Paul Krugman

Prêmio Nobel de Economia, colunista do jornal The New York Times.

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Descrição de chapéu Donald Trump

O corte de impostos vai bem?

Não existe sinal de efeito político ou econômico significativo após o corte de impostos nos EUA

Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em Washington
Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em Washington - Leah Millis/Reuters

Até o momento, Donald Trump e seus aliados no Congresso só conquistaram uma grande vitória legislativa: aprovar um grande corte de impostos, que beneficia principalmente as grandes empresas e seus proprietários. Os proponentes do corte de impostos prometeram que ele resultaria em uma aceleração dramática do crescimento econômico e que produziria grandes avanços nos salários; a esperança deles era de que o corte produzisse grandes dividendos políticos nas eleições de novembro.

E o que o corte de impostos produziu, até agora? Politicamente, seus efeitos são pífios. A maioria dos eleitores afirma que seus salários não subiram por conta dele, e os republicanos mal mencionam a reforma tributária em suas campanhas eleitorais. Mas e a economia?

Seria tentador afirmar que é cedo demais para dizer. Afinal, a nova lei tributária está em vigor há apenas alguns meses e os primeiros números sobre o crescimento econômico pós-corte surgiram só na semana passada. No entanto, para cumprir as promessas daqueles que o apoiaram, o corte de impostos teria tido de produzir uma grande alta no investimento empresarial —não em longo prazo, não dentro de cinco ou 10 anos, mas mais ou menos já. E não existe sinal de que nada desse tipo esteja acontecendo.

Vamos falar sobre economia, aqui.

Qualquer coisa que eleve o déficit orçamentário deveria resultar, caso nada mais varie, em gastos mais altos e em um estímulo para a economia, em curto prazo (embora os números do primeiro trimestre, que foram pouco impressionantes, não mostrem sinal desse estímulo). Mas se você deseja estimular os gastos gerais, não é preciso conceder cortes de impostos imensos às grandes empresas. Muitas outras coisas poderiam ser feitas —por exemplo, gastar dinheiro para reparar a infraestrutura decadente dos Estados Unidos, questão sobre a qual Trump vive prometendo um plano mas nunca o anuncia.

Além disso, qualquer estímulo de curto prazo provavelmente seria rapidamente bloqueado pelo Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, que acredita que o país esteja em situação de pleno emprego e por isso vem elevando gradualmente as taxas de juros a fim de impedir um superaquecimento da economia. É possível argumentar que o Fed está errado, mas os argumentos em favor de uma política monetária mais frouxa nada têm a ver com o corte de impostos de Trump.

Não, o único argumento em favor de um corte de impostos para as empresas é o de que ele resultará em aumento de salários, em longo prazo, Como isso deveria funcionar?

Nunca fez sentido imaginar que as grandes empresas começariam a compartilhar imediatamente com seus funcionários os grandes ganhos que o corte de impostos lhes propicia, e isso não aconteceu. Qualquer organização noticiosa que tenha se deixado trapacear por casos isolados de empresas que anunciaram bonificações para os trabalhadores assim que o corte de impostos foi anunciado deveria se envergonhar de sua credulidade.

A lógica real por trás dos cortes de impostos para as empresas é que eles deveriam resultar em maior investimento. Esse investimento, por sua vez, elevaria gradualmente o estoque de capital, e ao mesmo tempo reduziria a taxa de retorno (anterior aos impostos) sobre o investimento, e elevaria os salários.

Existem duas questões quanto a esse suposto processo. Uma é quanto os salários subirão em longo prazo. A maioria das estimativas independentes prevê ganhos apenas modestos; as previsões absurdamente otimistas do governo Trump não são simples superestimativas, mas sim completas fantasias. Ainda assim, é lícito dizer que essa não é uma questão sobre a qual tenhamos confirmação baseada em dados.

Mas a outra questão, igualmente importante, é o quanto seria longo esse longo prazo. Como apontou Greg Leierson, do Centro Washington para o Crescimento Equitativo, "cada mês no qual os salários não estejam bem mais altos do que estariam caso a lei não existisse, e no qual os retornos sobre o investimento não sejam acentuadamente mais baixos, será um mês em que os benefícios dos cortes de impostos favorecem primariamente os acionistas das empresas". Um corte de impostos que poderia elevar significativamente os salários por volta de, digamos, o segundo mandato de Cynthia Nixon na Casa Branca, mas que beneficia muito os acionistas enquanto cria ganhos de salários apenas triviais pelos próximos cinco ou 10 anos, não é o resultado que os proponentes do plano prometeram.

Para que houvesse ganhos substanciais nos salários antes da eleição de 2024 —nem vamos considerar a de 2020— seria preciso um imenso boom em curto prazo no investimento empresarial, financiado principalmente por influxos de capital vindos de fora do país. E não existe sinal de que isso esteja acontecendo.

É verdade que o investimento empresarial como proporção do Produto Interno Bruto (PIB) cresceu ligeiramente nos últimos 12 meses, mas continua muito abaixo de seu patamar anterior à crise financeira —quanto mais das alturas atingidas nos anos 90.

Será que é cedo demais para esperar resultados? As empresas estão se preparando para acelerar seus investimentos e veremos um aumento sólido nas quantias investidas, no futuro? Não, de acordo com o Federal Reserve Bank de Atlanta. Uma pesquisa conduzida pela instituição revela que a vasta maioria das empresas afirma que a nova lei tributária teve efeito zero sobre seus planos de investimento, ou que elas planejam apenas uma elevação modesta em seus investimentos.

Em resumo, os efeitos do corte de impostos de Trump parecem bem semelhantes aos do corte de impostos do governador Brownback no Kansas, aos do corte de impostos do presidente Bush filho, e aos de todos os demais cortes de impostos alardeados com tamanha euforia nas três últimas décadas: muita conversa, grandes promessas, mas o único efeito da medida é inchar o déficit orçamentário.

Seria de imaginar que o Partido Republicano tivesse aprendido com suas experiências, percebido que cortes de impostos não são mágicos, e desenvolvido ideias diferentes. Mas acho que é difícil que um sujeito compreenda alguma coisa quando as contribuições financeiras para suas campanhas políticas dependem de que ele não compreenda. 

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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