Pedro Hallal

É epidemiologista, professor da Escola Superior de Educação Física da Universidade Federal de Pelotas e coordenador do Epicovid-19, o maior estudo epidemiológico sobre coronavírus no Brasil.

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Pedro Hallal

Uma inveja saudável

Reabertura definitiva no Brasil depende de aceleração da vacinação e da redução de casos e mortes por Covid

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O termo inveja é normalmente visto como algo negativo. Sua definição, segundo o Google, remete ao “desgosto provocado pela felicidade ou prosperidade alheia”. A verdade é que nas últimas semanas senti inveja várias vezes. A partir do dia 15 de junho, por exemplo, o estado de Nova York removeu a maioria das restrições causadas pela pandemia, sendo que a data foi celebrada com um show de fogos nos arredores da Estátua da Liberdade. O metrô voltou a funcionar 24 horas por dia. Isso foi possível porque aproximadamente 70% da população do estado já estava vacinada. O estado lançou um pacote de medidas para retomar o turismo, incluindo a proposta de ofertar vacinação para turistas, em plena Times Square.

Na Europa, o campeonato europeu de seleções de futebol celebra o retorno da torcida aos estádios. Vamos admitir que, mais do que o futebol apresentado pelas seleções europeias, ver os estádios com público dá inveja, não dá? Na França, a capital Paris também começou a reabrir suas portas. Restaurantes, bares, museus, cinemas e teatros retomaram progressivamente as atividades a partir do dia 19 de maio.

Nas próximas semanas, notícias como essas serão cada vez mais frequentes, e nosso nível de inveja tende a crescer. Mas afinal, o que falta para que cheguemos nesses patamares?

FILE Ñ Maskless customers at a cafe in Paris on May 19, 2021. Nearly 45 percent of the population in France has received at least one dose of a vaccine. (Andrea Mantovani/The New York Times)
Clientes sem máscaras fazem refeição em café em Paris, na França - Andrea Mantovani - 19.mai/The New York Times

Em primeiro lugar, precisamos controlar a pandemia. Não há viabilidade de retomada econômica sem controle da transmissão. O Brasil é um dos poucos países do mundo em que os casos, as hospitalizações e os óbitos não estão caindo, o que inviabiliza a adoção de medidas mais flexíveis. Existem duas maneiras de atingir isso: (1) ao longo de muitos meses, esperando apenas pela vacinação e gerando ainda mais perdas econômicas; (2) rapidamente, em três semanas, permitindo a retomada econômica mais rápida e sustentada.

Estranhamente, no Brasil, alguns representantes do próprio setor produtivo defendem a primeira opção, aquela que mais prejudica a economia do país. Seria desconhecimento, negacionismo ou há outros interesses menos republicanos?

Em segundo lugar, a reabertura definitiva depende de aceleração da vacinação. Infelizmente, o Brasil ocupa sistematicamente posições entre 70º e 80º na corrida global das vacinas, com um percentual muito pequeno da população vacinada.

Para realmente reabrir a economia, não adiantará mentir que somos o 4º país nessa corrida: precisamos realmente nos tornar uma potência mundial na vacinação, como já fomos no passado.

Quando esses dois requisitos forem cumpridos –redução dos casos, das hospitalizações e das mortes, e aceleração da vacinação–, aí sim será a hora de reabrir o Brasil, de verdade.

Mesmo que ainda pareça distante, fica a pergunta: do que estamos com mais saudades?

Dos shows de música?

Das tretas ao vivo, para substituir as tretas na internet?

Das torcidas nos estádios de futebol?

Das viagens?

Das festas de aniversário?

Das baladas?

Dos cinemas?

De ver as crianças brincando livremente na rua?

Das filas?

Dos cultos religiosos?

Eu devo admitir que tenho a resposta na ponta da língua:

O que mais faz falta são os abraços.

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