Patrícia Campos Mello

Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA. É vencedora do prêmio internacional de jornalismo Rei da Espanha.

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Patrícia Campos Mello

Brasil critica Venezuela na ONU, mas cumprimenta Líbia e Mauritânia, que mata gays

País imita Estados Unidos ao cobrar de forma seletiva direitos humanos, só quando interessa

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Os Estados Unidos frequentemente são criticados por usar o tema dos direitos humanos como arma, de forma seletiva. O governo americano critica a China por seu tratamento à minoria muçulmana dos uighurs. De fato, a perseguição aos uighurs e os campos de detenção na província de Xinjian são uma violação crassa dos direitos humanos.

Washington também critica as violações cometidas pelo governo do Irã, onde gays podem ser condenados à morte. De novo, críticas mais do que justificadas. No entanto, o mesmo governo americano silencia sobre as violências cometidas pela Arábia Saudita – como, por exemplo, o assassinato do jornalista dissidente Jamal Khashoggi, patrocinado pelo príncipe regente, Mohammed bin Salman.

Ditador da Venezuela, Nicolás Maduro fala em cerimônia de comemoração dos 70 anos da República Popular da China, em Caracas, em 2 de outubro de 2019.
Ditador da Venezuela, Nicolás Maduro fala em cerimônia de comemoração dos 70 anos da República Popular da China, em Caracas, em 2 de outubro de 2019. - Xinhua

Pois bem, parece que o Brasil está aprendendo direitinho com seus grandes aliados em Washiongton como usar de forma hipócrita a bandeira dos direitos humanos.

O Itamaraty soltou uma nota nesta quinta-feira (17) celebrando a reeleição do Brasil para o Conselho de Direitos Humanos da ONU.

Na mesma nota, o governo brasileiro aproveita para atacar a Venezuela do ditador Nicolás Maduro, que também garantiu sua vaga no Conselho.  “Infelizmente, para a segunda vaga reservada ao grupo latino-americano e caribenho, foi eleita a Venezuela do regime ilegítimo de Nicolás Maduro.  Tal fato revela que ainda há muito a ser feito para a conscientização da comunidade internacional a respeito do estado catastrófico dos direitos humanos naquele país e mostra as deficiências do sistema multilateral na área dos direitos humanos, por cuja correção o Brasil trabalhará.”

De novo, críticas mais do que justificadas, diante de um governo que persegue e prende opositores, e está levando sua população a morrer de fome.

No entanto, na mesma nota diplomática, o governo brasileiro “cumprimenta” países notórios por suas violações de direitos humanos, como a Líbia, o Sudão e a Mauritânia. “O governo brasileiro cumprimenta Alemanha, Armênia, Coreia do Sul, Japão, Ilhas Marshall, Indonésia, Líbia, Mauritânia, Namíbia, Países Baixos, Polônia e Sudão, que também ganharam assento no órgão.”

A Líbia está sem um governo que efetivamente governe desde a intervenção das potências ocidentais que levou à queda do ditador Muamar Gadafi – milícias se digladiam para controlar diversas partes do país, onde há escravização de migrantes, morte de opositores e jornalistas cotidianamente.

Na Mauritânia, homossexualidade é crime e homens que fazem sexo com homens podem ser condenados à morte por apedrejamento. No Sudão, manifestantes são rotineiramente presos e torturados, assim como jornalistas.

 Dá para cumprimentar esse pessoal?

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