Pedro Diniz

Jornalista com formação em comunicação audiovisual pela Universidade de Salamanca (Espanha).

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Descrição de chapéu Moda

Estilista cria versão de kit gay e aborda 'criança viada' em desfile

Rafael Caetano apresenta coleção na Casa de Criadores, em São Paulo, com pugs, glitter e paetês

Pedro Diniz
São Paulo

Se nunca existiu kit gay, o estilista Rafael Caetano resolveu criar um. Se a “criança viada” foi vetada, ele quis deixá-la livre. E se apenas os gays “padrão” são aceitos pela sociedade, então que saiam do armário aqueles fora da curva.

O desfile de inverno 2019 da marca homônima de Caetano, na terça-feira (27/11), durante a Casa de Criadores, foi espécie de protesto pela liberdade de pensamento e de expressão, segundo ele, ameaçadas pelo cenário político brasileiro.

O novo álbum e a turnê homônima de Marina Lima, “Novas Famílias”, serviram de base para a série de peças casuais com escritos relacionados aos temas levantados durante a última campanha presidencial, que elegeu o deputado Jair Bolsonaro (PSL) e trouxe a causa LGBT à superfície.

Da ideia do projeto Escola sem Homofobia, gestado pelo Ministério da Educação em 2004 e cujo teor o presidente eleito atribuiu a Fernando Haddad (PT), o estilista lançou uma espécie de pochete, em formato de estojo escolar. Com letras garrafais e traços pueris, é gravada com o apelido pejorativo “kit gay”.

Em outro look, um moletom rosa combinado a mochila e tênis forrado com glitter, o estilista estampou “criança viada”, referência às telas da artista Bia Leite selecionadas para a mostra “Queemuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira”, retirada de cartaz em Porto Alegre (RS) após o escrutínio de visitantes incomodados com um suposto viés sexual das obras —mas que depois foi exposta no Rio.

“É um desfile político, que se posiciona como uma celebração da liberdade dos gays que não querem se encaixar no visual de homossexualidade aceitável, esse que te coloca no armário de jeans e camisa para que gays pareçam heterossexuais”, explica Caetano.

Grande parte das roupas foi confeccionada em tecidos naturais, como tricoline de algodão e sarjas da Vicunha Têxtil. Listras, brilho e paetês compuseram o discurso imagético do estilista.

Também há referência às “novas famílias”, termo estampado em outro look da coleção e transposto para a seleção de cachorros pequenos aos quais os modelos andavam abraçados.

Os pets foram vestidos com roupas similares às da coleção, com destaque para um moletom de paetês rosa, peça mais vendida na loja virtual do designer e apresentada por um pug na passarela.

Caetano conta que também queria colocar crianças no desfile na Casa de Criadores, mas não conseguiu a a autorização em tempo hábil.

Tanto o kit gay quanto a roupa “criança viada” ainda não têm preço ou data para serem lançados no ecommerce. O estilista, porém, jura que ninguém vai impedi-lo de colocá-los na praça.

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