Patrícia Campos Mello

Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA. É vencedora do prêmio internacional de jornalismo Rei da Espanha.

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Patrícia Campos Mello

De olho na previsão do tempo, Hillary luta contra o 'já ganhou'

A candidata democrata Hillary Clinton deve estar rezando para São Pedro.

Segundo o estudo "The Republicans Should Pray for Rain: Weather, Turnout, and Voting in U.S. Presidential Elections", cada 25 milímetros de chuva reduzem em um ponto porcentual o comparecimento dos eleitores nas eleições.

Nos Estados Unidos, ao contrário do Brasil, o voto não é obrigatório. Por isso, os candidatos precisam convencer seu eleitor a sair de casa e enfrentar a fila na seção eleitoral —num dia que nem mesmo é feriado.

E o eleitor americano não precisa de muito para desistir de encarar uma urna.

Na eleição de 2008, em que Barack Obama gerou entusiasmo recorde entre jovens e negros, o comparecimento foi de 57,1% da população com idade para votar. Em 1996, na reeleição de Clinton, só 49% se dispuseram a exercer seu direito cívico.

O estudo —de Brad T. Gomez da Universidade da Geórgia, Thomas G. Hansford da Universidade da Califórnia e George A. Krause da Universidade de Pittsburgh— mostra que os eleitores das classes mais baixas são os que têm maiores dificuldades para ir às urnas e são mais afetados por trânsito, custos etc. "Para muitos cidadãos, a imposição de pequenos custos adicionais (como a chuva) pode levá-los a se abster."

E esses eleitores menos abonados são voto fiel dos democratas.

Segundo o estudo, na controversa eleição de 2000, caso o tempo estivesse melhor, Al Gore teria vencido na Flórida —o que o levaria a derrotar o republicano George W Bush.

Richard Nixon teria ganho em outros sete Estados, contabilizando mais 105 votos do Colégio Eleitoral, se tivesse chovido ou nevado mais no país no dia da eleição em 1960.

Além de torcer para um 8 de novembro ensolarado, a campanha de Hillary tenta acabar com o clima de "já ganhou".

Como a democrata vem aumentando sua vantagem sobre Donald Trump nas pesquisas —na média compilada pelo site Real Clear Politics, ela está 5,7 pontos à frente do republicano—, o receio é que muitos eleitores de Hillary achem que a eleição está ganha e não saiam de casa para votar.

A campanha de Trump aposta nisso. E tem como um de seus principais objetivos "suprimir os votos" de três blocos com que Hillary conta para ganhar: liberais idealistas brancos, mulheres jovens e negros.

Ao mencionar no debate os vazamentos dos e-mails da campanha de Hillary pelo WikiLeaks e seu apoio à Parceria Transpacífico, Trump queria desanimar o eleitor de Bernie Sanders.

Ao levar para o debate mulheres que afirmam ser vítimas de assédio de Bill Clinton, o objetivo era fazer com que as mulheres jovens fiquem em casa no dia da eleição.

E mirou no eleitorado negro, que historicamente tem baixo comparecimento, ao dizer que Hillary se referiu em 1996 a alguns homens negros como "superpredadores" (na realidade ela nunca fez essa ligação direta).

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