Pedro Diniz

Jornalista com formação em comunicação audiovisual pela Universidade de Salamanca (Espanha).

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Pedro Diniz

Estilo ultrarrecatado afasta a princesa Mako de sua juventude

Guarda-roupa da neta do imperador japonês que visita São Paulo parece saído de um passado recente

Uma análise apressada do guarda-roupa da princesa japonesa Mako, 26, poderia definir seu estilo como “modest dressing” (vestir modesto). A expressão, cunhada pela moda americana, batiza uma tendência recente de subir golas, alongar mangas e adicionar comprimento às barras das saias, bem ao estilo recatado da série “The Handmaid’s Tale”.

Mas o que revelam as imagens da neta do imperador em visita a São Paulo, nesta semana, como parte das comemorações dos 110 anos da imigração japonesa, são os limites possíveis para a imagem feminina de uma realeza que pretende se mostrar aberta ao novo século.

Os conjuntos azul, branco e florido usados nas cerimônias oficiais pareciam bem longe desse ideal de modernidade que, de acordo com a imprensa internacional, o avô de Mako, o imperador Akihito, quer colar após deixar o trono em abril do próximo ano.

Braços sempre cobertos, colo fechado, "candy colors" e proporções largas mesmo nos conjuntos acinturados parecem saídos de um passado recente, cópias fiéis dos trajes de debutante dos anos 1990, com direito a ombros marcados de plissados ou ombreiras.

Não se trata de defender fendas na barra dos vestidos ou decotes ampliados, mas uma imagem que não transmita uma sensação de anulamento em detrimento do decoro.

É claro que a discrição faz parte da receita de estilo de qualquer família real, mas uma olhada nas escolhas cotidianas de Mako, que parece preferir cores sóbrias, arrisca suéteres e adere ao tailleur, demonstram que seus trajes oficiais são mais como o uniforme de um cargo do que escolhas pessoais.

Essa lógica ficou evidente quando a princesa anunciou, neste ano, ter adiado até 2020 o casamento com o plebeu Kei Komuro, 26, por “imaturidade”. Comenta-se, porém, que a Casa Imperial não estaria satisfeita com supostos problemas financeiros da família do noivo.

Há também um fator de linhagem envolvido na condescendência. O Japão, cuja família real é a mais antiga do mundo, mantém uma regra que faz com que mulheres da nobreza percam o título quando se casam com plebeus. O mesmo não ocorre com os homens.

A “Kate Middleton do Japão”, como tabloides ingleses tacharam a princesa Mako quando ela ainda estudava museologia no Reino Unido, terá de ousar mais se quiser realizar o plano do avô de levar a realeza ao século 21.

Preservar tradições e mostrar respeito pelo passado não significa se encaixar num modelo ultrapassado de beleza, tampouco é inteligente abdicar de uma história riquíssima como a japonesa para copiar um modelo ocidentalizado e, vale dizer, também ultrapassado, de nobreza.

Talvez assumir uma imagem realista, mais próxima da juventude, e se permitir olhar no espelho com bom humor, seja um começo.

A princa Mako no Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, no Ipiranga, nesta terça-feira (24) - Nelson Almeida/AFP
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