Patrícia Campos Mello

Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA. É vencedora do prêmio internacional de jornalismo Rei da Espanha.

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Patrícia Campos Mello

Brasil não sabe se posicionar em guerra fria tech entre EUA e China

Washington quer barrar investimentos chineses em 5G por risco de ciberespionagem

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Indagado sobre o lado que o Brasil apoiaria na guerra comercial entre Estados Unidos e China, o ministro da Economia, Paulo Guedes, não titubeou: “Nessa guerra comercial, o Brasil tem um lado: o nosso”, disse, em visita a Washington acompanhando o presidente Jair Bolsonaro, no fim de março.

Na prática, achar um equilíbrio entre as duas potências não será simples.  

Após diversos esforços para abrandar a retórica anti-China de alguns setores do governo, principalmente do Itamaraty, o agronegócio conseguiu arrancar da administração Bolsonaro uma postura mais pragmática, pelo menos nas declarações.

Com a visita do vice-presidente, Hamilton Mourão, ao país, e missões do ministério da Agricultura, pode-se aos poucos aparar arestas e conseguir certificar mais estabelecimentos para exportar carnes para a China.

Por enquanto, o setor agrícola brasileiro se beneficiou da guerra comercial entre as duas superpotências, aumentando exportações de soja e suínos para os chineses, entrando no vácuo da perda de mercado dos americanos por causa das tarifas mais altas.

No entanto, quando China e EUA chegarem a um acordo para por fim à disputa comercial, o Brasil pode acabar perdendo bem mais do que ganhou, dependendo dos termos negociados entre os dois para abertura de mercado chinês a produtos agrícolas americanos.

Mas a realidade é bem mais complexa —a guerra comercial é apenas a ponta do iceberg. China e EUA estão em meio a uma guerra fria tecnológica, e será cada vez mais difícil o Brasil não se posicionar.

Países como Austrália já se renderam às pressões americanas para vetar investimentos da chinesa Huawei em tecnologia 5G. Americanos também pressionam para que outros países restrinjam investimentos chineses em áreas importantes de alta tecnologia e inteligência artificial.

Washington argumenta que o governo chinês pode usar equipamentos da Huawei para fazer espionagem, uma vez que o comando da empresa é intimamente ligado ao partido comunista chinês.

Mas o que realmente está em jogo é o domínio das tecnologias que irão alimentar o crescimento econômico nos próximos anos.

Mesmo resolvidas as tensões comerciais e reduzidas as tarifas, os americanos vão continuar pressionando para que o governo chinês deixe de subsidiar o setor de alta tecnologia; deixe de exigir transferência de tecnologia de empresas estrangeiras que queiram acessar o mercado chinês, e deixe de patrocinar ou tolerar ciberespionagem.

O Brasil, está certo, tem preocupações mais prementes, como a aprovar a reforma da previdência para não quebrar. Mas o país terá de decidir de que lado da cortina de ferro digital irá se posicionar, pesando o risco de perder investimentos ou o comércio com dois de seus maiores parceiros. 

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