Pedro Diniz

Jornalista com formação em comunicação audiovisual pela Universidade de Salamanca (Espanha).

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Pedro Diniz

Fala-se em reviravolta, conquista e crescimento, mas o que a compra de 50,1% da São Paulo Fashion Week por um fundo árabe significa é a última chance de o evento sair de um modelo engessado para virar plataforma que integre a cidade fora da bolha fashionista.

Nos 22 anos da semana de moda paulistana, foram poucas as vezes que moradores e turistas puderam acompanhar o que se passava dentro do prédio da Bienal do Ibirapuera, onde ocorre a maioria das apresentações e só se entra com convite. E isso explica, em parte, o desinteresse do público com a moda.

Despertar desejo por meio do acesso restrito, uma fórmula que as maiores semanas de moda do mundo estão repensando, não apenas afastou o público comum como também esvaziou os cofres do evento. Sem público expressivo, os patrocinadores começaram a debandar.

Essa situação se agravou com escolhas estratégicas erráticas, desde as mudanças de datas e local até a inconstância da programação de marcas, que sofriam os efeitos da recessão e passaram a enxergar a passarela como custo extra.

Até meados de 2013, filas intermináveis se formavam na porta da Bienal e, se a lábia fosse boa o suficiente, pelo menos a entrada nos corredores de estandes e “lounges” entulhados de brindes estava garantida. O desfile era objeto de desejo de quem conseguia entrar no prédio, mas se o convite não chegasse, a foto ao lado da celebridade compensava o entrevero.

Exposições, shows, palestras, minicursos, feira gastronômica. Não importa quantas atividades extras os novos sócios queiram implementar no calendário, sem o acesso do público, a SPFW continuará restrita à parcela de profissionais que resistem aos altos e baixos do evento.

Vender ingressos para desfiles, uma das alternativas aventadas na semana passada, não parece alternativa viável por causa da desproporcionalidade entre oferta de assentos e custo operacional.

O investimento de quase R$ 200 mil em uma apresentação de porte médio só traria retorno financeiro se o ingresso custasse mais de R$ 800, considerando que uma sala comporta pouco mais de 250 pessoas sentadas. Quem pagaria o preço por 15 minutos de um vaivém de modelos?

Além de a conta não fechar, o Brasil seria o primeiro país no circuito internacional de desfiles a adotar a estratégia, uma jabuticaba que custaria a credibilidade da plataforma.

Recai sobre a organização a responsabilidade de engendrar parcerias com a prefeitura e o governo do estado, como acontece em qualquer semana de moda do mundo, para expandir o território do evento para muito além da extensão do parque, há tempos mal aproveitado pelas marcas.

Sem um plano de patrocínio de médio prazo, praxe em grandes eventos culturais, a semana de moda continuará à mercê do humor dos departamentos de marketing, do troca-troca de lideranças políticas e do acanhamento dos empresários de moda brasileiros.

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