Patrícia Campos Mello

Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA. É vencedora do prêmio internacional de jornalismo Rei da Espanha.

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Patrícia Campos Mello
Descrição de chapéu Coreia do Norte

Trump deveria fazer um bom acordo pré-nupcial antes de enlace com Kim Jong-un

Os dois líderes têm conceitos bastante diferentes sobre o que significa "desnuclearizar"

De terno preto, camisa branca e gravata vermelha, Donald Trump levanta a mão enquanto fala em um púlpito com o selo do Presidente dos EUA; ao fundo, apoiadores aparecem desfocados
O presidente dos EUA, Donald Trump, participa de um evento das primárias republicanas para as eleições legislativas de outubro em Elkhart, Indiana - Scott Olson/Getty ImagesAFP

O presidente Donald Trump marcou a data de seu enlace com o ditador norte-coreano, Kim Jong-un —12 de junho, em Cingapura, território neutro.

“O muito esperado encontro entre mim e Kim Jong-un vai ser realizado em Cingapura, no dia 12 de junho. Nós dois vamos tentar fazer desse encontro um momento muito espeical para a paz mundial”, tuitou Trump. 

Mas o presidente americano deveria recorrer a seus advogados —e olha que eles têm sido bastante requisitados ultimamente— para elaborar um acordo pré-nupcial bastante abrangente.

Apesar das muitas juras de Kim de que aceitará a “desnuclearização completa” de seu país, o norte-coreano e o americano provavelmente têm interpretações muito diferentes do conceito desnuclearizar. 

O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, e Trump insistem em segurar as “recompensas” para Kim —eliminação de sanções, ajuda financeira— até que o líder norte-coreano entregue toda a mercadoria. 

A mercadoria consiste em destruir todas as bombas e mísseis nucleares da Coreia do Norte e abrir o país para inspeções abrangentes e intrusivas para garantir que está cumprindo o prometido. 

Em setembro do ano passado, o país fez seu sexto —e mais poderoso— teste nuclear, de uma bomba de hidrogênio

Em novembro, disparou um míssil com capacidade de chegar até cidades americanas. Calcula-se que o regime tenha um arsenal de cerca de 60 ogivas nucleares. 

A Coreia do Norte —e também sua aliada, a China— tem uma interpretação um pouco mais elástica do conceito desnuclearização.

Kim promete destruir todo o arsenal que gerações de sua família foram cuidadosamente construindo como forma de seguro de vida contra as tentativas americanas de mudança de regime. 

Mas ninguém promete fazer isso rapidamente. Uma abordagem mais gradual, com recompensas também graduais, é o objetivo do regime.

O Japão, que está ao alcance dos mísseis de curto alcance de Kim, exige que também essas armas sejam destruídas —assim como o arsenal de armas químicas e biológicas do regime. 

A Coreia da Norte não dá mostras de que isso ou a devolução do restante dos cidadãos japoneses sequestrados pelo regime nos anos 70 e 80 estejam incluídos no pacote.

Trump terá fortes incentivos para “vender” seu encontro, seja qual for o resultado, como um sucesso. Mas pensando de forma objetiva, ele deveria lembrar das palavras do ex-presidente Ronald Reagan (em relação à União soviética): “Confie, mas verifique.”

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