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O turismo que torna o lugar melhor para viver e visitar

Negócio reconhecido no Prêmio Empreendedor Social de Futuro deixa legado de transformação no Vale do Jequitinhonha

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Marianne Costa

Turismóloga, fundou a Vivejar e a Raízes Desenvolvimento Sustentável, que foi finalista no Prêmio Empreendedor Social de Futuro em 2012

Entre notícias desafiadoras nos últimos tempos, venho hoje celebrar. Tive a felicidade de retornar ao Vale do Jequitinhonha e percebi que já se passaram dez anos desde que eu e Mariana Madureira fomos finalistas do Prêmio Empreendedor Social de Futuro.

Desde então, integramos a Rede Folha de Empreendedores Socioambientais em razão do trabalho que desenvolvemos com o turismo de base comunitária como alternativa de geração de renda, empoderamento feminino e aumento de autoestima.

Com apoio de negócio social, mulheres artesãs usam cerâmica para incentivar turismo no Vale do Jequitinhonha (MG)
Com apoio de negócio social, mulheres artesãs usam cerâmica para incentivar turismo no Vale do Jequitinhonha (MG) - Andre Dib

O tempo tem passado rápido, como diz minha filha Maria Luiza com seus dez anos. Mas não podemos deixar de manter a esperança e o olhar apreciativo para as conquistas coletivas.

Em 2010, a Raízes Desenvolvimento Sustentável buscava impacto positivo em seus projetos e fazia transição para um negócio social. Hoje essa é uma opção conhecida, mas naquele ano era um modelo ainda raro.

Nós e mulheres de dois povoados rurais —Campo Buriti e Campo Alegre, em Turmalina (MG)— e integrantes de duas associações comunitárias decidíamos empreender com grupos de visitantes, que depois consolidaria o roteiro "Do Barro à Arte".

Com apoio de negócio social, mulheres artesãs usam cerâmica para incentivar turismo no Vale do Jequitinhonha (MG)
Com apoio de negócio social, mulheres artesãs usam cerâmica para incentivar turismo no Vale do Jequitinhonha (MG) - Andre Dib

Evoluímos juntas uma proposta de programação, no qual a cerâmica, que em 2018 foi reconhecida como patrimônio cultural de natureza imaterial de Minas Gerais, seria o fio condutor.

O visitante passa por todo processo: busca o barro, modela, oleia, pinta e, finalmente, queima sua peça para levá-la para casa. Cada uma destas etapas se transformou em uma oficina remunerada.

Entre as sessões, refeições intercaladas nos quintais das artesãs, também gerando renda e troca de experiências, além da hospedagem, onde cada visitante é recebido no que chamamos de "receptivos familiares", ou seja, integra a família das artesãs durante sua estadia por lá.

Nos últimos dez anos, o roteiro foi operado e promovido. Primeiro pela Raízes e depois pela Vivejar, agência e operadora especializada em experiências turísticas responsáveis no Brasil, fundada por mim.

Além disso, empreendedoras e criativas, as artesãs tomaram para si mais possibilidades de atividades e seguem recebendo diretamente os visitantes. As oficinas, hospedagem e refeições passaram a fazer parte dos serviços oferecidos tanto pelas famílias como pelas associações.

Inúmeros grupos, visitantes independentes, passaram a hospedar os lojistas. Com isso, o artesanato foi ganhando força e valorização. Melhoraram os preços das peças, captaram recursos, ampliaram as lojas, negociam encomendas com grandes varejistas.

Aquele estigma de que o Vale do Jequitinhonha era um bom lugar para atravessadores comprarem barato, em função da extrema necessidade de quem vende, vai sendo deixado para trás. Hoje elas têm bom acesso à internet, perfis nas redes sociais e negociam individual e coletivamente suas peças.

Um fenômeno que chamou atenção foi ver os empreendimentos familiares crescerem por escolha. Se antes as filhas se casavam e seguiam no artesanato por falta de opção, hoje elas estudam e seguem trabalhando com as matriarcas por livre escolha.

É o caso da família de Zezinha, de Deuzani e de Anísia. A última boa notícia que tive por lá é que a prefeitura de Turmalina confirmou que o asfalto vai finalmente chegar.

Uma demanda antiga que vai melhorar tanto o acesso à comunidade como o escoamento da produção. Esse é o turismo que acredito. Aquele que torna os lugares melhores para se viver e se visitar, nesta ordem.

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