Paola Minoprio

Diretora de pesquisa do Instituto Pasteur de Paris, coordenadora da Plataforma Cientifica Pasteur – USP, conselheira de comércio exterior da França.​

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Paola Minoprio

Costureiras de toda a Nação, Uni-vos!

Máquina de costura parece ser uma alternativa contra a guerra epidêmica e contra a fome da economia

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Foi assim que o professor Erney Plessmann de Camargo, isolado em seu sítio nos arredores de São Paulo, se posicionou no e-mail que me mandou esta semana. Médico formado na USP onde foi mais tarde pró-reitor, exilado pelo golpe militar de 1964, com sólida carreira acadêmica, científica e administrativa adquirida no Brasil e no exterior, ex-presidente do Conselho Nacional da Pesquisa (CNPq) e membro do Conselho Superior da Capes, continua como sempre o conheci: engajado!

Num momento inusitado, onde os cientistas parecem falar ao vento e fazem mais que o possível para que governos percebam que o isolamento e o distanciamento sociais são as melhores armas que temos para vencer a pandemia de coronavírus, constato que coisas simples são esquecidas.

O mundo esta gripado e a economia mundial já começa a resfriar. O que faz então o governo central e alguns de seus adeptos “eleição-dependentes”? Evocam a vulnerabilidade do Brasil face a imensos problemas econômicos, à explosão da pobreza e à desvalorização do real. Estes atores, insensíveis ao horror causado pela Covid-19 no mundo, preconizam a saída do isolamento e o retorno às atividades, desrespeitando noções básicas de controle de epidemias, ferindo o bom senso fundamental e necessário para que milhares de vidas sejam salvas.

Em paralelo, do ponto de vista sanitário, a classe médica, os cientistas e a OMS pedem atenção redobrada. O Brasil ganhou três semanas em relação ao início da epidemia na Ásia e na Europa, tendo oportunidade para se preparar e pôr em prática o isolamento social, cujo efeito, mesmo que por pouco tempo, foi sentido em capitais mais populosas. Sem sombra de dúvida, nestas duas próximas semanas, caminhamos para o famoso pico epidêmico e será criminoso minimizar e ironizar o impacto que a saída do isolamento precoce terá sobre o colapso do nosso sistema de saúde e a obrigação de escolher os pacientes que deverão ser salvos.

Bem lembrado pelo amigo Brieuc Pont, cônsul da França no Brasil, não se poderia ignorar dados e perder o caminho percorrido até agora na quinta cidade mais populosa do mundo. Porém, a polarização política reinante é alimentada por estatísticas por vezes redundantes.“The only statistics you can trust are those you falsified yourself" ("As únicas estatísticas confiáveis são aquelas que você mesmo pode adulterar!", em português).

Esta citação apócrifa, pois erroneamente atribuída a Winston Churchill, não deixa de ser cômica e se aplica muito bem ao passionalismo atual que nos impede de ver o óbvio: o coronavírus se transmite principalmente pelas pessoas infectadas e pelas portadoras assintomáticas por meio de gotículas expelidas pela fala, espirros, tosse e, eventualmente, aerossóis. O número de casos assintomáticos, mas que transmitem o vírus, cresceu nos últimos dias em decorrência da irresponsabilidade de alguns e o que vemos hoje é indecoroso.

É simples! O comércio de máscaras está esgotado? O governo espera estoques chineses? Quer que o povo volte ao trabalho? Que clame as costureiras a produzirem máscaras, milhares delas! Nenhuma máscara substitui o isolamento social, mas nada é pior do que ver tanta gente de bandeira verde e amarela, espalhando o vírus, sem máscaras, de bicicleta, correndo, manifestando ou em filas, se aglomerando.

Costureiras do Brasil, uni-vos! Relancem a economia! Não será a primeira vez que terão uma missão artesanal na história do Brasil. Não foram vocês que costuraram os escudos no uniforme dos pracinhas da Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial? A máquina de costura parece, então, ser uma arma alternativa contra esta guerra epidêmica e contra a fome da economia! Pena que o povo tem memória curta, quer mais dinheiro para a ciência, mas não dá ouvidos aos cientistas.

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