Pedro Diniz

Jornalista com formação em comunicação audiovisual pela Universidade de Salamanca (Espanha).

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Pedro Diniz

De norte a sul, moda tem falta de insumos e prevê baque para Dia dos Namorados

Setor estima queda de até 70% na produção; Ceará relata 800 toneladas de matéria-prima parada

A greve dos caminhoneiros afeta a indústria da moda em meio à operação para o Dia dos Namorados, comemorado no dia 12 de junho, cujas vendas injetam quase R$ 11 bilhões na economia.

Do norte ao sul do país, fábricas de vestuário e indústrias de insumos têxteis operam com queda de até 70% na capacidade de produção, segundo a Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção).

Cálculos iniciais da entidade estimam que desde o início da greve o baque no faturamento do setor em todo o país, excluindo impostos, pode chegar a R$ 1,4 bilhão, cerca de R$ 241 milhões por dia. 

As perdas se devem a fatores que vão desde a falta de funcionários impossibilitados de chegar ao local de trabalho até a escassez de matéria-prima, presa nos caminhões. O segmento da moda, do plantio à loja, depende quase totalmente do transporte de carga por rodovias.

No Ceará, cuja indústria produz 610 milhões de peças e 183 mil toneladas de matéria-prima por ano, a presidente do Sindicato da Indústria de Fiação e Tecelagem do Estado, Kelly Whitehurst, estima em 800 toneladas os tecidos e insumos parados nas estradas.

De acordo com Whitehurst, o Sindiroupas, sindicato que representa os confeccionistas de moda masculina do estado, informou que distribuidores e atacadistas estão ficando sem estoque.

Se a greve acabasse neste sábado (26), as operações atingiriam a normalidade em 30 dias.

A mais de 4.000 quilômetros da capital cearense, parte importante da indústria calçadista do Rio Grande do Sul não consegue entregar a produção.

Em Três Coroas, município a 92 km de Porto alegre e que concentra o maior número de fábricas da indústria coureira do país, as multinacionais já haviam diminuído em 60% a produção até a sexta-feira (25).

Segundo o presidente do Sindicato da Indústria do Calçado de Três Coroas, Werner Júnior, empresas de peças sintéticas para finalização de sapatos com filias no nordeste não estão conseguindo abastecer as fábricas para a confecção dos itens.

“Algumas fábricas devem parar até a segunda-feira (28)”, diz Júnior.

O atraso nas entregas para reposição de estoque de varejistas começou a afetar o comércio de São Paulo, que atravessa período de troca de coleções e já comunica peças publicitárias para o Dia dos Namorados. Além do movimento fraco, supervisores relatam falta de estoque.

Na sexta, duas lojas de um shopping da região da Paulista já enfrentavam problemas com a grade de numeração. Em uma delas, especializada em lingerie, os funcionários receberam um comunicado de que não há previsão para reposição de peças, que costumam chegar três vezes por semana.

Em um ponto de roupas de frio, no mesmo shopping, o problema é a saída do excedente da coleção passada, entulhado no depósito e sem previsão de desova, fator que dificulta o recebimento de novos produtos.

Grandes varejistas trabalham para mitigar possíveis perdas. A C&A, por exemplo, mudou os fluxos dos horários de trabalho e das entregas em um regime de “operação especial”. Por meio de sua assessoria, a marca afirma que, por enquanto, nenhuma loja corre risco de desabastecimento, mas monitora a situação para “avaliar possíveis desdobramentos”.

Segundo o presidente da Abit, Fernando Pimentel, as enormes perdas da indústria da moda devem parar só daqui um mês porque, ao mesmo tempo que diminuem a produção gradativamente, as fábricas recuperam o ritmo com a mesma velocidade.

“Todo esse problema [da greve dos caminhoneiros] é mais uma prova de que não há um plano para nossa nação, que discute problemas bizantinos enquanto o mundo dá um salto de inovação”, lamenta o executivo.

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