Pedro Diniz

Jornalista com formação em comunicação audiovisual pela Universidade de Salamanca (Espanha).

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Descrição de chapéu

Moda nacional deixa escapar filão LGBTQ enquanto mundo pinta o arco-íris

Apenas a grife carioca Reserva e a varejista gaúcha Renner aderiram ao movimento

Sunga da coleção especial da Speedo criada em homenagem ao mês do orgulho LGBTQ
Sunga da coleção especial da Speedo criada em homenagem ao mês do orgulho LGBTQ - Reprodução

O filão do consumo LGBTQ parece não interessar à moda nacional, mesmo o poder de compra da comunidade atingindo, só no país, R$ 420 bilhões por ano, segundo estudo da associação Out Leadership.

Neste mês, quando as marcas estrangeiras já começam a levantar o arco-íris nas vitrines e no vestuário colorido, as grifes brasileiras deixam escapar o “pink money”, ou “dinheiro rosa”, a dois dias da maior parada mundial do Orgulho, que ocorrerá em São Paulo, neste domingo (3).

Apenas a grife carioca Reserva e a varejista gaúcha Renner aderiram ao movimento. Ainda que timidamente, a marca masculina estampou um pica-pau colorido em dois modelos de camiseta, e a rede de fast-fashion, expressões como “lacre” e “arrasou” em uma série de itens coloridos.

Em São Paulo, as etiquetas internacionais mostram que saíram na frente no apoio à diversidade. A americana Calvin Klein preparou kits de cuecas (R$ 239) e calcinhas coloridas (R$ 229) para reverter 10% da renda obtida em benefício da Casa 1, entidade paulistana que acolhe LGBTs vulneráveis. A vitrine da rua Oscar Freire, nos Jardins, já exibe as sete cores que identificam a data.

Estratégia semelhante segue a varejista holandesa C&A, que repete o lançamento de uma coleção especial para o mês do Orgulho. Desta vez, o destaque é o casaco corta-vento borrifado de tinta colorida (R$ 140) cujo capuz tem a bandeira do arco-íris estampada.

Prova da rentabilidade dessas coleções é a Levi’s. Patrocinadora de marchas pela igualdade em Londres (Inglaterra), Madri (Espanha) e Estocolmo (Suécia), a grife americana lançou uma extensa linha de jaquetas, camisetas e bermudas para sua Pride Collection.

Mal chegaram às lojas paulistanas, na sexta-feira (25), e as peças já minguaram dos estoques. Num shopping da capital, resta apenas um exemplar do item mais caro, a jaqueta (R$ 389) bordada nas costas com o arco-íris e o escrito “tenho visto o futuro”.

No segmento do luxo, a britânica Burberry enviou a São Paulo alguns modelos de sapato (R$ 1.950) e camisa da coleção, desfilada em fevereiro, em que o xadrez característico da marca recebeu as linhas coloridas do arco-íris. Num shopping da zona oeste, os calçados esgotaram em cinco dias.

A coleção completa, que reverencia a comunidade LGBTQ e cuja campanha mostra cenas de amor homoafetivo, desembarca em julho nas lojas da etiqueta no país.

Entre as grifes esportivas, Speedo, Nike e Adidas são as marcas com investimento contínuo em coleções direcionadas para a comunidade que, só nos Estados Unidos, tem poder de compra estimado em mais de R$ 3 trilhões, segundo relatório da Witek Communications.

Por lá, até a Disney coloriu seu personagem mais famoso em homenagem à causa —​e ao potencial de lucro vinculado a ela. Em abril, as orelhas do Mickey apareceram pela primeira vez tingidas com a bandeira nos chapéus à venda na Califórnia e no Walt Disney World Resort, em Orlando.

Para além da responsabilidade de estender o conceito de tolerância para as araras, afinal, o setor se autoproclama o mais liberal da cultura e prega, inclusive, o fim da divisão de gêneros na criação, o apoio da moda à causa LGBTQ tem a ver com inteligência de mercado.

São em datas oportunas como essa, quando se pode responder na prática ao extremismo que destila ódio contra minorias cujos bolsos sustentam parte importante do faturamento das marcas moderninhas, que as ideias “revolucionárias” vendidas nos desfiles precisam sair do campo das ideias. O silêncio, aqui, não indica apenas acefalia, mas também cinismo.

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