Paola Minoprio

Diretora de pesquisa do Instituto Pasteur de Paris, coordenadora da Plataforma Cientifica Pasteur – USP, conselheira de comércio exterior da França.​

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Paola Minoprio

Mulheres querem ter voz ativa no mercado de trabalho

Desigualdade nas oportunidades, assédio e discriminação ainda dificultam maior inserção feminina em posições de topo

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A letra de “Roda Viva”, do Chico, contrariamente ao que se pensa, não tinha nada a ver com política, mas, sim, fazia referência a um cantor padronizado pela televisão.

Uma peça foi montada com o mesmo nome para o teatro Ruth Escobar, em 1968. A peça despertou uma organização paramilitar anticomunista, de extrema direita, composta de estudantes universitários e intelectuais da época, que invadiu o teatro, destruindo tudo e espancando os atores…

A gente estancou de repente ou foi o mundo então que cresceu? Como se perguntou Philippe Kourilsky, no seu livro “O Manifesto do Altruísmo”, “o que vai acontecer no cerne de uma sociedade organizada por uma diversidade de pontos de vista individuais sólidos? Produzirá uma cacofonia social?”

Não sei responder, mas, enquanto alguns suspiram os velhos tempos em que crianças podiam trabalhar, outros lembram que, apesar de um lugar crescente no mundo do trabalho, as mulheres são ainda minoritárias em cargos de alto escalão ou de decisão. A diferença de gênero é uma barreira que entrava a carreira da mulher e constitui uma indiscutível realidade mundial.

O “glass ceiling”, ou “teto de vidro”, é uma expressão que apareceu nos EUA no final dos anos 1970 para designar obstáculos vividos por mulheres para subir na hierarquia profissional. Na verdade, é uma metáfora representando um teto invisível que as impede de galgar níveis mais altos na carreira.

Entre os pontos mais estudados e mais complicados de resolver, está o fato de mulheres cada vez mais diplomadas se posicionarem no campo de profissões mais conceituadas, no entanto são os homens que continuam ocupando postos de poder, de gestão e de decisão.

A ambição e a competitividade parecem ser qualidades mais masculinas, bem como o carisma, a combatividade, o poder e a autoridade. No entanto, quando uma mulher expressa estas qualidades já é tipificada como autoritária, depreciadora, implicante, ou ainda, pouco competente em gestão de pessoal.

O preconceito de gênero mostra também que mulheres são mais sujeitas que homens a assédio e práticas discriminatórias.

A gente quer ter voz ativa, no nosso destino mandar, mas eis que chega a roda viva e carrega o destino pra lá… A articulação entre vida privada e profissional é também complexa e induz a mulher a descontinuar sua carreira, ou escolher um trabalho a tempo parcial. Isto leva os homens a pensar que as mulheres põem suas carreiras em segundo plano…

Essa harmonização das mulheres no meio profissional cada vez mais varonil as leva a uma maior dificuldade para se beneficiar de redes de contatos profissionais tipicamente masculinas.

Entreter estas redes sociais leva muito tempo, o que, via de regra, as mulheres não têm a perder. Mulheres então passam a ter uma menor ambição para evitar o “custo psíquico” e escolhem, por causa disto, profissões menos prestigiáveis.

A pergunta que não quer calar é por que, a competências iguais, os homens conseguem chegar lá e não as mulheres? Essa desigualdade de chances se tornou capital no mundo da pesquisa, não só na sociologia do trabalho e das organizações, em estudos de gênero, no campo político e, sobretudo, na luta contra a discriminação.

Pela visibilidade que alcançou, inúmeros relatórios e estudos são destinados à discussão da desigualdade de tratamento das mulheres no desenvolvimento de suas carreiras.

Para que essa cacofonia social dos novos tempos possa se resolver, uma política voluntarista das empresas, universidades e poderes públicos é necessária para dar à mulher o espaço que realmente merece no mundo do trabalho. Faz tempo que a gente cultiva a mais linda roseira que há, mas eis que chega a roda viva e carrega a roseira pra lá...

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