Patrícia Campos Mello

Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA. É vencedora do prêmio internacional de jornalismo Rei da Espanha.

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Patrícia Campos Mello

Conheça Wayne La Pierre, o capo do lobby das armas nos EUA

O líder da NRA encabeça a luta contra o controle de armas no país

O executivo-chefe da Associação Nacional do Rifle, Wayne LaPierre, aplaude o presidente Donald Trump em evento da entidade em abril de 2017
O executivo-chefe da Associação Nacional do Rifle, Wayne LaPierre, aplaude o presidente Donald Trump em evento da entidade em abril de 2017 - Scott Olson - 28.abr.2017/Getty Images/AFP

“Estamos aqui porque minha filha não tem voz —ela foi assassinada na semana passada, levou nove tiros. Quantas escolas, quantos filhos vão ter que morrer? Deveria ter sido um massacre em escola e nós termos resolvido essa questão. Eu estou furioso, porque nunca mais vou ver minha filha.”

Quem disse isso ao presidente Donald Trump foi Andrew Pollack, pai de Meadow, 18 anos, uma das 17 pessoas mortas na semana passada no massacre da escola em Parkland, na Flórida

Mas para Wayne LaPierre, chefão da National Rifle Association (NRA, Associação Nacional do Fuzil), o poderoso lobby das armas nos Estados Unidos, Andrew é mais um “oportunista”, que tira proveito de massacres para tentar aprovar leis de controle de armas. 

Com a palavra La Pierre, em discurso na CPAC (Conferência da Ação Política Conservadora) : “Como de costume, os oportunistas não perderam nem um segundo para usar a tragédia para ganho político...as elites não estão nem aí para as escolas americanas e os alunos. Para eles, não se trata de uma questão de segurança, mas sim uma questão política.”

Segundo ele, o direito constitucional de portar armas não é “concedido pelos homens, mas garantido por Deus para todos os americanos”.

Desde o massacre de Sandy Hook, em 2012, em que 20 crianças de 5 e 6 anos morreram nas mãos de um atirador alucinado, foram apresentados mais de 100 projetos de lei de controle de armas no Congresso americano. Nenhum passou.

Essa façanha foi obra de Wayne LaPierre, que é a cara e a voz da National Rifle Association há 30 anos. A NRA tem 5 milhões de membros e um poder gigantesco. Em vídeo em 2016, La Pierre afirmou que Trump era o “candidato mais favorável à Segunda Emenda (da Constituição americana, que garante porte de armas) da história”.

A NRA doou US$ 30 milhões para a campanha de Donald Trump em 2016. O investimento valeu a pena. Após o massacre de Parkland, Trump fez concessões apenas laterais –apoiou projeto de lei que aprimora a checagem de antecedentes de compradores de armas e pediu que seja proibido o “bump stock, que basicamente transforma fuzis semiautomáticos em metralhadoras.

Mas elogiou Wayne, um “grande patriota”, e culpou doenças mentais, e não armas, pelos seguidos massacres em solo americano. Não existe o menor perigo de Trump, por exemplo, querer reintroduzir o veto a “armas de assalto”, como o fuzil semi-automático AR-15 usado pelo atirador de Parkland. O veto expirou em 2004.

Tampouco LaPierre deve temer que Trump queira adotar um banco de dados universal para compradores de armas, ou limites para tamanho dos pentes de munição. Aliás, o presidente americano propôs que os professores estejam armadosuma das ideias defendidas por La Pierre, afinal, isso vai ajudar a vender ainda mais armas. Após o massacre de Sandy Hook, o lobista disse: “Para deter um cara mau armado, é preciso um cara bom armado.”

A NRA mantém uma lista que classifica os legisladores americanos como mais e menos “gun friendly”. Se o senador ou deputado é A+, ele fez contribuições importantes para legislações de interesse do NRA e defende de forma vigorosa a Segunda Emenda. Se o legislador é F, ele é um verdadeiro inimigo dos direitos dos proprietários de armas e lidera esforços para aprovar legislação de controle de armas.

Nas eleições de 2008, a NRA gastou US$ 40 milhões em contribuições de campanha –e US$ 10 milhões tentando evitar a vitória do então candidato Barack Obama. “A NRA é ponderosa o suficiente para barrar qualquer projeto de lei (de controle de armas)”, diz o senador Chris Murphy, nota F na lista do grupo de lobby.

Existem 300 milhões de armas em circulação nos EUA –quase uma para cada um dos 323 milhões de habitantes. Graças ao senhor LaPierre, esse número vai continuar aumentando.

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