Paul Krugman

Prêmio Nobel de Economia, colunista do jornal The New York Times.

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Paul Krugman
Descrição de chapéu The New York Times

Os perigos da mesquinhez plutocrática

Titãs da tecnologia estão perdendo a antiga adulação

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The New York Times

Os sultões do Vale do Silício estão irritados com a política, e alguns bilionários se voltam repentinamente contra os democratas. Não é só Elon Musk. Outros atores proeminentes, como Jeff Bezos, atacaram o governo Biden, e agora sabemos que Larry Ellison, da Oracle, participou de uma ligação com Sean Hannity e Lindsey Graham sobre derrubar a eleição de 2020.

O momento dessa virada à direita de alguns aristocratas tecnológicos é notável, diante do que está acontecendo na política dos Estados Unidos. Por exemplo, é difícil imaginar em que tipo de bolha Musk vive para declarar os democratas "o partido da divisão e do ódio", num momento em que Tucker Carlson, que não é político, mas ainda é uma das figuras mais influentes do Partido Republicano moderno, dedica vários programas à "teoria da substituição", a afirmação de que as elites liberais estão deliberadamente trazendo imigrantes para os Estados Unidos para alijar os eleitores brancos. (Pesquisas mostram que quase metade dos republicanos concorda com essa teoria.)

Elon Musk no Met Gala - Angela Weiss - 2.mai.2022/AFP

Os plutocratas que protestam contra os democratas também são notavelmente mesquinhos; nada revela um "titã industrial visionário" quanto enviar emojis de cocô. Mas a mesquinhez pode realmente ser central para a história política. O que está acontecendo aqui, creio, não tem a ver principalmente com ganância (embora isso também). Não, trata-se principalmente de egos frágeis.

É verdade que alguns interesses econômicos reais estão em jogo. Os democratas propuseram novos impostos para os ricos, enquanto o presidente Biden nomeou autoridades conhecidas por defenderem uma política antitruste muito mais forte. Também é verdade que as ações de tecnologia caíram substancialmente nos últimos meses, reduzindo a riqueza em papel de magnatas como Musk e Bezos.

Mas, nesta altura, estas parecem políticas marginais. Mesmo que os democratas superem as probabilidades e mantenham o controle do Congresso em novembro, não há perspectiva real de uma campanha do tipo New Deal contra a desigualdade extrema. Além disso, qualquer política redistributiva concebível ainda deixaria os bilionários incrivelmente ricos, capazes de comprar tudo o que quisessem (exceto, talvez, o Twitter).

O que a riqueza nem sempre pode comprar, entretanto, é admiração. E essa é uma área em que os titãs da tecnologia sofreram grandes perdas.

Deixe-me ser um nerd por um minuto. Pelo menos desde a obra de Max Weber, há um século, os cientistas sociais perceberam que a desigualdade social tem múltiplas dimensões. No mínimo, precisamos distinguir entre a hierarquia do dinheiro, na qual algumas pessoas possuem uma parcela desproporcional da riqueza da sociedade, e a hierarquia do prestígio, em que algumas pessoas são especialmente respeitadas e admiradas.

As pessoas podem ocupar posições muito diferentes nessas hierarquias. Lendas do esporte, estrelas pop, "influenciadores" de rede social e, sim, ganhadores do Nobel geralmente se saem bem financeiramente, mas sua riqueza é sem dúvida um troco em comparação com as grandes fortunas de hoje. Os bilionários, por outro lado, exigem deferência, até mesmo servilidade, daqueles que dependem de sua generosidade, mas poucos são figuras públicas amplamente conhecidas e menos ainda têm bases de fãs dedicados.

A elite tecnológica, porém, tinha tudo. Sheryl Sandberg, do Facebook, foi por algum tempo um ícone feminista. Musk tem milhões de seguidores no Twitter, muitos deles seres humanos reais e não bots, e esses seguidores com frequência são defensores ardentes da Tesla.

Agora o brilho sumiu. As redes sociais, antes aclamadas como uma força pela liberdade, hoje são denunciadas como vetores de desinformação. A onda de sucesso da Tesla foi prejudicada por histórias de combustão espontânea e acidentes de piloto automático. Os magnatas da tecnologia ainda possuem grande riqueza, mas o público –e o governo– não está oferecendo o antigo nível de adulação.

E isso os está enlouquecendo.

Já vimos esse filme. Em 2010, grande parte da elite de Wall Street, em vez de sentir gratidão por ter sido socorrida, foi consumida pela "raiva de Obama". Os mascates financeiros ficaram furiosos por, na opinião deles, não receberem o respeito que mereciam depois de, hum... quebrar a economia mundial.

Infelizmente, a mesquinhez plutocrática é importante. Dinheiro não pode comprar admiração, mas pode comprar poder político; é desanimador que parte desse poder seja empregado em nome de um Partido Republicano que se afunda cada vez mais no autoritarismo.

Eu já mencionei que a reunião mais recente do encontro de direita CPAC, que incluiu um discurso em vídeo de Donald Trump, foi realizado na Hungria sob os auspícios de Viktor Orban, que efetivamente matou a democracia de seu país?

A virada à direita de alguns bilionários da tecnologia também é, posso dizer, muito idiota.

É verdade que os oligarcas podem ficar muito ricos sob autocratas como Orban ou Vladimir Putin, que grande parte da direita americana admirava profundamente até que ele começou a perder sua guerra na Ucrânia.

Mas hoje em dia os oligarcas da Rússia estão aterrorizados, segundo muitos relatos. Pois mesmo a grande riqueza oferece pouca segurança contra o comportamento errático e a vingatividade de líderes não limitados pelo estado de direito.

Não que eu espere que gente como Musk ou Ellison aprenda alguma coisa com essa experiência. Os ricos são diferentes de você e de mim: geralmente estão cercados de pessoas que dizem o que eles querem escutar.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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