Patrícia Campos Mello

Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA. É vencedora do prêmio internacional de jornalismo Rei da Espanha.

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Patrícia Campos Mello

Volta da malária é retrato do colapso da Venezuela

Doença que quase foi erradicada nos anos 60 contaminou 1 milhão no país em 2018

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A Venezuela chegou a erradicar a malária em quase 70% de seu território nos anos 60 e 70. Era considerada um país modelo no combate à doença.

Mas, a crise política e colapso do sistema de saúde do país levaram a malária a tomar proporções alarmantes na Venezuela —especialistas estimam que o número de casos chegou a 1 milhão no ano passado.

A malária é uma das doenças mais disseminadas no mundo —em 2017, foram 219 milhões de casos em 87 países, com 435 mil mortes.

É uma doença que pode ser evitada, afeta apenas os mais pobres entre os pobres. É a sexta principal causa de morte em países em desenvolvimento (atrás de infecções respiratórias, diarreia, doença cardíaca, HIV e derrame)

Em países de alta renda, nem entra entre as dez principais causas (as seis primeiras são: doença cardíaca, derrame, Alzheimer, câncer de pulmão, enfisema, infecção respiratória), segundo dados da Organização Mundial do Comércio (OMS) em 2018.

No caso da Venezuela, a volta da doença é um retrato fiel do desmoronamento das instituições do país. A malária voltou principalmente por causa de falta de recursos para prevenção e pouco acesso a medicamentos.

Os Médicos Sem Fronteiras (MSF) são uma das poucas organizações internacionais ainda presentes na Venezuela, com quatro programas —de atendimento básico, assistência a vítimas de violência sexual, saúde reprodutiva e malária.

Só em 2018, o MSF tratou 137.936 venezuelanos com malária, além de distribuir 20 mil mosquiteiros e fumigar 3.900 residências.

“Trata-se de um problema de saúde pública causado diretamente por uma crise política”, diz Jonathan Whittall, diretor do departamento de análise dos Médicos Sem Fronteiras.

“Houve uma erosão da capacidade geral do sistema de saúde, deixaram de fazer as fumigações contra os mosquitos, a distribuição de mosquiteiros, além de não terem o mínimo para atender as pessoas contaminadas.”

E o uso político da ajuda humanitária piora a situação. “As pessoas têm necessidades legítimas e urgentes que não deveriam ser alvo de manipulação.”

De acordo com a OMS, o número de casos de malária na Venezuela aumentou nove vezes entre 2010 e 2017.

O país sofre com a escassez de medicamentos e passa por epidemias de doenças passíveis de prevenção, como sarampo e difteria.

Com o impasse político na Venezuela, em que que o ditador Nicolás Maduro continua a arruinar o país e a oposição liderada por Juan Guaidó tenta derrubá-lo, com pouco sucesso, a situação só tende a piorar.

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