Paola Minoprio

Diretora de pesquisa do Instituto Pasteur de Paris, coordenadora da Plataforma Cientifica Pasteur – USP, conselheira de comércio exterior da França.​

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Descrição de chapéu Coronavírus

Cultura e flexibilização!?

Talvez falte conhecimento ao brasileiro para entender a gravidade da crise atual

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Muito se falou recentemente sobre as medidas não farmacológicas contra a infecção pelo coronavírus, tais como o uso de máscaras, a higiene restrita e distanciamento social em prol do achatamento da curva de transmissão.

Poderíamos pensar que a empatia do povo brasileiro se traduziria por uma maior sensibilização perante o sofrimento do próximo e à tragédia mundial causada pela Covid-19. Mas a realidade é outra.

Imediações do Parque Ibirapuera, que concentraram pessoas no super feriado paulistano, voltaram concentrar gente neste domingo (31)
Imediações do Parque Ibirapuera, que concentraram pessoas no super feriado paulistano, voltaram concentrar gente neste domingo (31) - Mathilde Missioneiro - 20.mai.2020/Folhapress

Apesar da ciência epidemiológica e das semanas ganhas pelo Brasil para se preparar em relação aos países europeus, a falta de cultura e de liderança nos colocou no quarto lugar entre os mais afetados.

Talvez falte mais conhecimento ao brasileiro para compreender a gravidade da crise sanitária atual ou, ainda, falte maior habilidade às autoridades para comunicar, sensibilizar e planejar soluções eficazes para o controle da Covid-19.

A retomada da economia está sendo vista pelos nossos governantes para esta semana que entra. A reabertura do isolamento se vê gradual em cinco fases!

Se com a quarentena vigente ainda hoje, o índice de isolamento em São Paulo do último sábado (30) foi de 39%, o que será quando a "retomada consciente" for efetiva?

Os parques fechados não serão reabertos tão cedo, mas o brasileiro, com consciência e cuidado com seus semelhantes, conseguiu dar seu jeitinho como se viu no Parque Ibirapuera neste fim de semana. Paulistanos se aglomeraram tomando sol às beiras do lago, do lado de fora do parque fechado, margeando a avenida!

Além da falta de semancol, autoridades decidiram iniciar a flexibilização num momento em que o Brasil tem meio milhão de casos confirmados.

De 30 mil óbitos no país, o número de mortos na capital paulista se iguala ao da Índia, segunda maior população do mundo, seis vezes maior que a do Brasil. Neste período pandêmico, o país alcançou a façanha de ser o segundo com mais casos confirmados e é hoje o líder mundial de mortes de profissionais da saúde.

Portanto, isto não só denota a perfeita incompreensão da situação epidêmica e da gravidade da pandemia, como a ignorância da força letal assustadora das grandes epidemias que atingiram a humanidade.

Seja na revolução industrial, com a epidemia da cólera, nas guerras civis, com a peste e o tifo, ou nos primórdios da Primeira Guerra Mundial, com a gripe espanhola, essas calamidades fizeram continentes inteiros tremer mais de uma vez.

O vírus da varíola surgido nos primeiros grupamentos agrícolas há milênios, provocou milhões de mortes. A peste, em 1641, causou a morte de quase 40% da população chinesa e, junto com a malária, acabaria por derrubar a grande dinastia Ming, que governou a China por quase três séculos.

A colonização das Américas, no fim do século 15, começou com o efeito devastador da febre amarela, trazida da África por navios negreiros. Entre 1888 e 1897, a peste bovina matou 90% do gado africano, acelerando sua colonização pela Europa. De 1918 a 1919, a gripe espanhola, pandemia mais mortal da história originária da China, contaminou mais de um terço da população mundial matando mais de 30 milhões de pessoas.

Qual a parte da desgraça vivida mundialmente ainda não foi compreendida pelo Brasil? As epidemias são ameaças que enfraquecem a ordem pública, social e econômica, criando incertezas que afetam a capacidade das autoridades públicas de compor uma resposta relevante. Enquanto uma ação concertada não for posta em prática pelo povo e pelos três poderes, o isolamento parcial e as barreiras das cidades não serão suficientes para conter o coronavírus.

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