Paula Cesarino Costa

Jornalista, foi secretária de Redação e diretora da Sucursal do Rio. Foi ombudsman da Folha de abril de 2016 até maio de 2019.

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Paula Cesarino Costa

Leia lições de Alberto Dines, inspiração para ombudsman

Jornalista (1931-2018) foi um precursor da crítica dos meios de comunicação

Morto em 22 de maio, o jornalista Alberto Dines (1931-2018) foi um precursor da crítica dos meios de comunicação, com a coluna “Jornal dos Jornais”, publicada na Folha entre 6 de julho de 1975 e 11 de setembro de 1977.

O jornalista Alberto Dines em 2014
O jornalista Alberto Dines em 2014 - Ze Carlos Barretta - 22.jun.2014/Folhapress

A reflexão de Dines sobre o papel dos jornais e dos jornalistas é imensa contribuição. Recolhi e transcrevo abaixo algumas de suas lições no "Jornal dos Jornais", inspiração para a função de ombudsman na Folha e para todos os ocupantes do cargo. 

 

"O direito à informação não funciona apenas num sentido, mas tem múltiplas direções: serve aos veículos para informar ao público e serve ao público para se informar sobre e os veículos. Democracia vale para todos, caso contrário não é democracia." (6/07/1975)

"A imprensa, que em todas as sociedades é geradora do debate e da controvérsia e, por isto, deflagradora do processo de renovação de ideias, no caso brasileiro limita-se a noticiar. Somos hoje em dia a 'imprensa dos icebergs' não apenas por nos comportarmo-nos friamente mas por contentarmo-nos apenas com a pequena parte visível do fato. Por falta de espírito questionador, esquecemos aquela grande massa que se esconde por debaixo da linha d'água." (13/07/75) 

"Se existe um problema comum a todos os jornais brasileiros, e talvez o mais gritante da imprensa de nosso país, é a ausência quase total do espírito questionador." (13/07/75) 

"A qualidade do trabalho jornalístico reside na capacidade de revelar a extensão do fato. Se quisermos examinar a questão do ponto de vista ético, pode-se dizer que cabe ao jornalista recusar a meia verdade ou as aparências da verdade, propondo-se um mergulho mais profundo na apuração das notícias. A extensão do fato ou este mergulho mais profundo em busca da verdade, objetivamente, podem ser traduzidos por meio de procedimento simples: ouvir os dois lados, procurar sempre a outra versão, descobrir os interesses contrários." (14/08/77)  

"A era de qualificar jornalistas pela capacidade de paginar jornais já acabou. Foi mais um dos esgares formalistas da nossa vida intelectual. A época de considerar bom jornalismo a capacidade de escrever textos sinuosos sobre fatos minúsculos está encerrada. Foi mais um destes desvios elitistas típico dos que chegam tarde ao processo cultural. Estamos agora em plena fase da busca da verdade." (12/07/77) 

"A crítica não é uma atividade final e definitiva. Também ela é passível de crítica. Não fosse assim, a voz do crítico seria o julgamento conclusivo. Como se sabe, não existem julgamentos conclusivos, ninguém está em condições de dar a última sentença." (26/12/76) 

"A função da crítica completa-se com a crítica da crítica. Este é o esquema das sociedades abertas onde o livre fluxo de opiniões sedimenta uma sólida estrutura de critérios. Consenso só se alcança com muita dissensão." (26/12/1976) 

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