenhum segmento hoje que não tenha atenção ao tema. Não dá para dizer que algum seja menos sensível.

Agora, uma coisa é você ser a favor da causa. Outra coisa é você conseguir executar, na sua política diária e na sua operação, formas de fazer com que isso se torne realidade. O segmento de tecnologia, pelo menos até o momento, é mais simpático ao público do que outros segmentos. Eu diria que todo mundo tem que se desenvolver mais, inclusive a indústria de tecnologia.

O Brasil tem um desafio de trabalhar a questão da inclusão, de orientação sexual, gênero e racial, ao mesmo tempo em que tem de enfrentar temas importantes como fome e educação. Teremos que juntar em um único bloco. O nosso cuidado é colocar o tema não como algo isolado, mas como inclusão social.

A parada de domingo é um carro-chefe muito importante, não só para defender a inclusão desse grupo, mas para servir como uma bandeira muito forte, e esse grupo é muito articulado, para defender a inclusão de todos. Econômica, social, na educação.

No Brasil, como a gente tem vários problemas para resolver, esse tipo de articulação é extremamente importante.

Com a chegada do governo Bolsonaro e depois a pandemia, que levou a parada para o virtual, teve algum impacto? O que espera do evento neste ano? Passamos dois anos presos em casa. Pensávamos que íamos sair melhores do ponto de vista da identidade humana, sobre o que significa ser humano. Talvez essa pauta não tenha avançado tanto quanto esperávamos após uma experiência global tão impactante quanto a pandemia.


Foi uma vida de bolha. Com a comunicação pelos meios eletrônicos, você fica invisível para a outra bolha. A volta do evento torna visível também para quem não é da bolha. As pessoas só têm voz se elas existem. Se ninguém as vê, elas não têm voz.

Ainda não há lugar melhor do que o mundo real para você ser visto. A volta do evento presencial é importante para esse grupo mostrar que continua presente, que é volumoso, que não vai desaparecer e que ainda vai crescer mais.


Raio-X

Diretor-geral da Salesforce Brasil, onde trabalha desde fevereiro de 2019, o executivo tem bacharelado em processamento de dados na PUC-RJ, PhD e mestrado em administração de empresas pela mesma instituição, além de graduação no General Management Program da Harvard Business School

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.