Paula Cesarino Costa

Jornalista, foi secretária de Redação e diretora da Sucursal do Rio. Foi ombudsman da Folha de abril de 2016 até maio de 2019.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Paula Cesarino Costa
Descrição de chapéu mídia jornalismo

O livro de cabeceira do jornalista

Manual da Redação serve de instrumento para leitor conhecer a Folha e cobrar mais qualidade jornalística

Manual de redação da Folha de S.Paulo do ano de 2018
Manual de redação da Folha de S.Paulo do ano de 2018 - Gabriel Cabral/Folhapress

Em favor do método. Foi esse o título escolhido para apresentar ao leitor o primeiro "Manual Geral da Redação" da Folha em 29 de setembro de 1984. O país caminhava para a redemocratização, sob crise econômica sufocante. Tecnologias hoje dominantes eram restritas a laboratórios e grupos de pesquisa. Estava em seus primórdios a rede mundial de computadores que viria a ser conhecida como internet.

Não se questionava a sobrevivência dos jornais nem se imaginava que tivessem o digital como futuro. Criticado já na sua apresentação em textos publicados no próprio jornal, o "Manual" de 1984 tinha o objetivo de "traduzir, em normas empíricas e simples", a concepção de jornal que se procurava praticar na Folha. O diretor de Redação, Otavio Frias Filho, na apresentação, afirmava que o "Manual", "mesmo com lacunas e imperfeições técnicas", serviria de instrumento para "uma atitude mais profissional" e "em benefício de um produto mais técnico, homogêneo e estável".

Em debate na última quarta-feira (21), no lançamento da quinta versão do "Manual da Redação", a conclusão foi inequívoca: não se faz bom jornalismo sem métodos claros.

A semelhança de pontos de vista, passados mais de 30 anos, não é um acaso. Mesmo com todas as transformações ocorridas na forma de produzir, circular e consumir notícia, a qualidade da informação ainda é, e sempre será, o principal objetivo e o grande desafio.

Manuais de Redação estão presentes em grande parte das publicações jornalísticas em todo o mundo. Com objetivos específicos variados e concepções diferentes, servem tanto para aqueles que praticam o jornalismo como para leitores que se interessam por notícias.

A quinta edição do "Manual da Redação" da Folha codifica boas práticas jornalísticas e fornece ao leitor a base para entender seu projeto e suas opções editoriais.

Encarado na Redação como espécie de Constituição interna a ser conhecida e seguida, é instrumento valioso para o leitor cobrar coerência e equilíbrio, conhecer a lógica que leva o jornal a publicar (ou deixar de publicar) determinada informação, entender o motivo da adoção de determinadas nomenclaturas (por exemplo, quem é tratado como ditador e por quê, questionamento frequente de leitores), saber como o jornalista deve se comportar e que relações pode ter com uma fonte.

Mensagem do leitor Paulo Marinho é exemplo do desafio deste ano de 2018 e de como o "Manual" pode auxiliar na confecção do jornal.

Marinho questionou: "Por que a Folha trata candidaturas que são nitidamente de 'centro-direita' como 'centro'?" Referiu-se a trecho de reportagem que definia Geraldo Alckmin (PSDB) e Rodrigo Maia (DEM) como eventuais candidatos de centro. "Não lhe parece uma simplificação excessiva ou mesmo uma imprecisão? É até possível argumentar que os candidatos de 'centro-direita' fazem parte do conjunto mais amplo de candidatos de 'centro', o que justificaria tratá-los dessa forma. Entretanto, para seguir a mesma lógica, o jornal também deveria tratar os candidatos de 'centro-esquerda' como 'centro', mas isso não ocorre", reclamou.

No capítulo dedicado à prática jornalística, o longo verbete "qualificação ideológica (págs. 114/115)" joga luz na questão, ao mesmo tempo que mostra quão complexo pode ser o ato de redigir um texto. Em resumo, define que a variação política à esquerda "preconiza ativismo do Estado a título de reduzir a desigualdade social". À direita, estão aqueles que "valorizam a atuação estatal com o propósito de proteger valores nacionais e familiares". A vertente de centro "aglutina matrizes do liberalismo econômico, que prescreve limitada atuação estatal".

Recomenda que a qualificação ideológica deve ser "tão precisa quanto possível". O exemplo acima mostra que há sempre um grau de subjetividade na aplicação prática dos verbetes do "Manual".

O leitor Paulo Marcos Gomes Lustoza lembrou que manuais dão orientações e diretrizes para determinada atividade-fim. "Não resolve burrices, mas incentiva a correção e demonstra como a instituição que o expediu entende a execução das ações por ela regulamentadas".

Ao lado de duas ex-ombudsmans, Suzana Singer e Vera Guimarães, fiz parte da comissão responsável pela elaboração da nova versão do "Manual", coordenada por Uirá Machado, editor do caderno "Ilustríssima". Sinto-me assim impedida de analisar criticamente seu conteúdo.

Fico à vontade para recomendar um capítulo: "Errei, mas quem não Erramos", pequena coletânea de correções curiosas, embaraçosas e inacreditáveis, que resulta em peça cômica e ao mesmo tempo, escancara o que pressa, desconhecimento e má apuração podem produzir.

SOBRE A RELAÇÃO COM O LEITOR

"O leitor é o principal interlocutor do jornalista e quem sustenta o jornal. Dispõe de tempo cada vez mais escasso e disputado por fontes informativas abundantes. Para assegurar sua fidelidade, é preciso oferecer conteúdo de qualidade, esforçar-se para que ele o receba e manter com ele comunicação atenciosa."

"Responda com agilidade e educação às manifestações do leitor. Apontamentos de erro devem ser checados e, sendo o caso, a correção deve ser publicada com rapidez." (do MANUAL DA REDAÇÃO, versão 2018, página 55)

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.