Patrícia Campos Mello

Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA. É vencedora do prêmio internacional de jornalismo Rei da Espanha.

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Patrícia Campos Mello

2020 pode ser o ano de Elizabeth Warren

Analistas dizem acreditar que senadora se fortalece para conquistar indicação democrata

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Experientes analistas americanos afirmam acreditar que 2020 pode ser o ano em que Elizabeth Warren conquistará a indicação do Partido Democrata para concorrer à Presidência e tentar evitar a reeleição do atual presidente dos EUA, Donald Trump.

 

Embora Joe Biden esteja liderando nas pesquisas atualmente —na média do Real Clear Politics, ele aparece com 30,4%, diante de 17,1% de Warren e 16,3% de Bernie Sanders— observadores com quem conversei em Washington acham que o ex-vice-presidente não é o candidato certo para o atual contexto político.

Biden estaria disputando a eleição de 2016  "all over again". Em vez de absorver todos os recados dados nas urnas pelos chamados órfãos da globalização, ele estaria insistindo em uma fórmula que não funciona mais neste novo mundo de polarização exacerbada, onde o centrismo clintoniano perdeu muito espaço.

O chamado “esquadrão” liderado por Alexandra Ocasio-Cortez e outros legisladores da ala jovem do partido conseguiram levar a agenda democrata mais para a esquerda, além de incorporar o combate à mudança climática à lista de prioridades.

 

Warren se encaixa nesse novo contexto. Biden, não. Além disso, questões como a idade do ex-vice-presidente —seria o mandatário mais velho ao assumir a Presidência, com 78 anos, caso eleito— e suas gafes podem pesar.

Já Elizabeth Warren é a única que consegue reunir multidões de 15 mil pessoas um ano e cinco meses antes das eleições.

Só Barack Obama e Donald Trump geravam tamanho entusiasmo a essa mesma altura do ciclo eleitoral.

Ela tem conseguido combater em parte a ideia de que é acadêmica demais, sisuda demais, robótica.

Warren tem enfatizado suas credenciais de gente como a gente, como as dificuldades que enfrentou para criar os filhos após o divórcio e a infância no estado de Oklahoma, longe das elites da costa Oeste ou Leste.

A senadora democrata ainda divide seus votos com Bernie Sanders —os dois candidatos falam para o mesmo tipo de eleitor.

Mas, segundo esses observadores, Sanders está perdendo o gás e sua trajetória nas pesquisas não é auspiciosa —para alguém cujo nome tem enorme recall, estar em terceiro lugar é problemático.

O candidato democrata, seja quem for, precisará lidar com algumas vulnerabilidades. Os democratas, tal qual a esquerda e a centro-esquerda no Brasil, continuam sem entender o eleitorado evangélico e seus anseios, e mantêm o tom condescendente com esse poderoso bloco.

É preciso encontrar alguém que não tenha vergonha de falar de Deus, nas palavras de um observador.

Outro flanco é o patriotismo. A acusação de que os democratas não amam seu país, e não estão dispostos a se sacrificar pela pátria, colou.

De novo, nessa nova era de nacionalismo pop, é preciso demonstrar que o candidato irá, sim, defender a pátria, ainda que não da forma chauvinista que está na moda.

No entanto, o candidato que tem mais chances de vencer as primárias não necessariamente é o que tem mais chances de vencer a eleição. 

Existe uma visão de que os candidatos precisam ter propostas mais contundentes e até extremadas para vencer as primárias –mas têm de soar mais conciliadores e moderados na eleição geral.

Muitos se referem ao pleito de 1972, afirmando que se o republicano Richard Nixon tivesse disputado sozinho, ele teria perdido. Mas os democratas escolheram um candidato com muitos flancos, George McGovern, e ajudaram Nixon na disputa.
 
Alguns pensam que o mesmo pode ocorrer na eleição de 2020. Se disputasse a eleição sozinho, talvez Trump perdesse (embora ele tenha a vantagem inconteste de ser o atual ocupante do cargo).

Mas os democratas se arriscam a repetir o fiasco de McGovern se escolherem um candidato que seja excessivamente de esquerda, como Warren ou Sanders.

Porém, no cenário atual, em que populistas de esquerda ou direita dizimaram o centro, não sei se as antigas regras se aplicam.

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