Paula Cesarino Costa

Jornalista, foi secretária de Redação e diretora da Sucursal do Rio. Foi ombudsman da Folha de abril de 2016 até maio de 2019.

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Paula Cesarino Costa
Descrição de chapéu Folha Informações

Zap-zap da notícia falsa

Após anunciar serviço de checagem, Folha demora a se organizar

Carvall

Na recente eleição presidencial mexicana, grupos de checagem registraram que aumentou a circulação de notícias falsas quanto mais o país se aproximou da data das eleições. Se na eleição americana de 2016 a ação da Rússia foi significativa na divulgação de fake news, a maior parte das notícias falsas no México provinha de grupos políticos internos, que propositadamente queriam influenciar no resultado eleitoral divulgando mentiras, conforme pesquisadores descobriram.

Com a eliminação do Brasil da Copa do Mundo, o país volta-se agora para a sucessão presidencial, com o primeiro turno a ser disputado em menos de três meses. O combate à divulgação de notícias falsas deve estar entre as prioridades dos meios de comunicação brasileiros. Nesse setor, a Folha precisa melhorar seu desempenho, porque a onda de notícias falsas aqui poderá ser ainda pior do que no México.

Dados do Instituto Reuters mostram que, depois de anos de crescimento, o uso de mídia social como fonte para notícias está caindo em todo o mundo. Mas as pessoas têm usado cada vez mais os aplicativos de mensagem para compartilhar informações —e muitas delas dizem repassar até mesmo o que desconfiam ser mentiroso.

Os principais órgãos de imprensa do país e do mundo oferecem serviços de combate às notícias falsas, apresentados em geral em forma de blog, que seleciona casos mais importantes ou rumorosos e investiga sua veracidade. A revista Veja (Me engana que eu posto – a verdade por trás de manchetes falsas que se espalham pela internet) e os jornais O Estado de S. Paulo (Estadão verifica – Checagem de dados e desmonte de boatos), O Globo (É isso mesmo? ) e Extra (#Éboato ou #Éverdade – blog de checagem) são alguns exemplos.

A Folha anunciou em 25 de junho que passaria a receber por WhatsApp mensagens de leitores com conteúdo que pudesse ser caracterizado como fake news e iria selecionar informações recebidas —em áudio, vídeo, imagem ou texto— para que fossem verificadas.

Leitores reclamaram para ombudsman de que não haviam recebido nenhuma resposta depois de terem enviado suas mensagens ao jornal.

Até sexta (6), a Folha não tinha em seu site um espaço que reunisse todas essas checagens, facilitando a vida do leitor interessado em se informar sobre notícias falsas circulando nas redes sociais. Pareceu ter ignorado as contribuições que pedira, sinal de desatenção com aquele que é a razão de ser dos jornais.

A secretária-assistente de Redação Giuliana Vallone informou que, daqui por diante, “as informações checadas serão publicadas em textos no site e no jornal impresso, sob a alcunha Folha Informações, e reunidos neste link.

Disse que a Redação trabalhará para publicar as mensagens selecionadas —por meio de critérios jornalísticos— “em prazo razoável”.

Nesta semana foi oficializada a criação do Comprova, plataforma destinada à checagem de notícias falsas, conteúdo forjado e manipulações em redes sociais, sites e aplicativos de mensagens relacionados às eleições de 2018, que tem a participação de 23 organizações de mídia, inclusive a Folha. Uma boa
(e verdadeira) notícia.

Não faltam exemplos da imperiosa necessidade de a imprensa dissipar boatos que
circulam nas redes sociais.

A Folha publicou um bom caso de desmonte de informação falsa. Tratava-se da suposta notícia de que americanos teriam obtido uma patente sobre um dos componentes do jambu e, por isso, cientistas da Universidade Federal do Amazonas estariam proibidos de fazer pesquisas sobre o vegetal. Divulgada em 2013 pelo site amazonense Portal do Holanda, a notícia falsa começou a ser republicada por vários blogs.

A reportagem clara e precisa da Folha mostrou como os relatos estavam equivocados.

Outra questão que se impõe neste momento é fazer a triagem de quais informações que circulam nas redes sociais devem ser tratadas como notícia e ser publicadas nos jornais.

Só o fato de determinada postagem ter sido vista ou compartilhada por número elevado de usuários seria suficiente? Impressionou-me o caso do torcedor russo que se tornou personalidade só por ter aparecido por alguns segundos na transmissão de Brasil x México. Foi apelidado de “feiticeiro do hexa”, tornando-se instantaneamente famoso e tema de reportagens diversas. É difícil ver relevância jornalística no caso, mas a mídia em geral foi na onda criada pelas redes sociais. Situações do tipo não são raras.

Um aspecto positivo —que os jornais precisam valorizar— foi a ocorrência de verdadeiras investigações colaborativas nas redes sociais, em que autoridades foram descobertas em viagens secretas à Rússia para assistir aos jogos. Um sinal de que nem tudo está perdido.

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