Paul Krugman

Prêmio Nobel de Economia, colunista do jornal The New York Times.

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Descrição de chapéu Coronavírus

Abram caminho para Powell e Pelosi

Resposta inadequada dos EUA ao coronavírus pode ser atribuída às más decisões de curto prazo de Trump

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A resposta catastroficamente inadequada dos Estados Unidos ao coronavírus pode ser atribuída em grande parte às más decisões de curto prazo tomadas por um homem. E eu quero dizer de curto prazo: em todos os estágios, Donald Trump minimizou a ameaça e bloqueou as ações úteis, porque queria parecer bem no próximo ciclo de notícias ou dois, ignorando e intimidando qualquer um que tentasse lhe dar bons conselhos.

Mas o negócio é o seguinte: mesmo que ele não fosse tão irresponsável e egocêntrico, ele privou o governo de pessoas que poderiam estar dando bons conselhos, em primeiro lugar.

Trump dissolveu a equipe de resposta a pandemias do Conselho de Segurança Nacional em 2018, embora agora, com sua característica recusa a aceitar a responsabilidade por qualquer coisa, diga que não sabia nada sobre isso. E, em geral, ele equipou seu governo de pessoas obsequiosas, que nunca lhe disseram nada que ele não quisesse ouvir.

O que está ficando claro agora é que, quando se trata de lidar com as consequências econômicas do Covid-19, a situação pode ser ainda pior. Ainda existem alguns profissionais competentes que ocupam altos cargos nas agências federais de saúde, que poderiam dar bons conselhos a Trump se ele estivesse disposto a ouvir.

Trump de terno e gravata caminha em direção ao púlpito para discursar
Presidente Donald Trump chega à coletiva na Casa Branca, em Washington - Joshua Roberts - 15.mar.2020/Reuters

Mas o pensamento econômico sério foi efetivamente banido deste governo, se não de todo o Partido Republicano. Até onde posso ver, a equipe de Trump é totalmente incapaz de formular uma resposta coerente à crise econômica que se forma.

Como resultado, existem apenas dois locais potenciais de elaboração de políticas econômicas inteligentes em Washington. Um é o Federal Reserve; o outro é a liderança democrata no Congresso.

Nesse momento, em outras palavras, cabe a Jay Powell, presidente do Fed, e Nancy Pelosi, presidente da Câmara; a questão é se os republicanos de Trump e do Senado lhes permitirão salvar a economia.
Powell, é claro, cortou as taxas de juros e anunciou um grande programa de compra de ativos no domingo (15). Ele estava certo em fazê-lo.

Mas é dolorosamente óbvio que essas medidas não serão suficientes; de fato, provavelmente pouco farão para impedir a queda da economia em parafuso. Lembre-se, em 2007-08, o Fed cortou taxas cinco vezes mais do que no domingo, e ainda assim não conseguiu impedir a pior queda desde a Grande Depressão.

Na verdade, o próprio Powell basicamente reconheceu isso, declarando que ele e seus colegas "não têm as ferramentas" para alcançar aqueles que mais precisam de ajuda, e que "as respostas fiscais são críticas".

As respostas fiscais, é claro, têm que vir do Congresso. É verdade que em outra época, sob outro presidente, a Casa Branca teria desempenhado um papel crucial na definição da legislação de crise.

Mas na semana passada, quando a Câmara redigiu e aprovou uma lei de alívio econômico —que era útil, ainda que claramente inadequada—, foi quase inteiramente um esforço democrata. Os funcionários democratas reuniram os principais elementos da lei —licenças médicas pagas para muitos trabalhadores (embora não suficientes), aumento dos benefícios de desemprego, aumento das contribuições federais para o Medicaid e muito mais.

É verdade que Steve Mnuchin, secretário do Tesouro, negociou com Pelosi, basicamente para piorar um pouco a lei. Mas os democratas definiram o formato da lei, enquanto Trump propunha a ideia grandiosa de um feriado de impostos sobre a folha de pagamento, que foi criticado até por economistas conservadores.

Como escreveu Greg Mankiw, presidente do Conselho de Assessores Econômicos de George W. Bush, "um corte nos impostos sobre a folha de pagamento faz pouco sentido nessa circunstância, porque não faz nada para quem não pode trabalhar.... O presidente Trump deveria calar a maldita boca".

E enquanto a Casa Branca estava basicamente fora do circuito os senadores republicanos foram ativamente obstrucionistas, não oferecendo propostas sérias, mas mantendo um voto no projeto de lei da Câmara, apesar de o projeto ter sido aprovado com um apoio bipartidário esmagador.

Por que os republicanos são inúteis, na melhor das hipóteses, diante de uma crise econômica? Como já mencionei antes, existem muitos economistas competentes de centro-direita, mas o Partido Republicano —não apenas Trump, mas todo o partido— não quer seus conselhos. Prefere picaretas e propagandistas, o pessoal que Mankiw chamou de "charlatães e puxa-sacos", cuja única ideia é cortar impostos. O partido realmente não tem mais ninguém capaz de montar um pacote de resgate econômico plausível.

O Senado provavelmente acabará aprovando o projeto de lei de Pelosi. Mas, com todos os sinais apontando para um mergulho econômico acentuado, precisamos de um pacote de estímulo muito maior —talvez seguindo as linhas desenvolvidas por Chuck Schumer, líder da minoria no Senado— o mais rápido possível. Este pacote não deve incluir cortes de impostos; deve se concentrar predominantemente em subsídios em dinheiro, talvez um subsídio básico para todos os residentes legais, além de verbas adicionais para pessoas com necessidades especiais.

Como não resta ninguém no Partido Republicano capaz de elaborar um plano de estímulo coerente, os democratas terão que fazer o trabalho, talvez com a ajuda da intervenção do Federal Reserve para estabilizar os mercados financeiros altamente estressados.

Admito estar um pouco preocupado que os democratas não irão longe o suficiente. Mas minha maior preocupação é que os republicanos minem seus esforços. Agora cabe a Powell e Pelosi resgatar a economia, e Trump e companhia precisam sair do caminho.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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