Entre notícias desafiadoras nos últimos tempos, venho hoje celebrar. Tive a felicidade de retornar ao Vale do Jequitinhonha e percebi que já se passaram dez anos desde que eu e Mariana Madureira fomos finalistas do Prêmio Empreendedor Social de Futuro.
Desde então, integramos a Rede Folha de Empreendedores Socioambientais em razão do trabalho que desenvolvemos com o turismo de base comunitária como alternativa de geração de renda, empoderamento feminino e aumento de autoestima.
O tempo tem passado rápido, como diz minha filha Maria Luiza com seus dez anos. Mas não podemos deixar de manter a esperança e o olhar apreciativo para as conquistas coletivas.
Em 2010, a Raízes Desenvolvimento Sustentável buscava impacto positivo em seus projetos e fazia transição para um negócio social. Hoje essa é uma opção conhecida, mas naquele ano era um modelo ainda raro.
Nós e mulheres de dois povoados rurais —Campo Buriti e Campo Alegre, em Turmalina (MG)— e integrantes de duas associações comunitárias decidíamos empreender com grupos de visitantes, que depois consolidaria o roteiro "Do Barro à Arte".
Evoluímos juntas uma proposta de programação, no qual a cerâmica, que em 2018 foi reconhecida como patrimônio cultural de natureza imaterial de Minas Gerais, seria o fio condutor.
O visitante passa por todo processo: busca o barro, modela, oleia, pinta e, finalmente, queima sua peça para levá-la para casa. Cada uma destas etapas se transformou em uma oficina remunerada.
Entre as sessões, refeições intercaladas nos quintais das artesãs, também gerando renda e troca de experiências, além da hospedagem, onde cada visitante é recebido no que chamamos de "receptivos familiares", ou seja, integra a família das artesãs durante sua estadia por lá.
Nos últimos dez anos, o roteiro foi operado e promovido. Primeiro pela Raízes e depois pela Vivejar, agência e operadora especializada em experiências turísticas responsáveis no Brasil, fundada por mim.
Além disso, empreendedoras e criativas, as artesãs tomaram para si mais possibilidades de atividades e seguem recebendo diretamente os visitantes. As oficinas, hospedagem e refeições passaram a fazer parte dos serviços oferecidos tanto pelas famílias como pelas associações.
Inúmeros grupos, visitantes independentes, passaram a hospedar os lojistas. Com isso, o artesanato foi ganhando força e valorização. Melhoraram os preços das peças, captaram recursos, ampliaram as lojas, negociam encomendas com grandes varejistas.
Aquele estigma de que o Vale do Jequitinhonha era um bom lugar para atravessadores comprarem barato, em função da extrema necessidade de quem vende, vai sendo deixado para trás. Hoje elas têm bom acesso à internet, perfis nas redes sociais e negociam individual e coletivamente suas peças.
Um fenômeno que chamou atenção foi ver os empreendimentos familiares crescerem por escolha. Se antes as filhas se casavam e seguiam no artesanato por falta de opção, hoje elas estudam e seguem trabalhando com as matriarcas por livre escolha.
É o caso da família de Zezinha, de Deuzani e de Anísia. A última boa notícia que tive por lá é que a prefeitura de Turmalina confirmou que o asfalto vai finalmente chegar.
Uma demanda antiga que vai melhorar tanto o acesso à comunidade como o escoamento da produção. Esse é o turismo que acredito. Aquele que torna os lugares melhores para se viver e se visitar, nesta ordem.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.