Pedro Hallal

É epidemiologista, professor da Escola Superior de Educação Física da Universidade Federal de Pelotas e coordenador do Epicovid-19, o maior estudo epidemiológico sobre coronavírus no Brasil.

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Pedro Hallal

Nossa bandeira está vermelha: de sangue

Alguns leitores desta coluna, seus familiares e amigos morrerão por causa da manifestação ocorrida na avenida Paulista no dia 1 de maio de 2021

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Mais de 400 mil brasileiros já morreram de Covid-19, dos quais 300 mil poderiam estar vivos, não fosse a vexatória postura anticiência do governo brasileiro. Na semana que passou, perdi dois amigos, que não se conheciam, mas coincidentemente compartilhavam o apelido de “Bola”. Distantes pelos 4.300 km que separam Pelotas (RS) de Natal (RN), eles deixam familiares e amigos em luto. É em homenagem a eles que escrevo a coluna de hoje, com lágrimas nos olhos, de tristeza e de indignação.

Na sexta-feira, dia 30 de abril, um estudo liderado por pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas e da Universidade de Harvard trouxe dados animadores. As mortes nos idosos com 80 anos ou mais reduziu consideravelmente no Brasil, como consequência da vacinação. Como a ciência vinha dizendo faz tempo, a vacinação funciona, no mundo todo e, também no Brasil. Os dados da pesquisa mostram que mais de 14 mil vidas, só de idosos de 80 anos ou mais, já foram salvas pela vacinação.

Os resultados dessa pesquisa são daqueles que nos enchem de esperança. Começamos finalmente a enxergar a luz no fim do túnel.

E então chega o Dia do Trabalhador, 1º de maio de 2021. Vinte e sete anos após a morte de um de nossos maiores ídolos, o saudoso Ayrton Senna, o 1º de maio volta a nos entristecer. Milhares de pessoas fizeram uma manifestação na avenida Paulista, defendendo esquisitices como a volta do voto em papel, intervenção militar e fechamento do Supremo Tribunal Federal.

Por mais absurdas que sejam as próprias pautas defendidas por essa gente, nada se compara ao crime de causar uma aglomeração dessa magnitude em meio a uma pandemia. Alguns leitores desta coluna, seus familiares e amigos, morrerão por causa da manifestação ocorrida na avenida Paulista no dia 1º de maio de 2021.

Mesmo para um epidemiologista, leigo em direito, é evidente que não presenciamos crimes culposos (sem intenção), e sim crimes dolosos (com intenção). As pessoas que envergonharam as cores da nossa bandeira na avenida Paulista sabem que estamos em pandemia, sabem da necessidade do distanciamento, sabem da importância das máscaras, e agiram assim mesmo. Apertaram o botão do F..., não arriscando apenas suas próprias vidas, mas fazendo roleta russa com a vida de milhares de brasileiros.

Movidas pelo ódio, cada vez mais isoladas e incapazes de assumir o erro delas próprias, essas pessoas foram às ruas, usando seus corpos como armas, e protagonizaram um dos momentos mais ridículos da história desse país. As selfies compartilhadas com orgulho, por políticos e lunáticos, serão vistas e criticadas no mundo todo e provavelmente acabarão no Tribunal de Haia.

Falaram tanto que a nossa bandeira jamais seria vermelha, que agora conseguiram até isso –a bandeira brasileira está vermelha: DE SANGUE. Sangue das vítimas dessa gente que, voluntariamente, decidiu ir à avenida Paulista, no Dia do Trabalhador, promover a disseminação do vírus.

Em vários grupos de WhatsApp e nas redes sociais, é possível acessar a identidade e até o telefone dos organizadores do crime. As autoridades policiais, o Legislativo e o Judiciário precisam punir, exemplarmente, os envolvidos nesse assassinato em massa, ocorrido no dia 1º de maio de 2021 na avenida Paulista.

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