Paola Minoprio

Diretora de pesquisa do Instituto Pasteur de Paris, coordenadora da Plataforma Cientifica Pasteur – USP, conselheira de comércio exterior da França.​

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Tomarei todas!

Grupos contrários à vacina anticoronavírus ganham terreno em meio a falácias

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Paola Minoprio

Parece que o povo brasileiro está num mato sem cachorro. Sem estratégia e intervenção claras do Ministério da Saúde, informações errôneas sobre a transmissão do coronavírus e um presidente que não dá exemplo, ainda se ouve que os impactos da Covid-19 serão sentidos por até dois anos!

Não bastasse a chegada do vírus, a ideia de conspirações invade as redes sociais e um movimento perigoso ganha terreno—o dos anti-vaxxers, ou anti-vacinas. Uma relação parece existir entre acreditar em complôs e não querer se vacinar... Mas essa falácia não é uma característica nossa.

A revista Lancet, renomada no mundo científico, mostrou que 26% dos franceses eleitores da esquerda e da extrema direita, não tomariam vacina contra o vírus. Esse descalabro tem paralelo nas crenças ideológicas da Itália e da Polônia.

A Universidade de Oxford revelou numa recente publicação que as crenças conspiratórias com o vírus e a desconfiança com as diretrizes do governo levam 12% dos ingleses a recusar uma vacina e 18% a desaconselhar familiares a tomá-la.

Nos EUA, 30% dos americanos não veem utilidade na vacinação e 38% dos alemães se recusariam a tomar uma vacina que seja imposta pelo governo.

Nas manifestações verde-amarelas em prol do fim do isolamento, não se vê ninguém clamando por vacinas! Entretanto, só as vacinas levarão à imunidade coletiva e libertarão o país deste vírus infernal!

Há 15 dias havia no mundo pelo menos 147 candidatos vacinais. A GAVI, aliança pública-privada mundial para o desenvolvimento de vacinas, com apoio da Fundação Bill & Melinda Gates, OMS, Banco Mundial e Unicef, se comprometeu a comprar milhões de doses para países pobres garantindo que comunidades vulneráveis sejam salvas.

Um acordo foi assinado com a farmacêutica britânica AstraZeneca para fornecimento de 300 milhões de doses da vacina de Oxford que, com a maior chance de sucesso, tem previsão de disponibilidade dentro de um ano. Hoje, sete outras preparações vacinais da China, Suíça, Estados Unidos ou da França estão em testes clínicos e predizem uma produção comercial entre o 2° e o 4° bimestres de 2021.

Para que uma imunidade de rebanho seja atingida será necessário vacinar 60-90% da população mundial, ou seja, pelo menos de 4 a 7 bilhões de pessoas. Se todas essas vacinas funcionarem e forem produzidas a todo vapor, apenas 1,5 bilhão de doses seriam disponibilizadas e seis meses seriam necessários para uma campanha de vacinação.

É consenso mundial que a infecção pelo coronavírus provoca uma resposta imunológica que não é duradoura. Então, independente de quais vacinas serão bem sucedidas, o importante é que além de estimular a produção de anticorpos e células tóxicas ao vírus, elas induzam uma “memória” imunológica que seja desencadeada a cada nova infecção.

Desde a vacinação de Louis Pasteur, com o vírus da raiva atenuado, e a variolização de Edward Jener, com as pústulas de varíola bovina, as vacinas evoluíram muito.

Por exemplo, na vacina de Oxford, o gene do spike, aquele espinho que ajuda o coronavírus a entrar nas células humanas, foi inserido no material genético de um adenovírus de resfriado que leva a vacina para o trato respiratório.

A vacina alemã e a americana são baseadas no gene inteiro do spike ou em apenas seus fragmentos. A chinesa, por sua vez, usa o vírus inativado em cultura de células de rim de macaco. A novidade é que todas as vacinas em teste induzem respostas rápidas de anticorpos e de células que limpam o tecido infectado.

Assim, pessoal, com ou sem cachorro no mato, plagiando Erney Plessmann de Camargo, professor da Universidade de São Paulo, “respeitados os intervalos necessários, eu tomarei todas, chinesas, inglesas, americanas e alemãs.”

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