Pedro Hallal

É epidemiologista, professor da Escola Superior de Educação Física da Universidade Federal de Pelotas e coordenador do Epicovid-19, o maior estudo epidemiológico sobre coronavírus no Brasil.

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Pedro Hallal
Descrição de chapéu Tóquio 2020

Os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 Asterisco

Nos livros de história, sempre haverá um asterisco para explicar que os Jogos Olímpicos de 2020 ocorreram em 2021

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O brasileiro é apaixonado por esportes; faz parte da nossa cultura. Mesmo com a pandemia, que fará com que os Jogos Olímpicos de 2020 sempre contenham um asterisco para explicar que ocorreram em 2021, a população brasileira tem conseguido assunto para concorrer com a pandemia nas conversas da família, nos papos entre amigos, nas redes sociais, nos grupos de WhatsApp.

Tudo começou com os esportes estreantes em Jogos Olímpicos. O skate teve tanto conquistas inesquecíveis, como as medalhas de prata de Kelvin Hoefler no masculino e da fadinha Rayssa Leal no feminino, quantas tretas calorosas, seja entre skatistas brasileiros, seja nas contestações referentes às notas dos atletas japoneses. No surfe, o campeão mundial Italo Ferreira conquistou o ouro olímpico, mas foi o semifinalista Gabriel Medina que liderou as tretas: primeiro com a briga com o Comitê Olímpico Brasileiro pela impossibilidade de ser acompanhado pela esposa nos Jogos Olímpicos, depois pelas polêmicas notas em suas baterias.

Como sempre, o judô trouxe medalhas para o Brasil. Mayra Aguiar tornou-se a primeira atleta brasileira a conquistas três medalhas olímpicas, enquanto Daniel Cargnin conquistou um bronze tão emocionante quanto inesperado. E as tretas continuaram: a eliminação da judoca Maria Portela foi recheada de polêmicas. Ela não se conteve e emocionou o país com lágrimas que foram compartilhadas por muitos que assistiram sua entrevista.

Na ginástica artística, estávamos acostumados a torcer pelos brasileiros, mas ver o domínio da Romênia (para os mais “experientes”), da Rússia e dos Estados Unidos (para os mais jovens). Agora tudo mudou: os outros países é que se encantaram com o domínio de Rebeca Andrade, certamente o grande nome da ginástica artística nos Jogos de Tóquio. Mas aqui também teve polêmica: a multicampeã Simone Biles desistiu da maioria das provas por questões de saúde mental, trazendo esse tema tão relevante para o centro das discussões.

Talvez a conquista mais inesperada e emocionante tenha vindo de onde menos se esperava. A dupla de tênis feminino Laura Pigossi e Luísa Stefani foi convocada de última hora e brilhou. Mesmo com ranking bem inferior, foram batendo as adversárias e tiveram chance inclusive de vencer a semifinal e brigar pelo ouro. Voltaram para a disputa do bronze e conquistaram uma virada improvável, após estarem perdendo o set de desempate por 9x5.

No boxe, o Brasil já havia garantido pelo menos duas medalhas, mesmo antes de serem encerradas as competições. Além dessas duas medalhas, há outras chances, inclusive o favoritismo para o ouro da pugilista Beatriz Ferreira. Na natação, o Brasil conquistou duas medalhas de bronze, uma inesperada (com Fernando Scheffer) e outra numa linda história de superação (com Bruno Fratus).

O Brasil ainda tem chances reais de muitas medalhas e deve quebrar o recorde total de 19 medalhas obtidos nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016. As próximas madrugadas prometem.

Dito isso, precisamos falar de um tema que unifica as necessidades da ciência e do esporte brasileiro. Assim como não adianta valorizar a ciência apenas durante a pandemia, não adianta valorizar o esporte somente durante os Jogos Olímpicos. As conquistas científicas e esportivas têm em comum a necessidade de trabalho de longo prazo, e não é possível fazer ciência ou esporte de ponta sem investimentos financeiros decentes.

As políticas brasileiras de incentivo à ciência e ao esporte são pífias e absurdamente subfinanciadas. É maravilhoso comemorar as medalhas da Rebeca ou a vacina do Butantan, mas, para que essas façanhas deixem de ser exceção para virar rotina, é preciso investimento contínuo e volumoso.

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