Paul Krugman

Prêmio Nobel de Economia, colunista do jornal The New York Times.

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O trumpismo é ruim para os negócios

Agricultores enfrentam desastre financeiro, a indústria está se contraindo e a confiança do consumidor está em queda

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A cada semana que passa, fica cada vez mais claro que a guerra comercial do presidente Donald Trump, longe de ser "boa e fácil de vencer", está prejudicando grande parte da economia dos Estados Unidos.

Os agricultores enfrentam um desastre financeiro; a indústria, que as políticas de Trump deveriam reanimar, está se contraindo; a confiança do consumidor está em queda, principalmente porque o público (com razão) teme que as tarifas vão aumentar os preços.

Mas Trump tem uma resposta para seus críticos: Não sou eu, é você. Na semana passada, ele declarou que as empresas que afirmam ter sido atingidas por suas tarifas devem culpar a si mesmas, porque são "mal dirigidas e fracas".

Tal como acontece com muitas declarações de Trump, um pensamento que nos vem à mente é: como os republicanos teriam reagido se um presidente democrata dissesse algo desse tipo? Neste caso, porém, não precisamos especular.

As grandes fábricas de automóveis foram contra a tentativa de Trump de reverter os padrões de eficiência de combustível - Erin Scott/Reuters

Como alguns leitores devem se lembrar, em 2012 Barack Obama defendeu a tese óbvia e verdadeira de que as empresas dependem de investimentos públicos para coisas como estradas e educação, assim como de suas próprias iniciativas.

Referindo-se aos investimentos públicos, ele disse: "Vocês não construíram isso". Os suspeitos de sempre atacaram, tirando a frase de contexto e afirmando que ele estava desrespeitando empresários; Mitt Romney fez dessa afirmação a peça central de sua campanha presidencial.

Os ataques a Obama como sendo alguém antiempresas foram, naturalmente, feitos de má-fé. Trump, entretanto, está realmente denunciando as empresas e culpando-as pelos problemas que suas políticas criaram. E as tarifas não são a única área de políticas públicas em que Trump e as empresas americanas estão em desacordo.

Alguns dos atos mais importantes de Trump envolvem seus esforços frenéticos para desmantelar a regulamentação ambiental. Ao contrário das tarifas, isso pode em princípio parecer algo que as empresas iriam querer.

Acontece, porém, que muitas empresas querem manter esses regulamentos em vigor. As grandes produtoras de petróleo e gás se opõem ao relaxamento por Trump das regras sobre emissões de metano, um poderoso gás do efeito estufa.

As grandes fábricas de automóveis foram contra a tentativa de Trump de reverter os padrões de eficiência de combustível. Na verdade, em uma medida que teria enfurecido Trump, várias empresas chegaram a um acordo com o Estado da Califórnia para manter as regras da época de Obama, apesar da mudança na política federal.

Quando Trump teve sua vitória de virada em 2016, muitos investidores pensaram que seu governo seria bom para os negócios. E, de fato, ele deu às corporações um enorme corte de impostos --que foi quase totalmente utilizado para maiores dividendos e recompras de ações, com os trabalhadores recebendo essencialmente nada.

Fora o corte de impostos, no entanto, está ficando cada vez mais claro que o trumpismo é ruim para as empresas. Ou, mais precisamente, é ruim para as empresas produtivas.

Imagine-se como o diretor de uma empresa que planeja e espera estar na ativa por muito tempo. Claro, você gostaria de pagar menos impostos e não ter de cumprir regulamentações onerosas. Mas você também quer investir no futuro da sua empresa. E para isso precisa de alguma garantia de que as regras do jogo serão estáveis, de modo que qualquer investimento que você faça agora não seja subitamente inutilizado por futuras mudanças de políticas.

A grande queixa das empresas sobre a guerra comercial de Trump não é apenas que as tarifas aumentam os custos e preços, enquanto a retaliação estrangeira está cortando o acesso a mercados importantes. É que as empresas não podem fazer planos quando a política anda em zigue-zague, conforme os caprichos do presidente.

Elas não querem investir em qualquer coisa que se baseie numa cadeia de suprimento global, porque essa cadeia pode se desfazer com o próximo tweet de Trump. Mas elas também não podem investir pressupondo que as tarifas de Trump serão permanentes; você nunca sabe quando ou se ele vai declarar vitória e se render.

A política ambiental, ao que parece, é semelhante. Os líderes empresariais não são benevolentes, mas são realistas. A maioria deles entende que a mudança climática está acontecendo, que é perigosa, e que acabaremos tendo de transitar para uma economia de baixas emissões.

Elas querem gastar agora para garantir seu lugar nessa futura economia; elas sabem que os investimentos que agravam a mudança climática tendem a dar prejuízos em longo prazo. Mas elas vão adiar para investir em nosso futuro energético, enquanto os teóricos da conspiração que consideram o aquecimento global um embuste gigantesco —e/ou políticos vingativos determinados a apagar as realizações de Obama— continuarem reescrevendo as regras.

Para ser justo, porém, alguns tipos de empresas que prosperam sob o trumpismo —ou seja, as que não estão aí para durar muito, operações cuja estratégia é pegar o dinheiro e correr.

Estes são bons tempos para as empresas de mineração que se apressam para extrair tudo o que puderem, deixando para trás uma paisagem envenenada; para os especuladores imobiliários que patrocinam empreendimentos duvidosos, tirando proveito de brechas fiscais recém-criadas; para faculdades com fins lucrativos que deixam seus estudantes com diplomas inúteis e dívidas incapacitantes.

Em outras palavras, sob Trump é primavera para os trapaceiros.

Mas, para dizer o óbvio, essas operações de esmagar-e-pegar não são os tipos de negócios que queremos ver prosperar. Coloque desta maneira: refazer a economia dos EUA à imagem da Universidade Trump não é exatamente tornar os EUA grandes de novo.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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