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Brasil, as travestis estão denunciando suas falhas e autorizando o direito à vida!

A sequência de violências tem chamado atenção para como a realidade dos estados se intercruzam, especificamente no assassinato de pessoas travestis e transexuais

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Jarda Maria Andrade de Araújo

Assistente Social

Pensar no direito ao território nacional a partir de uma experiência travesti tem sido um grande desafio, sobretudo para nós, travestis brasileiras. Vivemos em um Estado que tem protagonizado historicamente, de forma notória, um número alarmante de mortes da população travesti e transexual.

Essas adversidades implicam diretamente na forma que as trans mais novas estão experienciando suas juventudes e quais alternativas têm sido pensadas para sobreviver em um espaço geográfico balizado por violências estruturais e com pouca ou quase nenhuma garantia de segurança.

No Brasil, a sequência de violências tem chamado nossa atenção para como a realidade dos estados se intercruzam, especificamente no que se refere ao assassinato de pessoas travestis e transexuais.

De acordo com o Trans Murder Monitoring (Observatório de assassinatos trans), o Brasil foi considerado, em 2020, o país que mais mata pessoas transexuais e travestis no mundo.

A Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) revelou que, neste ano, São Paulo, Ceará e Bahia são os estados com o maior número de assassinatos de trans. Neste texto, faço um destaque a Pernambuco, lugar onde resido e que, infelizmente, não tem se diferenciado dos demais estados com grandes números de crimes de ódio a travestis e transexuais.

Neste ano, Pernambuco tem sido palco de uma sequência desse tipo de violência. Como no Brasil a expectativa de vida de uma pessoa transvestigênere (transexuais, travestis, não binárias e gênero dissidentes) é de 35 anos, a juventude é uma característica comum entre as vítimas. Vale destacar que pessoas negras e do gênero feminino são as mais afetadas por essa necropolítica.

O horror que se estabeleceu com a sequência de mortes de mulheres transexuais e travestis em menos de um mês ilustra essa realidade. No mês de junho, Kalyndra Nogueira e Roberta da Silva foram assassinadas, com 26 e 33 anos, respectivamente. Em julho, novas vítimas da violência: Crismilly Pérola, com 37 anos, e Fabiana da Silva Lucas, com 30 anos.

A idade de Fabiana ao morrer equivale ao tempo máximo de vida que um cidadão precisa ter para ser considerado jovem no Brasil, segundo o Estatuto da Juventude. No entanto, pessoas travestis e transexuais geralmente são expulsas de casa aos 13 anos, desamparadas pelo sistema de educação e empurradas para a prostituição de forma sistemática.

Em meio a esse contexto que as impedem de viver a infância e a adolescência e com uma expectativa de vida tão baixa, eu questiono: o que é juventude para nós?

A juventude trans brasileira tem sido executada cotidianamente. Há um projeto transgenocida que impede nossa população de ter acesso aos direitos básicos. Ser jovem no Brasil é uma experiência que para nós, população trans e travesti, não tem sido vivida. Não há como construirmos novos horizontes enquanto nossas demandas não forem ouvidas e acatadas.

O projeto de mundo pensado por nossa população é para todas, todos e todes, em que vidas plurais sejam possíveis. Um projeto de mundo no qual as juventudes trans consigam, de forma democrática, ter saúde, educação, empregabilidade e direito à cidade.

Para nós, é exaustivo estar a todo momento retratando esse mesmo lugar que tem reverberado a precariedade e a pauperização. O silêncio sobre nossas mortes sinaliza o desinteresse em pensar, junto conosco, um país onde ser travesti ou transexual não seja um demarcador de morte. Nossos corpos não são passíveis de execução!

Nesse sentido, estamos fortemente unidas para que de forma incisiva possamos pleitear nossos direitos enquanto pessoas trans, plurais e articuladas politicamente. Cobrando dos gestores públicos respostas sobre os casos de violência e a criação de políticas públicas para a população T.

Unidas, estamos fortalecendo nossas articulações e organizações para que de forma coletiva consigamos mudar essa realidade. Queremos nossa presença em todos os espaços, sobretudo nos de gestão. Não há como pensar em algo para nós, sem nós.

Assim, também fazemos o convite para que nossas e nossos aliados pensem conosco sobre as ações necessárias para o rompimento dessa estrutura, que balizada pela perversidade cisgênera e atrelada ao Estado racista colonial, tem tentado a todo momento ceifar nossas vidas.

A luta é por um Brasil com travestis vivas! Um Brasil que pense junto com as travestis, rompendo preconceitos, banalidades e violências. Pensamos em um país onde nossa existência se faça presente em todas as faixas etárias. Que passemos da média de 35 anos sem sermos penalizadas por ousarmos fazer o fundamental: viver!

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