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Descrição de chapéu alimentação

Gastronomia social dialoga com futuro do trabalho e inclusão produtiva

Devemos fomentar profissões tecnológicas, mas não podemos esquecer da potência do empreendedorismo social

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David Hertz

Chef e empreendedor social, cofundador da ONG Gastromotiva e do movimento Social Gastronomy

Uma das tendências fortemente impulsionadas pela pandemia aponta que a ênfase em atividades profissionais tecnológicas comprometerá o crescimento de empregos com média e baixa qualificação. Comparando estimativas anteriores à crise sanitária global, feitas em oito economias, vê-se que houve um impacto negativo sobre os trabalhadores de serviços de alimentação, por exemplo.

Em contrapartida, a demanda por trabalhadores das profissões de saúde e de stem –acrônimo, em língua inglesa, para ciência, tecnologia, engenharia e matemática– tende a crescer exponencialmente.

ONG Gastromotiva forma cozinheiros e criou cozinhas solidárias durante a pandemia
ONG Gastromotiva forma cozinheiros e criou cozinhas solidárias durante a pandemia - Alexandra Karmirian

Essa análise compõe o relatório "O Futuro do Trabalho Após a Covid-19", conduzido pela McKinsey & Company, e serve como alerta para economias como a brasileira, por afetar, prioritariamente, a população mais vulnerável.

À luz da inclusão produtiva, conceito que classifica a geração de trabalho e renda de maneira estável, relativamente duradoura e decente para a população em situação de pobreza, a constatação dessa ênfase em profissões tecnológicas em detrimento de atividades em setores como a alimentação é preocupante.

Em especial, para aqueles que acreditam que o futuro do trabalho deva passar pelo respeito às escolhas individuais e, ainda, pela necessidade de articularmos a visão de um mundo sustentável no qual todas as pessoas tenham segurança alimentar.

É aqui que, na minha percepção, entra a gastronomia social e o seu protagonismo na inclusão produtiva.

E aqui cabe contar a história da Claudia Queiroga, que ingressou no curso "Empreenda, Faça e Venda", ministrado pela ONG Gastromotiva.

Com o objetivo de empreender com uma receita de bolo de pote que herdou da avó, ela participou do programa de formação em cozinha social e teve o primeiro contato com o conceito de empreendedorismo social.

Em uma conversa, Claudia contou sobre o quanto esse conhecimento permitiu que ela lançasse um novo olhar para a cozinha, para o alimento e para o ser humano.

Essa foi a faísca de transformação para que Claudia projetasse a primeira escola de gastronomia social do Engenho Rainha, bairro da zona norte do Rio de Janeiro. Hoje, ela está construindo uma cozinha próxima à sua residência para receber alunos e beneficiários dos projetos que serão desenvolvidos no espaço.

A iniciativa pode inspirar uma nova geração de empreendedores –sobretudo de empreendedoras sociais. Claudia costuma dizer, inclusive, que as mulheres já nasceram com esse talento de empreender.

Na Gastromotiva, temos orgulho das histórias que ajudamos a contar no Brasil, no México, na África do Sul e em El Salvador, territórios onde atuamos. A ONG nasceu, justamente, para que as pessoas pudessem transformar as próprias realidades por meio da formação profissional e da geração de renda na área gastronômica e do empreendedorismo.

Articulando pessoas, movimentos, parceiros e setor público, a organização trabalha na promoção da gastronomia social para impactar sistemas alimentares dos territórios, impulsionar desenvolvimento local e o protagonismo das pessoas.

Uma atuação, inclusive, que visa construir uma sociedade com comida e oportunidades para todos –e respeito ao planeta.

Hoje, por meio de cursos profissionalizantes, já formamos gratuitamente mais de 7.000 jovens para o mercado de trabalho; oferecemos educação nutricional para 100 mil pessoas; evitamos o desperdício de mais de 300 toneladas de alimentos; e criamos cozinhas solidárias que distribuíram, desde 2020, pelo menos 2 milhões de refeições gratuitas a pessoas em situação de insegurança alimentar.

Claro que devemos fomentar profissões de cunho tecnológico, tendo em vista a construção desse futuro que queremos. Mas não podemos esquecer (ou diminuir) a potência da gastronomia social.

Na Gastromotiva, acreditamos no poder transformador do alimento para enfrentar questões sociais e ambientais como desigualdades econômicas, desemprego, desnutrição, fome e desperdício (que abrange todos os níveis da cadeia de produção, do plantio ao preparo das refeições) para fortalecer comunidades e melhorar a vida de indivíduos e de suas comunidades.

Dentro da lógica da inclusão produtiva, a gastronomia social está associada ao trabalho digno que propicia autonomia de transformação, gerando uma vida com qualidade e o aumento da produtividade nos territórios. Alimento é mais do que comida!

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