Patrícia Campos Mello

Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA. É vencedora do prêmio internacional de jornalismo Rei da Espanha.

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Patrícia Campos Mello

Antissemitismo cresce no Brasil, aponta pesquisa

Em cinco anos, número de pessoas com preconceito contra judeus foi de 16% para 25%

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O último levantamento da Anti-Defamation League (Liga Anti-difamação, organização judaica americana que luta contra discriminação) traz uma notícia que é preocupante, mas, infelizmente, não é surpreendente. O antissemitismo no Brasil cresceu nos últimos 5 anos.

Em 2014, 16% da população brasileira tinha visões antissemitas. Em 2019, já são 25% dos brasileiros que perpetuam estereótipos e preconceitos em relação aos judeus.

Portão de Damasco na Cidade Velha de Jerusalém, em Israel
Portão de Damasco, na Cidade Velha de Jerusalém, em Israel - Nir Elias - 7.out.19/Reuters

O grau de ignorância também é grande —no Brasil, 22% dos entrevistados na pesquisa nunca ouviram falar no Holocausto e 15% acham que o número de mortos no Holocausto tem sido exagerado.

De acordo com o levantamento, 55% as pessoas dizem que nunca encontraram um judeu.

Segundo a pesquisa, 63% dos brasileiros entrevistados concordam com a afirmação de que os judeus falam demais sobre o que aconteceu com eles no Holocausto e 70% acham que eles são mais leais a Israel do que ao país onde vivem.

“O antissemitismo tradicional, de extrema direita, permanece, agora aliado ao antissemitismo contemporâneo, que se manifesta em posições antissionistas, e àquele proveniente do fundamentalismo islâmico”, diz o presidente da Confederação Israelita do Brasil (Conib), Fernando Lottenberg.

“Os três fatores, somados à virulência das redes sociais, impactam no aumento do antissemitismo no Brasil e na América Latina nos últimos anos, não apenas no número de incidentes, mas também pelo grau de agressividade.”

Há algumas notícias alentadoras. A porcentagem daqueles que dizem ter opinião favorável sobre os judeus subiu de 65% para 73% no Brasil —são 60% entre muçulmanos e 95% entre os cristãos. E 57% dos entrevistados têm opinião favorável de Israel.

Como a pesquisa foi realizada entre maio e junho deste ano, é de se supor que ainda não há reflexos da política de aproximação com Israel abraçada pelo governo Bolsonaro e pela bancada evangélica.

Para medir o grau de antissemitismo das pessoas, a pesquisa avalia se as pessoas concordam com estereótipos comuns a respeito dos judeus.

Na atualização de 2019 da pesquisa, foram ouvidas cerca de 9.000 pessoas de 18 nações: Canadá, Argentina, Brasil, Polônia, Rússia, Ucrânia, Hungria, África do Sul, Áustria, Bélgica, Reino Unido, Dinamarca, Itália, França, Suécia, Espanha, Alemanha e Holanda.

Os maiores índices de antissemitismo foram encontrados na Polônia (48%), Ucrânia (46%), África do Sul (47%) e Hungria (42%)

Os menores índices foram registrados na Suécia (4%), Canadá (8%), Dinamarca (10%) e Holanda (10%).

O avanço de ideias antissemitas na Europa Oriental ou Central é muito aparente.

Na Hungria, o financista George Soros estampa outdoors ao redor do país nos quais é acusado de estimular a entrada de imigrantes ilegais em território húngaro.

O governo do primeiro-ministro Viktor Orbán celebra o líder Miklós Horthy, que se aliou a Hitler durante a Segunda Guerra Mundial.

Na Polônia, o antissemitismo passou de 45% para 48%. Lá, 74% das pessoas acham que judeus falam demais sobre o que aconteceu com eles no Holocausto (que levou à morte de cerca de 6 milhões de judeus).

Na primeira edição da pesquisa, em 2014, foram analisados 101 países além dos territórios palestinos, Gaza e Cisjordânia –onde foi registrado índice de antissemitismo de 93%.

O país do Oriente Médio com menor índice de antissemitismo é o Irã (56%).

Na África Subsaariana, apenas 24% dos entrevistados já tinham ouvido falar do Holocausto; no Oriente Médio e norte da África, eram 38%.

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