Pedro Diniz

Jornalista com formação em comunicação audiovisual pela Universidade de Salamanca (Espanha).

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Descrição de chapéu Moda

Alta na receita de conglomerados de moda é prenúncio de nova guerra

Contratações de estilistas e foco em inovação puxam alta de dois dígitos de LVMH e Kering

Coleção masculina primavera/verão da Louis Vuitton, apresentada em Paris em junho - Bertrand Guay/AFP

Após um período de receitas cambaleantes e um papel coadjuvante ante o protagonismo das divisões de perfumes e cosméticos, roupas e acessórios de moda voltaram a figurar no topo das estratégias dos maiores conglomerados franceses e, consequentemente, impulsionaram o bom desempenho de suas grifes no primeiro semestre de 2018.

Os grupos LVMH e Kering, donos das marcas Louis Vuitton e Gucci, respectivamente, apontaram em seus últimos relatórios, divulgados na semana passada, dois dígitos de crescimento cada um em relação ao mesmo período de 2017.

Os motivos que justificaram a alta são prenúncio de uma nova fase na guerra mais antiga do mercado de luxo para ver quem detém o título de grupo mais rentável, mais criativo e mais nobre.

Na dianteira, a LVMH, de Bernard Arnault, faturou 25% a mais em sua divisão de moda, encerrando o semestre com R$ 37,46 bilhões, enquanto a área de perfumes e cosméticos avançou 8%, com R$ 12,5 bilhões. Não há informações sobre qual é a fatia de cada marca no balanço, mas o relatório credita o crescimento ao excelente desempenho das coleções do estilista Nicolas Ghesquière, da Louis Vuitton, assim como as parcerias com as marcas Supreme, de skate, e Rimowa, de malas.

Logo atrás vem o grupo Kering, do empresário François Henri-Pinault, que reportou um crescimento de 26,9% no faturamento de suas marcas de moda em relação ao primeiro semestre de 2017, alcançando R$ 27 bilhões. Desse montante, R$ 16,7 bilhões vêm só das vendas da Gucci, grife que mais cresce no luxo desde a entrada de Alessandro Michele na criação, em 2015.

O que fica evidente a partir desse cenário é que, além de haver mais pessoas dispostas a pagar caro por artigos de vestuário —principalmente nos Estados Unidos e na Ásia, regiões onde o aumento é mais perceptível—, este ano é de grandes investimentos nas divisões de estilo.

Marcar território por meio das coleções de roupas, sejam elas de alta-costura, “resort” ou prêt-à-porter, passou a ser prioridade. A compra da totalidade da Christian Dior pelo grupo LVMH, em abril do ano passado, por R$ 52 bilhões, selou o compromisso de Arnault em transformar a divisão de moda do grupo em um gigante ainda maior.

Modelo veste criação da coleção Gucci cruzeiro 2019, em Arles, França - Bertrand Langlois/AFP

Ao mesmo tempo, neste ano, ele empreendeu três passos importantes no novo foco: a elogiada estreia de Virgil Abloh no comando do masculino da Louis Vuitton, a nova fase da Dior Homme sob a batuta do estilista Kim Jones e o vestido de noiva Givenchy do casamento mais midiático do ano, o da atriz Meghan Markle com o príncipe Harry.

Em setembro, Arnault movimentará mais uma vez o xadrez da moda. A estreia do designer Hedi Slimane no comando da Céline promete ser o desfile mais comentado e a guinada mais importante nos negócios do grupo desde a entrada de Maria Grazia Chiuri na Dior, em 2016.

Foi Slimane quem tirou do limbo a grife Yves Saint Laurent, do grupo Kering, e a transformou numa locomotiva de vendas que, no primeiro semestre de 2018, rendeu R$ 3,5 bilhões.

O mesmo Kering começou agora um movimento de vender suas participações em marcas, como Stella McCartney, que voltará em sua totalidade às mãos da estilista fundadora, e Christopher Kane, cujas ações também serão revendidas ao estilista fundador.

Ao que parece, a estratégia das duas holdings é, na medida do possível, conseguir o controle total de suas marcas, sem divisão de lucros e com investimentos consistentes a longo prazo.

No meio dessa batalha estão Chanel e Hermès, na segunda e terceira posição da lista das grifes mais rentáveis, respectivamente.

A Hermès, mais discreta de todas as marcas, só anunciará os números do semestre em setembro, semanas antes da temporada francesa. Já a Chanel, que pela primeira vez em 108 anos abriu seu faturamento, nadou em R$ 40 bilhões no ano passado.

Os controladores da marca francesa juram que o anúncio teve como propósito “mostrar quem somos”, mas no mercado a palavra IPO  (oferta pública inicial, na sigla em inglês) soa cada vez mais forte.

Quem saiu ganhando em todos os cenários foi Paris, que após o anúncio de que a Gucci trocará Milão por sua semana de moda local na próxima temporada virou, mais uma vez, o epicentro dessa batalha de panos glamorosos.

Em jogo nisso tudo está a carteira dos novos compradores, os “millennials”, e também a dos antigos, que voltaram a pagar qualquer preço em produtos que reúnem design, qualidade e alguma novidade.

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