Pedro Hallal

É epidemiologista, professor da Escola Superior de Educação Física da Universidade Federal de Pelotas e coordenador do Epicovid-19, o maior estudo epidemiológico sobre coronavírus no Brasil.

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Pedro Hallal

Ciência 10 x 0 Negacionismo

Estudo em Serrana (SP) confirma o que a ciência vem dizendo há tempos: vacinação acelerada e em massa pode nos salvar do coronavírus

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Os dados recém-divulgados do estudo conduzido pelo Butantan na cidade de Serrana (SP) são animadores, por uma série de motivos. Em primeiro lugar, confirmam que a vacinação acelerada e em massa pode nos salvar do coronavírus. Poucas semanas depois de a população ser vacinada, os casos, as hospitalizações e as mortes despencaram, assim como já havia sido reportado em países que estão vacinando rapidamente sua população, como Israel, Chile, Estados Unidos e Uruguai.

Em segundo lugar, os resultados confirmam que a vacina do Brasil funciona. A mesma vacina que foi boicotada e ironizada pelo presidente da República agora comprova, na vida real, que está salvando milhares de vidas de brasileiros todos os dias. Méritos para o governador do Estado de São Paulo, João Dória, que ouviu a ciência e resistiu aos ataques contra a vacina vindos do Palácio do Planalto.

Em terceiro lugar, esses dados ajudarão na decisão da Organização Mundial da Saúde em chancelar a vacina do Brasil (Coronavac), fazendo com que todos os países aceitem a vacinação com a Coronavac como passaporte de imunidade.

Não posso deixar de registrar aqui a minha satisfação, como cientista, por constatar que, mais uma vez, a ciência ganhou do negacionismo. Lembram o presidente dizendo que não se vacinaria? Lembram o presidente dizendo que os vacinados poderiam virar jacaré? Perdeu mais uma vez, como já virou rotina.

E lembram quando nós, pesquisadores, sempre dizíamos que a pandemia seria controlada quando aproximadamente 70% da população fosse vacinada? O estudo em Serrana (SP) confirma exatamente o que dizíamos, e por enquanto, não houve relatos de pessoas vacinadas virando jacarés.

O mais grave é que 95,5 mil mortes poderiam ter sido evitadas caso o governo brasileiro não tivesse boicotado as ofertas iniciais da Pfizer e do Butantan. Essa aposta no negacionismo em detrimento da ciência equivaleu a uma aposta na morte em detrimento da vida.

Leitores que perderam o emprego durante a pandemia. Leitores que tiveram que fechar suas empresas durante a pandemia. Leitores que pagam preço de ouro por carne, feijão e arroz. Leitores que pagam um valor absurdo pelo gás de cozinha. Leitores inconformados com o dólar e com a gasolina acima de R$ 5. Se o governo federal tivesse investido na vacinação lá atrás, nada disso estaria acontecendo. Nenhum lugar do mundo conseguiu recuperar a economia sem controlar a pandemia.

Dezenas de milhares de pessoas foram às ruas no final de semana que passou, fazendo um apelo desesperado pela vida, em detrimento da morte. Uma marcha fúnebre coletiva, de gente que não aguenta mais perder parentes e amigos pela negligência do governo federal.

Meu desejo é que com o avanço do trabalho da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) e com esses novos resultados, incluindo o do estudo de Serrana, o governo brasileiro deixe de ser moleque e passe a ouvir a ciência de uma vez por todas. Ou que peça para sair, como já deveria ter feito há meses, o que teria salvado a vida de milhares de brasileiros.

A lamentável decisão da Conmebol, apoiada pelo governo federal, de sediar a Copa América de Futebol no Brasil, é um desrespeito e um deboche com as mais de 460 mil famílias brasileiras em luto pela perda de seus entes queridos. Como um apaixonado por futebol, assisto com tristeza a desconexão cada vez mais gritante entre o futebol e o povo.

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