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Eles dependem dos nossos votos, mas não nos oferecem um lugar à mesa

Articulações políticas para disputa presidencial revelam sub-representação da população negra

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Ariel Freitas

Jornalista na Voz das Comunidades e colaborador do PerifaConnection.

"Dizem que só falo das mesmas coisas, é a prova que nada mudou, nem eu, nem o mundo". Pois é, Djonga (rapper autor do trecho acima), dizem que nós falamos sempre das mesmas coisas, essa é a prova verbal que ainda nada mudou.

Nas vésperas de mais um ciclo eleitoral, a frase do artista de Belo Horizonte casa perfeitamente com o cenário padrão deste período: campanhas políticas direcionadas a um discurso de construção social mais justa. Entretanto, à esquerda ou à direita - e também ao centro - a composição majoritariamente branca das articulações que pretendem governar o país apontam que não há espaço ou certa prioridade para as pautas que envolvem a maior parte da população brasileira: a negra.

Como uma música, a verdade mesmo que repercute de maneira repetitiva e enjoativa não deixa de carregar o seu conteúdo. Desta forma, é importante evidenciar que ao mesmo tempo que a distância para as próximas eleições (cerca de quatro meses) diminui, aumenta o afastamento das principais lideranças brasileiras com as pautas relacionadas ao povo preto e periférico.

Mãe Iara, mãe de santo que vive na Restinga Velha há mais de quatro décadas. Ela gere um terreiro e tem mais de cem filhos e filhas de santos - Daniel Marenco - 11 jun.2021

Atualmente, a população do Brasil é formada por cerca de 54% de pessoas consideradas negras, de acordo com a última pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Quando há um espaço "pintado" por cidadãos brancos ou um silêncio vindo de quem é classificado apto a liderar o Executivo a partir de 2023, isso demonstra que, mesmo que exista dependência dos votos afrodescendentes para quem deseja se eleger, não há oferta de um lugar à mesa para essa parcela de brasileiros.

Para nós, pretos, apenas uma lacuna e promessas vazias de representatividade do nosso povo no plano estratégico e de atuação dos principais candidatos ao Planalto.

Hoje, as principais demandas estruturais do Brasil passam pela perspectiva de raça. Entre os motivos disso, estão a crise econômica e social agravada pela pandemia do coronavírus e a péssima gestão do presidente Jair Messias Bolsonaro (PL), que, segundo pesquisa Genial/Quaest, tem 59% de rejeição.

Dentro de todos as etnias, a negra foi a mais afetada nos últimos dois anos em decorrência da Covid-19, como aponta o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) a respeito das consequências da pandemia no trabalho de mulheres, jovens e negros.

Sem a presença de pretos no plano estratégico de quem concorre nas eleições deste ano, como pensar que as problemáticas da população afro serão ouvidas ou resolvidas? Como reverter o quadro da linha de pobreza das mulheres negras chefes de 63% dos lares do país, segundo o IBGE, sem a voz ativa de uma? Há intenção de diminuir o encarceramento em massa dos homens negros, que hoje representam 66,7% dos presos, dois a cada três, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, com ausência de um na gestão? E sobre a evasão ou interrupção escolar dos jovens negros durante a pandemia, que alcançou 45%, segundo o estudo Desigualdade na educação brasileira: ressignificação do abandono escolar no contexto de pandemia, 2022?


Não há espaço para a população negra na mesa, já que o desemprego que alcança 72,9% desta parcela não permite muitas refeições durante o dia para ela. Em meio ao tom repetitivo e importante, é necessário a voz ativa de pessoas afrodescendentes na construção do país.

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