Paul Krugman

Prêmio Nobel de Economia, colunista do jornal The New York Times.

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Os republicanos não querem salvar empregos

Bilhões para o petróleo, nada para enfermeiros e professores

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As recentes perdas de empregos nos Estados Unidos foram nada menos que apocalípticas. Quase 17 milhões de trabalhadores —mais de 10% da força de trabalho-- solicitaram o seguro-desemprego em apenas três semanas. Economistas independentes sugerem que a taxa de desemprego já pode estar perto de 20%, o que é semelhante a seu nível nas profundezas da Grande Depressão.

E como o governo Trump e seus aliados estão reagindo a essa crise de empregos gerados pela Covid-19? Eles a estão levando a sério? Ou estão fazendo o que fizeram quando a pandemia se espalhou —hesitando e recusando-se a tomar as medidas necessárias, por alguma combinação de pensamento positivo com mesquinharia política?

Você provavelmente pode adivinhar a resposta.

Segundo todos os relatos, Donald Trump, que insistiu até muito tarde no jogo de que o coronavírus não seria um problema, agora está obcecado pela ideia de reabrir a economia dentro de poucas semanas —medida que, segundo os epidemiologistas, seria desastrosa. Ao mesmo tempo, ele hesita em agir para ajudar o país a enfrentar o fechamento econômico prolongado de que realmente precisamos.

Assim, o governo Trump descartou categoricamente qualquer socorro aos correios dos EUA, que estão em crise financeira. Além de ser uma parte essencial da vida de nossa nação —ainda mais do que o habitual nestes tempos, quando as remessas postais se tornaram uma tábua de salvação essencial para as famílias confinadas em casa—, os correios empregam 600 mil trabalhadores. Mas aparentemente estes não contam.

É claro que Trump é famoso por ser hostil aos correios, porque acredita (erradamente) que subsidiam a Amazon, cujo fundador, Jeff Bezos, é dono do jornal The Washington Post.

De maneira mais ampla, um alívio adicional dos impactos econômicos da Covid-19 está parado no Senado porque os republicanos, com apoio da Casa Branca, se recusam a incluir ajuda a hospitais e governos estaduais.

Os hospitais obviamente desempenham um papel vital no confronto à pandemia; eles também empregam mais de 5 milhões de pessoas —e estão enfrentando uma crise financeira graças à pandemia. Os governos estaduais e locais, que geralmente são obrigados a equilibrar seus orçamentos, viram a receita e as despesas aumentarem —e empregam quase 20 milhões de pessoas, a maioria delas na educação. Mas, novamente, esses empregos parecem não contar.

Na verdade, muitos conservadores provavelmente acreditam que os trabalhadores do setor público, muitos deles representados por sindicatos, não contam ou não deveriam contar.

No entanto, embora o governo Trump se recuse a ajudar instituições pressionadas que empregam cerca de 25 milhões de americanos, ele se esforçou ao máximo para ajudar a indústria do petróleo.

O possível sucesso de Trump em intermediar um acordo para reduzir a produção global de petróleo —digo "possível" porque os preços do petróleo não mudaram muito, o que sugere que os mercados não estão impressionados— ganhou manchetes na segunda-feira (13). Mas não tenho visto muitos comentários sobre como é estranho um presidente dos EUA desempenhar esse papel.

Primeiro, desde quando é função do presidente organizar cartéis internacionais?

Segundo, por que os preços mais altos do petróleo são do interesse nacional dos EUA? Não somos um grande exportador de petróleo --na verdade, importamos mais do que exportamos. E se o cartel de Trump fosse realmente bem-sucedido em elevar os preços do petróleo ao que eram antes da atual guerra de preços, os consumidores americanos pagariam um preço muito alto, na ordem de US$ 200 bilhões por ano.

Então, por que apoiar os preços do petróleo é uma prioridade? Trump diz que tem a ver com empregos. Mas a extração de petróleo e gás nos EUA emprega apenas cerca de 150 mil trabalhadores. Isso representa menos de 1% do número de empregos que o país perdeu nas últimas três semanas. É apenas cerca de 0,1% do total de empregos nos EUA. É um erro de arredondamento em comparação com os empregos ameaçados nos hospitais e governos locais, que Trump se recusa a ajudar.
Então, o que torna o petróleo digno de ajuda quando os hospitais não o são?

Uma resposta é que os investidores puseram muito dinheiro no petróleo, apesar de poucos empregos terem sido criados. Os ativos fixos líquidos na extração de petróleo e gás são de aproximadamente US$ 1,8 trilhão, quase o dobro do total para hospitais, apesar do emprego bem menor. Então, talvez não se trate de proteger empregos, mas de proteger o capital.

E esse capital é muito favorável ao Partido Republicano: o setor de petróleo e gás faz grandes contribuições políticas, quase 90% delas para os republicanos. A propósito, isso contrasta fortemente com a educação, que responde pela maioria dos empregos estaduais e municipais e dá a maioria de suas contribuições aos democratas.

Finalmente, enquanto os EUA não são exportadores líquidos de petróleo, a Rússia e a Arábia Saudita são basicamente petroestados que exportam petróleo e quase nada mais. Portanto, sustentar os preços do petróleo é uma maneira de Trump ajudar seus dois autocratas favoritos.

Em suma, a resposta de Trump às consequências econômicas da Covid-19 é muito parecida com sua resposta atrapalhada ao próprio vírus. Ele está negando o problema; está bloqueando ações essenciais por causa de vinganças políticas pessoais; e seu partido se opõe à ajuda desesperadamente necessária por causa de sua ideologia antigovernamental.

A economia de enfrentar uma pandemia não poderia ser fácil. Mas Trump e companhia quase certamente tornarão as coisas ainda piores do que deveriam ser.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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